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O primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, durante visita a Washington em novembro de 2021.
O primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, durante visita a Washington em novembro de 2021.| Foto: EFE/Chris Kleponis

“Por que teus ossos, devidamente consagrados, enterrados com as devidas cerimônias / Romperam a mortalha; por que o sepulcro, / Onde te depusemos tão tranquilamente, / Abriu suas pesadas mandíbulas de mármore / Pra te jogar outra vez neste mundo?” (Hamlet, Ato I, Cena 4)

“Quando você vê os impressionantes comícios de Fidel Castro, capaz de falar por 90 minutos sob um sol de 40 graus, você se pergunta qual a necessidade de eleições.” (Pierre Trudeau, pai de Justin, em visita a Cuba no ano de 1964).

“Admiro em alto grau a China, porque a sua ditadura básica tem permitido aos chineses dar uma guinada em sua economia e dizer ‘precisamos ser mais sustentáveis’... ‘precisamos começar a investir em energia solar’.” (Justin Trudeau em 2013, respondendo a uma partidária que lhe perguntara qual país, além do Canadá, ele mais admirava)

No dia 13 de agosto de 2006, Alexandre Trudeau, irmão do primeiro-ministro canadense Justin Trudeau, publicou no Toronto Star um artigo intitulado “Os últimos dias do patriarca”. Era uma homenagem ao ditador cubano Fidel Castro, que então completava 80 anos de idade. No texto, Sacha (era esse o apelido de origem russa utilizado em casa) tratava Castro como “um grande aventureiro”, “um grande espírito científico”, alguém cujo intelecto “é dos mais vastos e completos que se pode encontrar”. Além disso, o ditador seria também “um expert em genética, em automotores a combustão, em mercado de ações, em tudo... uma espécie de super-homem”.

“Revolucionário e orador lendário, o sr. Castro melhorou consideravelmente a educação e a saúde de seu país (...) Sei que meu pai tinha muito orgulho de o chamar de amigo.”

Justin Trudeau, primeiro-ministro do Canadá, sobre Fidel Castro, por ocasião da morte do ditador cubano.

Sacha rogava aos leitores que avaliassem Castro “em termos psicanalíticos”, como se o ditador fosse o grande pai e os cidadãos cubanos, seus filhos – “frequentemente queixosos, como são queixosos os filhos adolescentes em relação às exigências de um pai rigoroso”. Sobre o papel mítico de Fidel Castro no seio da família Trudeau, escrevia o irmão de Justin:

“Cresci sabendo que Fidel Castro tinha um lugar especial dentre os amigos da família. Tínhamos em casa uma foto dele: um grande homem barbudo, vestido em trajes militares, e que carregava nos braços o meu irmão Michel [irmão mais novo de Justin, falecido numa avalanche em 1998]. Quando conheceu o meu irmãozinho em 1976, Fidel deu-lhe um apelido que o acompanharia pelo resto da vida: ‘Micha-Miche’. Tempos mais tarde, quando Michel tinha por volta de 8 anos, lembro-me de o ver reclamando com minha mãe pelo fato de ter menos amigos do que tínhamos eu e o nosso irmão mais velho [Justin]. Minha mãe, então, respondia que ele tinha o melhor amigo de todos: ele tinha Fidel”.

Dez anos mais tarde, quando o ditador morreu, aos 90 anos de idade, o já primeiro-ministro Justin Trudeau manifestou seu pesar nos seguintes termos: “Revolucionário e orador lendário, o sr. Castro melhorou consideravelmente a educação e a saúde de seu país”. E arrematou com a velha referência familiar: “Sei que meu pai tinha muito orgulho de o chamar de amigo”.

O pai de Justin era Pierre Trudeau, um revolucionário de extrema-esquerda, assim como o filho. Também primeiro-ministro do Canadá entre os anos de 1968 e 1984, Trudeau pai tinha um carinho todo especial por ditaduras comunistas, tendo manifestado por diversas vezes seu entusiasmo não só pelo amigo Fidel Castro, mas também por Stalin e Mao Tse-tung. É o que mostram biografias como Three Nights In Havana: Pierre Trudeau, Fidel Castro, and the Cold War World, do historiador Robert Wright, e The Truth About Trudeau, do também historiador Bob Plamondon, obras nas quais se encontra um vasto material documental sobre a estranha devoção trudeauniana à tirania.

Dentre vários fatos interessantes, ficamos sabendo, por exemplo, que Pierre visitou a União Soviética em 1952, na companhia de quatro comunistas canadenses, a fim de “discutir economia”, ocasião em que teria dito à esposa do vice-embaixador americano que também era comunista, tendo sua visita o objetivo de criticar os EUA e louvar a URSS. Que, em 1960, foi à China justo quando o “Grande Salto” de Mao Tsé-tung, na esteira do Holodomor ucraniano, resultava na morte por inanição de mais de 20 milhões de pessoas, e que acreditou piamente – a ponto de propagandeá-lo em sua terra natal – no “paraíso” artificial montado em visitas cenográficas aos campos e cidades chineses. Que, em 1964, fez sua primeira visita a Cuba, maravilhando-se com o carisma e a oratória do ditador caribenho, que o levou a comentar: “Quando você vê os impressionantes comícios de Fidel Castro, capaz de falar por 90 minutos sob um sol de 40 graus, você se pergunta qual a necessidade de eleições”.

Em 1976, já primeiro-ministro, Pierre fez uma famosa visita oficial ao amigo Castro, sendo recebido na ilha-prisão, junto com a família, com toda a pompa e circunstância (para maiores detalhes, recomenda-se o livro de Robert Wright citado mais acima). Ocorreu nessa viagem o episódio em que Castro pegou “Miche” no colo, momento registrado na fotografia que a família Trudeau tinha em casa, e à qual Sacha se refere em sua laudação no Toronto Star. Mas, como informa matéria do The Ottawa Journal publicada em 13 de abril de 1971, é possível que, em torno dessa data, Pierre e sua esposa Margaret já tivessem estado em Cuba (a matéria fala apenas em “ilha não identificada” próxima a Barbados) para uma “segunda lua de mel”.

O emasculado Justin, principal liderança woke do mundo, já perdeu totalmente a sua autoridade moral para governar. E onde falta autoridade sobra autoritarismo

Foi essa discreta segunda lua de mel dos Trudeau que deu origem ao famoso boato segundo o qual Justin seria filho biológico e bastardo de Fidel Castro, fruto de um provável caso entre Margaret Sinclair e o ditador caribenho, a quem esta se referiu certa vez como “o homem mais sexy” que conhecera, e com quem flertava o tempo todo. Tudo isso sob as barbas de Pierre, que, adepto do comunismo sexual (assim reza a lenda), teria consentido com o romance. O boato é naturalmente reforçado pela espantosa semelhança física entre o falecido ditador e – já se pode chamá-lo assim! – o ditador debutante.

Se Justin Trudeau é realmente filho de Fidel Castro não se sabe. Mas aqui a ciência política deve ceder lugar à literatura. Pois há um sabor de trágico shakespeareano (e talvez freudiano) em todo o histórico familiar do atual primeiro-ministro canadense. Se formos analisar o caso “em termos psicanalíticos” – para seguir a sugestão de Sacha Trudeau –, parece haver uma filiação, se não factualmente biológica, decerto manifestamente espiritual, entre ele e o tirano caribenho. Algo como uma vocação ditatorial herdada, qual doença genética, pelo clã dos Trudeau.

Só essa espécie de maldição familiar, como que transmitida pelo sangue, explicaria a bizarra invocação da Lei de Emergências, nunca antes usada numa pretensa democracia como a canadense, e que, segundo o jornalista americano Matt Taibbi (editor da outrora trudeauniana Rolling Stone), leva o primeiro-ministro a viver o seu “momento Ceaușescu”, ou, na opinião do humorista Bill Maher, a falar como Adolf Hitler. Como tuitou o próprio Justin em 2012, parecendo referir-se ao Justin de 2022: “Quando um governo começa a tentar coibir ou evitar o dissenso, é sinal de que está rapidamente perdendo a sua autoridade moral para governar”.

Com efeito. “Trudeau foi longe demais” – é o que afirma categoricamente o Toronto Sun em editorial. O emasculado Justin, principal liderança woke do mundo, já perdeu totalmente a sua autoridade moral para governar. E onde falta autoridade sobra autoritarismo. O que nos faz lembrar do alerta lapidar de Jordan Peterson, que parece ter sido concebido para Trudeau: “Se você acha que os homens durões são perigosos, espere até ver do que são capazes os homens fracos”.

Sim, nesse ponto a análise política torna-se mesmo ineficaz. Porque só um desejo inconsciente, neurótico e trágico de agradar ao “pai” fantasmagórico, uma obsessão por realizar o projeto de vida do espectral “patriarca”, poderia nos dar pistas de como, da noite para o dia, o cidadão canadense foi dormir no Canadá e acordar em Cuba.

Conteúdo editado por:Marcio Antonio Campos
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