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AFP photo/KCNA via KNS
AFP photo/KCNA via KNS| Foto:

No ano de 2002, uma corajosa jornalista e escritora da Coreia do Sul iniciou uma série de viagens à Coreia do Norte, país vizinho e inimigo do seu. O nome dela é Suki Kim, e ela queria entender o que acontecia dentro do país mais isolado e da ditadura mais fechada do planeta. Suas razões eram mais fortes que a mera curiosidade. Quando a Coreia se dividiu, muitas famílias foram separadas, pois os que ficaram no território ao norte não puderam jamais atravessar a fronteira para o sul. A sua avó foi uma das mães que perderam para sempre o contato com seus filhos – um dos tios de Suki Kim morava no norte, e sua família nunca mais teve notícias dele.

Depois de várias viagens curtas e superficiais, Suki Kim entendeu que precisaria de uma imersão total para tentar desvendar os segredos da vida norte-coreana. Em suas pesquisas, encontrou uma maneira de se infiltrar e passar seis meses no país: uma única escola privada, montada e operada por missionários cristãos americanos, fornecia ensino de alta qualidade para os filhos dos líderes norte-coreanos. Sua oportunidade surgiu no cargo de professora de Inglês, e o resultado dos seis meses lá vividos foi o livro Without You, there is no Us: Undercover among the sons of North Korea’s elite (sem edição em língua portuguesa; “Sem Você, não há Nós: Disfarçada entre os filhos da elite norte-coreana”, em tradução livre).

Um estranho acordo extraoficial com o governo permite que a escola cristã opere, desde que não haja nenhuma menção ou proselitismo ao cristianismo. Os 30 professores moram todos no próprio local e só podem sair acompanhados de guardas. Aliás, tudo o que fazem é constantemente vigiado, seja por guardas ou pelos próprios alunos – 270 jovens, todos homens na faixa de 20 anos de idade –, que são instruídos a delatar qualquer comportamento, expressão ou declaração que esteja fora do permitido pelo regime comunista. Alunos são proibidos de perguntar qualquer coisa sobre o mundo exterior e não é permitida qualquer interação pessoal que não seja em grupos. Semanalmente, os grupos se reúnem para relatar as irregularidades do período à diretoria (amigos delatando amigos).

Mas, por mais controlados e vigiados que sejam, os alunos acabam desenvolvendo algum nível de intimidade com os professores. Não poderia ser diferente, já que todos permanecem em regime de internato e mantendo contato quase que ininterrupto. E foi essa intimidade que permitiu a Suki Kim capturar algumas breves revelações. Ela conta, por exemplo, que em certa ocasião um aluno admitiu que gostava de ouvir rock & roll, algo estritamente proibido pelo regime. No mesmo momento, todos do grupo se calaram e olharam para baixo – o medo de que aquilo fosse reportado era nítido – e a professora mudou o tópico da conversa para evitar mais problemas. Dia após dia, ela foi colecionando esses episódios, escrevendo-os em seu computador durante a noite e copiando tudo para um pendrive que levava o tempo todo consigo. Ela também precisava apagar qualquer rastro do computador, pois havia vistorias e verificações frequentes por parte da equipe de segurança.

A exposição da Coreia do Norte por Suki Kim vai muito além do que a imprensa tradicional já conseguiu fazer, principalmente porque a imprensa tradicional só entra no país com visto, só conversa com quem lhe é permitido e só sai com os registros e gravações aprovados pelo regime. Agindo praticamente como uma espiã, a autora trouxe à luz uma realidade ainda mais dura e controlada do que imaginávamos.

Estudar a Coreia do Norte é uma obrigação para todos que apreciam e defendem a liberdade. A ditadura que lá se instalou há quase sete décadas é hoje um exemplo vivo da doutrina comunista levada à sua eficiência máxima e, por conseguinte, um modelo perfeito de regime a ser evitado. O massacre da religião, a eliminação da liberdade de expressão, o Estado policial, o sequestro das crianças pelo Estado, a dissolução das famílias, a presença constante do medo e da desconfiança, os campos de concentração, as punições capitais sem nenhuma instância de julgamento – tudo o que lá acontece hoje pode ser derivado dos valores podres defendidos pela esquerda.

O Brasil já vive algumas das realidades norte-coreanas em escala branda. A doutrinação nas escolas, o cerceamento da liberdade de expressão, o laicismo e o poder legal dado ao Estado para interferir nas famílias são apenas alguns dos pontos em que estamos caminhando para a escravidão e nos afastando da liberdade. A esquerda brasileira, principalmente os caciques do PT e do PSol, admira diversas ditaduras no planeta, especialmente a de Maduro, a dos Castro e a de Kim Jong-un. Em outras palavras, almejam algo assim para a nossa pátria. Não fosse assim, Lula não teria feito campanha para Maduro e nem financiado seu governo com dinheiro brasileiro; também não teria dito que na Venezuela há excesso de democracia.

Se temos algum apreço pelas liberdades que ainda nos restam, devemos entender que elas não podem coexistir com um regime socialista ou comunista; e também que qualquer regime que almeje o socialismo ou o comunismo necessariamente terá de suprimir, ainda que paulatinamente, essas liberdades. A possibilidade de um retorno de Lula ou da eleição de alguém como Ciro Gomes, um político que diz publicamente que “as pessoas precisam de controle”, é algo potencialmente devastador para o Brasil. Estivemos muito perto de entregar nosso país ao projeto de poder bolivariano-petista, e nos encontramos atualmente em remissão. Se cedermos, pode ser que o “vício” nos mate antes do próximo tratamento. É hora de ficar alerta, mais do que nunca.

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