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Alerta de período amplo de transmissão foi feito pela Organização Mundial da Saúde (OMS) nesta quarta-feira (29)
| Foto: Bigstock

Não, a Covid-19 não matou mais de 100 mil pessoas no Brasil, ao contrário do que desinforma um tal de “consórcio de veículos de imprensa” (doravante CVI), com base no que os líderes dos nossos poderes Legislativo e Judiciário, de maneira demagógica e oportunista – pois nenhum brasileiro sensato imagina que, da noite para o dia, esses senhores palacianos passaram realmente a se comover com o destino do povo que sempre ignoraram –, resolveram decretar luto oficial de quatro dias. A quantidade real de mortos por coronavírus (e não apenas com a presença do vírus no organismo) é, segundo calculo, cerca de um terço desse número.

Chego a essa conclusão (de minha exclusiva responsabilidade, escusado dizer) a partir de levantamento feito pela jornalista Cristina Graeml, desta Gazeta do Povo, com base nos números oficiais de óbitos contabilizados no Portal da Transparência dos cartórios de registro civil. Diferentemente do Ministério da Saúde (que se baseia, por sua vez, nas informações repassadas por estados e municípios), o Portal da Transparência dos Cartórios registra o número de óbitos realmente ocorridos em determinado dia, e não os que foram apenas notificados nesse dia. Trata-se de uma diferença crucial.

Baseando-se nos dados do Ministério da Saúde, grande parte da imprensa tem noticiado um número diário de mortes que sempre ultrapassa a casa dos mil. No entanto, esse é um jeito tendencioso de noticiar os números, pois, como foi dito acima, eles não se referem aos óbitos efetivamente ocorridos, mas apenas notificados (cumulativamente) num determinado dia. No dia 4 de agosto, por exemplo, um portal integrante do CVI noticiou 1.394 novas mortes decorrentes da Covid-19. Quando, todavia, consultamos a base de dados dos cartórios de registro civil, descobrimos que o número real de óbitos na referida data foi de 541. Uma discrepância considerável.

A quantidade real de mortos por coronavírus (e não apenas com a presença do vírus no organismo) é, segundo calculo, cerca de um terço do número que vem sendo divulgado

Cristina Graeml encontrou mais coisas interessantes naquela base de dados. Quando consultamos as estatísticas sobre outras causas de morte, descobrimos que, em relação ao mesmo período do ano passado, houve em 2020 uma redução significativa no número registrado de óbitos por infarto, AVC, insuficiência respiratória, septicemia, entre outros. Em relação à pneumonia, sobretudo, os dados são particularmente curiosos.

No período de 16 de março até 12 de agosto de 2019, foram registradas 99.885 mortes causadas por essa doença pulmonar. No mesmo período deste ano, o número caiu para 66.667. Como não parece razoável supor uma redução real de 33.218 mortes por pneumonia de um ano para o outro (algo sem paralelos na série histórica), é de se imaginar que esse número tenha ido parar em algum outro lugar – muito provavelmente, na prateleira estatística das mortes por coronavírus.

Essa foi a hipótese considerada pelo jornalista Guilherme Fiuza em participação na edição de segunda-feira (10 de agosto) do programa Os Pingos nos Is, da rádio Jovem Pan. Analisando a mesma base de dados divulgada por Graeml, Fiuza sugeriu que o número de 100 mil mortes por Covid-19 está mal dimensionado, pois, muito provavelmente, para esse total foram transplantadas as mortes causadas por pneumonia, septicemia, insuficiência respiratória, AVC e infarto. “Essas pessoas tinham Covid, mas não morreram de Covid” – conclui o jornalista, que também escreve para esta Gazeta do Povo.

Fiuza fez o recorte temporal do período entre os dias 16 de março (data do primeiro óbito por Covid registrado no Brasil) e 10 de agosto, data daquela edição de Os Pingos nos Is. O que faço aqui é apenas atualizar essa data final para o dia de hoje, quarta-feira, 12 de agosto.

Consultando, então, o Portal da Transparência do Registro Civil, e comparando o mesmo período de 16 de março a 12 de agosto dos anos de 2019 e 2020, chegamos aos seguintes números: por pneumonia, como já vimos, tivemos 33.218 mortes a menos; por septicemia, 15.413 mortes a menos; por insuficiência respiratória, 3.575 mortes a menos; por AVC, 4.437 mortes a menos; e, por infarto, 8.403 mortes a menos.

Somando tudo isso, temos, de 2019 a 2020, uma diminuição de 65.046 mortes por causas respiratórias e cardíacas. Em lugar de supor que esse número represente uma redução real, é bem mais factível imaginar que ele tenha ido parar dentro do total de 103.421 mortes por Covid-19 registradas até o momento em que escrevo. Se, por uma operação reversa, voltamos a extraí-las desse total, ficamos com 38.375. E a quantidade de brasileiros efetivamente mortos pelo coronavírus até a presente data é, imagino, algo próximo desse número.

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