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Al Gore discursa no C40 World Mayors Summit em Copenhague, Dinamarca, em 10 de outubro de 2019.
Al Gore discursa no C40 World Mayors Summit em Copenhague, Dinamarca, em 10 de outubro de 2019.| Foto: Ida Guldbaek Arentsen/Ritzau Scanpix/AFP

“Mais e mais pessoas se juntam ao movimento de resistência [à destruição ecológica], mas é chegado o tempo de fazer desta luta o princípio organizador central da civilização mundial” (Al Gore, Earth in the Balance)

“Conclui-se, de fato, que leis de controle populacional compulsório, incluindo as que imponham o aborto compulsório, podem ser constitucionalmente justificadas se a crise populacional se tornar grave o bastante a ponto de ameaçar a sociedade”.

O trecho acima foi extraído do livro Ecoscience: Population, Resources, and Environment (1977), co-autorado por Paul R. Ehrlich e John P. Holdren. Ehrlich, professor do departamento de biologia da Universidade de Stanford, ficou conhecido pelo best-seller The Population Bomb (1969), um libelo neomalthusianismo que previa, em tons alarmistas, uma grande fome universal para as décadas seguintes, devido à superpopulação do planeta. Hoje ridícula por suas previsões estapafúrdias, a obra tornou-se, à época, leitura de cabeceira dos membros do Clube de Roma, influenciando na redação de Os Limites do Crescimento, o famoso relatório publicado pelo grupo em 1972, que utilizava modelos lineares simplistas para prever o colapso do planeta (modelos similares aos utilizados pelo IPCC da ONU), e que veio a se tornar um marco do ambientalismo globalista.

O outro autor daquele livro em que se propõe com todas as letras o aborto compulsório (dos pobres, bem entendido), John P. Holdren, viria futuramente a ser nomeado como principal conselheiro do ex-presidente americano Barack Obama para questões de ciência e tecnologia, recebendo o apelido de “czar da ciência” da Casa Branca. Junto com Al Gore, Holdren foi, nos EUA, um dos grandes difusores da mitologia do aquecimento global antropogênico. Já em 1969, ele havia co-autorado com Ehrlich um artigo intitulado “Population and Panaceas A Technological Perspective”, no qual se lia que “se medidas de controle populacional não forem tomadas imediatamente, e efetivamente, toda a tecnologia desenvolvida pelo homem não será capaz de superar a miséria que está por vir”.

Entre as previsões feitas à época por Ehrlich e Holdren, encontramos coisas como: 1) A batalha para alimentar a humanidade está perdida. Nos anos 1970, o mundo enfrentará grandes fomes. Centenas de milhões de pessoas morrerão de fome, não importa o que se comece a fazer a partir de agora; 2) Quatro bilhões de pessoas – incluindo 65 milhões de americanos – vão passar fome nos anos 1980; 3) Em dez anos [isto é, nos anos 1980], a maior parte da fauna marinha estará extinta. Grandes áreas costeiras terão de ser evacuadas graças ao fedor de peixe morto. E assim por diante…

O consumo de energia da mansão de Al Gore na capital do Tennessee é infinitamente maior que a média das famílias americanas

Que essas previsões equivocadas não tenham minado o prestígio do ecofundamentalismo – como seria comum em qualquer ramo da ciência – dá bem a medida do fervor quase religioso do paradigma ambientalista, e do quão corrompida pela ideologia (em especial a do elitismo neomalthusiano, como vimos no artigo da semana passada) tem sido a ciência climática contemporânea. O alarmismo alastrou-se como pólvora nesse ambiente, e continua hegemônico no discurso das autoridades políticas e cientificas, não obstante a realidade insista em negar as profecias apocalípticas dos ecofundamentalistas.

Em 1994, por exemplo, dois anos após a Rio 92, e como um dos seus desdobramentos diretos, ocorreu no Cairo (Egito) uma conferência da ONU sobre população. Al Gore, um dos maiores entusiastas do evento, declarou em seu discurso de abertura: “Nenhuma solução isolada bastará para produzir os padrões de mudança de que tanto necessitamos. Mas juntos, com tempo suficiente, conseguiremos uma estratégia para alcançar uma população estabilizada e, assim, melhorar a qualidade de vida para os nossos filhos”.

É preciso, antes de tudo, ressaltar que, com a expressão “para os nossos filhos”, e ao contrário do que possa parecer, Al Gore não está se referindo a toda a humanidade, a gente comum como eu e você, caro leitor. Não, quando ele fala em “nossos filhos”, o diálogo é com os seus pares de conferência, a elite globalista reunida em torno das organizações internacionais. Trata-se de melhorar a qualidade de vida dos filhos deles (que não serão vitimados por abortos compulsórios, claro está) mediante o impedimento do nascimento dos filhos dos outros.

Al Gore, aliás, um mestre das previsões catastrofistas quase caricatas de tão exageradas (e, evidentemente, fracassadas), é um personagem que ilustra bem o grau de hipocrisia do discurso ecofundamentalista, que exigem dos outros uma mudança de mentalidade e hábitos que eles próprios não realizam. Pois é para manter a exclusividade de seu alto padrão de desenvolvimento e consumo que exigem que abdiquemos do nosso.

Perguntado certa vez na CNN sobre acusações de hipocrisia, Al Gore respondeu que o seu estilo de vida era “na medida do possível, livre de carbono”. Um estilo de vida carbon-free? Será mesmo? Segundo informações que o National Center for Public Policy Research obteve junto a arquivos públicos e à companhia de energia elétrica de Nashville (onde Gore tem uma mansão), parece que as coisas não são bem assim. Os dados coletados são interessantes.

Em 2016, por exemplo, o consumo de energia da família Gore superou os 19 mil quilowatts-hora (kWh) por mês, enquanto a média americana é de 900 kWh. Al Gore mama mais energia num ano do que uma família americana média em 21 anos. Apenas em setembro daquele ano, a mansão consumiu 30.993 kWh, quantidade de energia suficiente para abastecer uma residência americana de classe média por 34 meses. Apenas para aquecer a sua piscina, Al Gore abocanhou 66.159 kWh ao longo do ano, energia bastante para iluminar seis lares americanos. De agosto de 2016 a julho de 2017, a conta de energia elétrica de Al Gore foi de US$ 22 mil. E, ainda que o Democrata tenha gasto US$ 60 mil para a instalação de 33 painéis solares no local, a energia “limpa” produzida foi de 1.092 kWh por mês, o que representa apenas 5,7% do consumo mensal médio da mansão.

Enfim, o consumo de energia da mansão de Al Gore na capital do Tennessee é infinitamente maior que a média das famílias americanas, o que não deixa de ser uma “verdade inconveniente” para alguém que, hipocritamente, pede aos seus compatriotas que reduzam o seu consumo doméstico de energia elétrica. A hipocrisia de um dos campeões do aquecimentismo global não para por aí, todavia. Mas esse é um assunto para o próximo artigo.

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