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Foto: Phillip Collier/Free Images
Foto: Phillip Collier/Free Images| Foto:

Fui empresário no Brasil por uns bons 12 anos. Somente em minha franquia da CNA passaram mais de 90 funcionários em nove anos de funcionamento, a grande maioria contratada após processo seletivo conduzido por mim e por meu sócio. Também fui empregado por um outro bom tanto de anos, tendo trabalhado em empresas como Motorola, Caterpillar, Booz & Co, HP e outras, e já passei por muitas entrevistas e dinâmicas de grupo estando do lado do empregado. Resumindo: tenho uma boa experiência com essa parte inicial do processo de contratação em solo brasileiro.

Pois bem. Munido dessa experiência, cheguei ao momento de contratar minha primeira funcionária aqui nos Estados Unidos. Sem pestanejar, busquei um bom website de busca profissional para divulgar a vaga, e recebi mais de 100 currículos apenas nas primeiras 24 horas. A consultora do website havia me instruído a entrevistar as pessoas rapidamente – de acordo com ela, os melhores candidatos fazem a inscrição para diversas vagas e conseguem uma colocação em poucos dias – e eu interpretei o “rapidamente” sob minha ótica brasileira. Resultado: me dei mal. Coloquei as quatro melhores candidatas que entrevistei numa segunda-feira na lista para uma etapa final de avaliação a ser conduzida quatro dias depois. Quando comecei a entrar em contato, na quinta-feira, duas delas já tinham fechado com outras empresas. As outras duas chegaram a vir e fazer os testes que propus, mas foram contratadas por outras empresas antes que eu pudesse lhes fazer uma proposta. Diante da experiência, reiniciei as entrevistas com novas candidatas na segunda-feira seguinte (ontem) e mudei meu processo para apenas uma etapa, agregando os testes à entrevista inicial. Poucos minutos antes de começar a escrever esta coluna, fiz uma proposta de trabalho a uma das candidatas aprovadas e ela começará a trabalhar na semana que vem. Tive de aprender a lição rapidamente, ou ficaria entrevistando e perdendo gente por semanas a fio.

O que faz do mercado americano tão diferente do brasileiro no aspecto da contratação e empregabilidade? A resposta curta: liberdade. A resposta longa: acompanhe o restante do texto.

Nos Estados Unidos não há 13.º salário, Fundo de Garantia, aviso prévio de 30 dias, multa por demissão ou férias obrigatórias com um terço de abono. Mais que isso, não há Justiça trabalhista. Aqui vale a livre negociação entre empregador e empregado, especialmente em setores não sindicalizados. Mesmo com toda essa “falta de direitos”, o mercado de trabalho daqui é muito mais dinâmico e funcional que o brasileiro. Essa realidade é capaz de fundir a cabeça de muitos defensores da esquerda marxista, que gostam de tratar o empregado como um coitadinho à mercê dos empresários-demônios. Essa mentalidade está tão fortemente arraigada nas leis trabalhistas brasileiras a ponto de o empregado ser considerado alguém incapaz de negociar com seu empregador os termos de seu trabalho, precisando ser constantemente tutelado pelo Estado nessas questões.

Mas voltemos ao caso americano. Aqui, devido à forte desregulamentação e baixos impostos sobre folha de pagamento, todo mundo contrata. Quando todo mundo contrata, o nível de desemprego diminui; quando o desemprego diminui, empregados têm muito mais opções de trabalho ao seu dispor e, por conseguinte, ganham poder de negociação com empregadores. Na prática, funciona assim:

Empregado brasileiro: “Não aguento mais esse emprego, queria muito mudar. Mas Fulano está desempregado faz um ano, Beltrano há quase isso… Melhor ficar aqui e garantir o sustento. Mais vale um pássaro na mão que dois voando.”

Empregado americano: “Não aguento mais esse emprego. Vou arrumar outro.”

Quem precisa do Estado para atrapalhar quando a escassez de bons funcionários obriga os empregadores a melhorar salários, condições de trabalho e benefícios para não perder bons empregados para seus concorrentes? Quem precisa se preocupar com multa rescisória quando a possibilidade de recolocação em menos de um mês é real e provável?

A CLT e a Justiça trabalhista serão sempre um entrave ao desenvolvimento econômico brasileiro. A única saída realmente eficiente seria a extinção de ambas, algo que eu considero utópico e absolutamente improvável. Reformas podem ajudar e deveriam ser uma prioridade do novo governo, pois a empregabilidade é um dos fatores que mais contribuem para o bem-estar da população. Somente com mudanças reais e eficazes poderemos viver uma realidade onde empregados sejam verdadeiramente “empoderados” e empregadores tenham o peso da concorrência para pautar suas atitudes para com aqueles.

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