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Monumento desarmamentista na sede da ONU, em Nova York.
Monumento desarmamentista na sede da ONU, em Nova York.| Foto: Flavio Botana/Pixabay

“A ‘nova ordem mundial’ será aquela que saberá combinar o desarmamento, a segurança, o desenvolvimento e o respeito ao meio ambiente” (François Mitterrand, Conferência do Rio, 1992)

No dia 13 de agosto de 2016, para quem não lembra, o site DC Leaks vazou na internet o conteúdo de centenas de e-mails hackeados das fundações do magnata George Soros. Entre as muitas coisas interessantes reveladas com o vazamento, ficamos sabendo por exemplo que, entre agosto de 2015 e agosto de 2016, o “coletivo” brasileiro Mídia Ninja (rede de mídia supostamente alternativa, famosa por cobrir as manifestações de 2013 e apoiar a ação dos black blocs) recebeu de Soros um financiamento no valor de US$ 80 mil (ou, à época, R$ 250 mil).

Fato pouco notado à época foi que, na planilha em que se discrimina o montante doado, o Mídia Ninja aparece caracterizado como “o olho coletivo para reduzir a violência policial”, cuja missão seria “fortalecer uma estrutura de mídia independente no Brasil visando a reportar, promover discussão e inibir a violência policial contra manifestantes”. Embora a informação possa parecer casual, reside aí, nessa descrição, a razão principal para Soros haver decidido patrocinar um grupelho brasileiro de extrema-esquerda. Na escala de prioridades da Open Society Foundations, a agenda de enfraquecimento global das polícias ocupa, hoje, a primeira posição.

Naquele mesmo ano de 2016, apenas dois meses após o vazamento, a militante pró-desencarceramento Rachel Herzing, bolsista da Open Society, publicou no site da fundação um artigo em que propunha não a melhora, nem a reforma, da polícia, mas simplesmente o seu sucateamento. Raciocinando sobre a premissa neomarxista de que a polícia só existe para garantir os interesses dos poderosos, Herzing escreve: “Sabemos que o modo mais seguro de reduzir a violência policial é reduzir o contato com a polícia. Portanto, em lugar de desenvolver novas ferramentas, incrementar o treinamento ou coletar mais dados que possam aprimorar o policiamento, a nossa missão deveria ser imaginar como diminuir o tamanho e o alcance das forças policiais, reduzir o número de instrumentos à disposição dos policiais e restringir a sua habilidade de nos acossar”.

No ano seguinte, em outubro de 2017, a Open Society promoveu uma conferência intitulada: “Policiando os corpos negros: vidas negras importam? Uma conversa sobre a polícia no Brasil e nos EUA”. Entre os palestrantes convidados, constavam os nomes dos brasileiros Wagner Moreira Campos – membro da ONG Instituto de Desenvolvimento Institucional e Ação Social (Ideias) e advogado do movimento dos sem-teto (MTST) da Bahia – e Francisca Sena, integrante da ONG Instituto Negra do Ceará (Inegra). Segundo a descrição do evento: “No Brasil, a violência policial contra as comunidades negras é tão grave que costuma ser caracterizada como genocídio do povo negro”.

Reparem que a agenda é antiga e que, portanto, a morte de George Floyd não foi causa, mas apenas pretexto, para a violenta campanha antipolícia que ora presenciamos em 2020. Que tenha sido pretexto é fácil de notar quando lemos o artigo que outra bolsista da Open Society, a também ativista pró-desencarceramento Mariame Kaba, publicou em junho deste ano no The New York Times. Intitulado Yes, We Mean Literally Abolish the Police, o texto é essencialmente idêntico ao de Herzing, dando a impressão de que quem fala por intermédio de ambas as autoras é mesmo George Soros, tal qual um ventríloquo com seus bonecos.

A morte de George Floyd não foi causa, mas apenas pretexto, para a violenta campanha antipolícia que ora presenciamos em 2020

“Basta” – conclama a extremista de esquerda, repetindo o mantra da Open Society: “Não podemos reformar a polícia. A única forma de diminuir a violência policial é reduzir o contato do público com a polícia... Ao longo dos anos, tenho defendido a abolição da polícia. Mas, seja qual for a sua visão do poder de polícia – queira você se livrar dela, ou apenas torná-la menos violenta –, eis uma demanda imediata que todos podemos fazer: reduzir pela metade o número de policiais e o seu orçamento. Menos policiais significam menos oportunidades para que eles brutalizem e matem pessoas. A ideia tem ganhado força em Minneapolis, Dallas, Los Angeles e outras cidades”.

Kaba conclui o texto com aquela autoindulgência e ilusão de superioridade moral tão típica dos revolucionários: “Pessoas como eu, que desejam abolir a polícia e as prisões, temos a visão de uma sociedade diferente, erguida sobre a cooperação, e não sobre o individualismo; sobre a ajuda mútua, e não sobre a autopreservação”.

Pode parecer surpreendente e incompreensível o pesado investimento de Soros na campanha antipolícia – que, na verdade, se insere num amplo projeto de revolucionar o sistema judicial americano. Só neste ano, por exemplo, o investimento da Open Society no Black Lives Matter e em outros movimentos antipolícia totalizou US$ 220 milhões. Mas a coisa surpreende menos quando lembramos que o desarmamento e a desmilitarização – tanto em nível intranacional (das polícias e dos cidadãos) quanto internacional (dos exércitos) – sempre esteve no cerne do projeto globalista de governo mundial, como condição essencial para o enfraquecimento das soberanias nacionais e o fortalecimento das organizações supranacionais, particularmente da ONU.

Aproveitando-se da pandemia, por exemplo, Mikhail Gorbachev – aliado circunstancial de Soros no projeto de governo mundial – escreveu em seu mais recente artigo na revista Time: “Já não ficou claro o bastante que as guerras e a corrida armamentista não podem resolver os problemas globais contemporâneos?... Não me canso de repetir: precisamos desmilitarizar os assuntos mundiais, a política internacional e o pensamento político… Especificamente, rogo para que os gastos militares sejam reduzidos de 10% a 15%. Isso é o mínimo que os Estados nacionais deveriam fazer agora, como um primeiro passo na direção de uma nova consciência, de uma nova civilização”.

Nos EUA, a proposta desarmamentista foi desde o início encabeçada pelo Council of Foreign Relations (CFR), um dos principais think thanks globalistas do mundo. Já em fevereiro de 1961, por exemplo, sete meses antes que o presidente Kennedy lançasse o seu plano para a paz mundial, o seu Departamento de Estado, sob comando de Dean Rusk (membro do CFR), encomendou a uma empresa privada, o Institute for Defense Analyses (IDA), um estudo mostrando como o desarmamento poderia ser instrumentalizado em favor da governança global.

Em março do ano seguinte, o estudo foi concluído, e o IDA apresentou o relatório final, significativamente intitulado Um Mundo Efetivamente Controlado pelas Nações Unidas (1962). Seu autor era o cientista político Lincoln P. Bloomfield, também membro do CFR, e à época diretor do projeto de controle de armas do Centro de Estudos Internacionais do Massachusetts Institute of Technology (MIT).

Esse projeto político totalitário em larga escala é sempre muito bem envelopado na retórica da paz, da igualdade e da justiça social

O relatório é particularmente instrutivo porque, ao contrário da maior parte de seus pares, o professor Bloomfield não recorreu aos eufemismos e jargões diplomáticos usuais nesse tipo de material. Acreditando dirigir-se exclusivamente aos camaradas globalistas, mediante memorando sigiloso que jamais veria a luz do dia, deve ter se sentido seguro para falar franca e diretamente. Cito a seguir o trecho de abertura do documento:

“Um mundo efetivamente controlado pelas Nações Unidas é um mundo no qual o ‘governo mundial’ será criado por meio do estabelecimento de instituições supranacionais, caracterizadas por uma pertença obrigatória e universal, bem como por alguma habilidade para empregar força física. O controle efetivo implicaria uma preponderância do poder político nas mãos de uma organização supranacional… A presente Carta da ONU poderia ser revisada de modo a possibilitar que essa organização cumpra a tarefa visada, destarte permitindo um rearranjo radical do poder no mundo” (grifos meus).

“A noção de um mundo controlado pela ONU soa, hoje, como fantasiosa” – escreve ainda Bloomfield. “Os cientistas políticos geralmente se descabelam diante de toda conversa sobre nova ordem, que veem como utópica e descolada da realidade política. Mas mentalidades arejadas dos meios militar, científico e industrial, ao se concentrarem sobre a cada vez mais irracional corrida armamentista, não raro concluem que a lógica do governo mundial – e é de governo mundial que estamos tratando aqui – é inescapável” (grifos meus).

Para que não houvesse qualquer dúvida sobre o sentido do que estava sendo dito, Bloomfield definiu precisamente os termos utilizados no título: “‘Mundo’ significa que o sistema é global, sem exceções ao seu alcance: pertencimento universal. ‘Controlado efetivamente’ implica que um relativo monopólio da força física está no centro do sistema, exigindo, portanto, a preponderância do poder político nas mãos de uma organização supranacional… Por ‘Nações Unidas’ não entendemos necessariamente a organização tal qual existe no momento… Finalmente, para evitarmos eufemismos infindáveis e verborragia evasiva, o regime em questão será ocasionalmente referido, sem grandes pudores, como um ‘governo mundial’” (grifos meus).

Com as próprias palavras do autor, é possível resumir os três principais pontos do documento: 1. “O desarmamento nacional é uma condição sine qua non para o controle efetivo da ONU”; 2. “O ponto essencial é a transferência do elemento mais vital do poder soberano dos Estados nacionais para um governo supranacional”; e 3. “O fato central acachapante seria a perda do controle de seu poderio militar por parte das nações individuais”.

É claro que, como se vê nos escritos das bolsistas do Soros, bem como nos do velho Gorbachev, esse projeto político totalitário em larga escala é sempre muito bem envelopado na retórica da paz, da igualdade e da justiça social – algo que não deveria iludir o leitor brasileiro em especial, uma vez que as palavras “paz”, “justiça” e “igualdade” integram o lema das duas principais facções criminosas do país. A promessa é sempre linda; os efeitos, sempre trágicos. No próximo artigo, abordaremos alguns desses efeitos já observados nos EUA – país que em que o direito à defesa (armada!) da soberania nacional e da liberdade individual é garantido na famosa Segunda Emenda da Constituição, a verdadeira pedra no sapato dos globalistas de todo o mundo.

Conteúdo editado por:Marcio Antonio Campos
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