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Gente que faz
| Foto: Marcelo Terraza/Free Images

Eu trabalho com uma empresa brasileira do setor dentário, fabricante de produtos odontológicos de consumo. No segmento mais específico em que opera, é a maior fabricante do Hemisfério Sul, dando emprego para mais de 100 pessoas e exportando para mais de 30 países. O dono, repetindo a história de muitos empreendedores corajosos, começou do zero. Dentista que jamais deixou de clinicar, resolveu que faria seus próprios instrumentos em vez de pagar preços exorbitantes por produtos importados (em última análise, exorbitantes justamente por serem importados e taxados pelo governo brasileiro). Suas criações foram tão boas que hoje são vendidas em todo o mundo e elogiadas por profissionais de renome tanto dos Estados Unidos como da Europa. Enfim, um caso de sucesso.

Para facilitar a referência, chamarei o dono dessa empresa de sr. Riaj. Riaj tem três filhos – dois do primeiro casamento, já adultos, e um do segundo, ainda criança. O mais velho dos três seguiu os passos do pai e formou-se dentista. Trabalha atualmente em sua própria clínica e contribui com a empresa como uma espécie de conselheiro técnico, porém sem participar diretamente de sua administração. O filho do meio, formado em Economia, já acompanha o pai há anos na empresa, em um constante preparo para assumir o comando quando Riaj finalmente resolver diminuir o ritmo de trabalho e desfrutar das boas coisas que construiu em quase duas décadas. O caçula, muito mais novo que os irmãos, ainda não chegou ao décimo aniversário e, portanto, não tem preocupações maiores que estudar para provas, fazer trabalhos escolares e jogar videogame.

Enquanto formos um país cujos jovens recém-formados sonham com uma vaga pública, estaremos fadados ao fracasso econômico

Riaj é um homem e pai exemplar. Riaj é o oposto de Jair, literalmente. Jair nunca trabalhou no setor privado e nunca gerou riqueza. Jair nunca precisou empreender nem correr riscos, pois sempre viveu mamando nas tetas do Estado. Depois de mais de duas décadas trabalhando exclusivamente com política, Jair resolveu estimular os filhos a seguir seus passos. E assim, sem titubear, lançou cada um dos três mais velhos a candidaturas legislativas. Resultado: Jair, que hoje ocupa a Presidência, tem um filho vereador, um filho deputado federal e um filho senador, Não bastasse os três, Jair tenta agora lançar o quarto à tão sonhada carreira pública. Se conseguir, terá convertido 100% de seus filhos homens em parasitas do dinheiro alheio. E, como desgraça pouca é bobagem, ostentando o maior orgulho por isso.

O Brasil, infelizmente, é um país que aplaude Jair e nem sequer toma conhecimento de Riaj. Mesmo diante da total inabilidade de Jair em lidar com sua família enquanto presidente da República, apoiadores do governo continuam brincando com fogo, louvando uma dinastia que começa com o pai e termina com o caçula, todos passando pela Presidência. Soa absurdo? Sim, é claro, mas isso não impede que muita gente deseje essa boçalidade como se fosse a melhor coisa que pudesse acontecer ao Brasil em toda sua história.

Enquanto formos um país cujos jovens recém-formados sonham com uma vaga pública – um emprego vitalício onde possam se encostar sem medo de demissão –, estaremos fadados ao fracasso econômico. Enquanto houver mais Jaires que Riajes, seremos a terra da corrupção. Enquanto políticos criarem feudos familiares para benefício próprio, seremos uma republiqueta bananeira e nada mais que isso. Se ainda não afundamos, foi por causa de muitos e muitos Riajes que ainda topam investir no Brasil e criar riquezas reais, aquelas que não dependem de impostos para acontecerem.

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