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Hoje é sexta-feira. Não é qualquer sexta-feira, mas a que antecede a Páscoa. Nesse dia, lembramos que Jesus Cristo – o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo – foi torturado e crucificado até a morte. Quando do acontecido, foi um dia de desespero para os primeiros cristãos. Certamente, a sensação de “o sonho acabou” pairou sobre a maioria dos que seguiam Cristo, os que não tinham captado a essência das profecias e algumas palavras do próprio Mestre, as quais apontavam para sua ressurreição apenas dois dias depois.

Será no domingo que comemoraremos a Páscoa, a data mais importante para os cristãos do mundo todo. Sem Páscoa não haveria cristianismo, pois o cerne de nossa fé está na vitória do Mestre contra a morte, sua capacidade divina de retornar à vida e resgatar as almas de todos os que, de outra forma, estariam condenados. Em tempos de neopaganismo, neoateísmo e outras neoidiotices que rondam nossa sociedade, falar de Jesus Cristo soa como insulto aos ouvidos daquela parcela das pessoas que prega tolerância a todas as religiões, incluindo o ultrabelicista islamismo, mas considera os cristãos gente ignorante de segunda categoria.

De todos os milagres atribuídos a Jesus, é sua própria ressurreição o mais combatido e ao mesmo tempo o mais concreto. Negá-la implica em aceitar que um grupo de pessoas simples e pouco letradas conseguiu conspirar a ponto de transmitir uma narrativa dessas como verdade, impedindo, de alguma forma, que milhares de habitantes da mesma época e do mesmo local refutassem tal narrativa ou apresentassem uma alternativa; ou implica em aceitar que houve um delírio coletivo como nunca antes na história do mundo. A terceira opção é que tudo aconteceu mesmo.

Por ser a única religião que parte de uma mudança externa para uma interna – Deus convence o pecador de sua culpabilidade e pequenez através da ação sobrenatural do Espírito Santo, e esse pecador passa a viver uma vida piedosa em busca de crescimento moral e espiritual –, o cristianismo é também a religião que mais sofre com a presença de membros não autênticos em seu meio. Quando as exigências são externas, como usar uma determinada roupa, rezar tantas vezes por dia voltado para sei lá onde, não fazer isso ou aquilo, é muito mais fácil segui-las. É por isso que as placas de trânsito dizem “Pare” ou “60 km/h é a velocidade máxima em que você pode andar aqui”, e não “Olhe para o seu coração e pense se não é melhor andar um pouco mais devagar porque a região é cheia de crianças”. O cristianismo não poderia ser mais diferente. Somos a religião do “Tudo me é lícito, mas nem tudo me convém. Não há liberdade maior, mas também não há responsabilidade maior. E é justamente nesse ponto que florescem os “falsificados”, gente que está ávida por uma regrinha simples, mas que não quer passar perto de sacrificar as próprias vontades, taras, desejos, vícios e paradigmas para se tornar um ser mais próximo de Cristo, nosso exemplo maior.

Vivemos uma época esquisita, de uma geração ultrassensível que não pode ter a atenção chamada, não gosta de regras, não cumpre horários, não respeita tradições e não reconhece virtudes e valores atemporais. E, mesmo assim, assistimos ao crescimento de religiões e seitas que impõem regras rígidas e que tolhem a liberdade do ser humano. Vemos gente revoltada com um líder cristão que ouse falar contra a homossexualidade ou que aconselhe as esposas a se submeterem à liderança de seus maridos, mas que aplaude grupos radicais cuja abordagem dos mesmos temas é infinitamente mais severa e punitiva, e clama por um governo que regule suas vidas com muito mais interferência do que o Deus cristão. Décadas de emburrecimento e cauterização da consciência deixaram o mundo depauperado de senso crítico. As pessoas não são capazes de olhar para um quadrado azul e dizer “isso é um quadrado azul”, não são minimamente capazes de olhar para a doutrina cristã e dizer “não existe liberdade maior que essa, de ser o juiz e o réu de suas próprias ações”.

Mas divaguei. Minha alegria neste dia é poder escrever sobre Jesus Cristo nesta coluna semanal. Sei que em muitos outros países não poderia fazê-lo. Desejo uma Páscoa de reflexão, de paz e de júbilo para cada um de vocês que me acompanha. Voltaremos a falar de política na semana que vem. Agora é hora de relembrar e comemorar.

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