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O presidente da República, Jair Bolsonaro| Foto: Alan Santos/Presidência da República

A grande imprensa brasileira perdeu a mão. Desaprendeu a fazer jornalismo.

Algumas décadas de domínio quase completo sobre redações e faculdades de jornalismo transformaram esse ofício, de suma importância para qualquer regime democrático, em mero exercício de transmissão ideológica. O fenômeno não é restrito ao Brasil, muito pelo contrário.

Onde estão as grandes reportagens investigativas? Onde estão os furos conseguidos de fontes supersecretas, fruto de carreiras dedicadas ao desvendamento da verdade? Onde está o jornalismo sem torcida, que mantém os olhos atentos para os atos do Leviatã?

A preguiça tomou conta das redações. Uma leitura das principais matérias dos principais portais jornalísticos do Brasil mostrará uma dolorosa realidade: grande parte dos jornalistas da atualidade não passa de usuários do Google. Há uma desconexão com o mundo real, e ela se traduz numa incapacidade de compreender o pensamento do homem comum. Há muitos culpados da eleição de Jair Bolsonaro, mas a grande imprensa se destaca dentre todos eles. Durante a última campanha presidencial, apostaram vez após vez no ataque às pautas conservadoras que Jair, então candidato, defendia. Desperdiçaram chance após chance de encurralá-lo com questões pertinentes e importantes. Pior que isso, toda vez que usaram suas polêmicas para confrontá-lo, deixaram a bola quicando na frente do gol. E todas as vezes ele marcou, e cada vez que o fez ficou um pouco mais perto da vitória.

Há muitos culpados da eleição de Jair Bolsonaro, mas a grande imprensa se destaca dentre todos eles. Sua desconexão com o mundo real se traduz numa incapacidade de compreender o pensamento do homem comum

Já na cadeira da Presidência, Bolsonaro viu que nada mudaria. Ele pode ser um sujeito tosco e ignorante, mas idiota ele não é. Novamente, em diversas oportunidades, soube usar os ataques pueris em seu favor. E, por achar ninguém que lhe fizesse uma oposição firme e inteligente, foi aumentando o tom de estupidez para com os repórteres. Descobriu, assim, que além de todas as falhas ligadas ao comprometimento ideológico e à falta de compromisso para com a verdade, essa imprensa era também chorona e vitimista.

O episódio em que o presidente manda a jornalista Laurene Santos calar a boca é somente um de muitos. A repórter, certamente treinada pela escola moderna de jornalismo brasileiro, não conseguiu reagir. Sua reação era necessária, imprescindível. O presidente-bully, que adora fazer piada com pênis de japonês e ânus de homossexual, teve seu comportamento reforçado mais uma vez. Bullies não ligam para repercussões a posteriori. Não ligam se a diretora lhes colocou de castigo depois do horário de aula. A única maneira de se deter um bully é revidando na hora. É não se calando. No caso de Jair, é invocando os valores que ele diz defender e esfregá-los em sua cara no momento do embate. Laurene Santos poderia ter empostado a voz e dito “Presidente, sua truculência não mudará em nada minha missão de informar as pessoas”. Ou então: “Presidente, para alguém que se diz defensor da liberdade de expressão, o senhor já extrapolou a cota de ‘cala-bocas’ há muito tempo”. Enfim, qualquer resposta que o colocasse em seu lugar.

Mas a grande imprensa brasileira não está preparada para isso. Em vez do confronto, prefere se encolher e desabafar com os coleguinhas. “Nossa, como ele é malvado, né? Bem que podia aparecer alguém mais forte que ele.”

Acordem de uma vez por todas. Eu sei que uma grande parte de vocês teve a mente lavada na faculdade. Sei que acham os Estados Unidos um país malvadão imperialista e Cuba, um sonho feito realidade. Sei que passam pano para o PT, PSol e companhia. Sei que adoram jornalismo lacrativo, aquele do feminismo radical, que chama aborto de “direito da mulher”. Infelizmente, vocês já deixaram de ser jornalistas há muito tempo, se é que um dia já foram. Os mais antigos desaprenderam e os mais jovens não chegaram a aprender o que é jornalismo de fato.

Ainda que vocês jamais se recuperem dessa letargia intelectual e desse viés ideológico monumental, há uma coisa que vocês podem e precisam fazer: aprendam a responder a esse ignorante que ocupa a Presidência da República. Ele se alimenta da covardia de vocês. Na verdade, ele fica na expectativa de que alguém lhe faça aquela determinada pergunta que acabará em mais um cala-boca.

Na minha época de escola, a reposta para um cala-boca era dada em verso. “Cala a boca já morreu, quem manda em minha boca sou eu.” Um garoto daquela época mostrava muito mais bravura que um jornalista chorão de 2021.

Conteúdo editado por:Marcio Antonio Campos
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