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Leio em meu feed de notícias que o Datafolha fez uma pesquisa, durante o mês de maio, cujos resultados mostram um forte desejo dos brasileiros de se mudarem para outro país. Os dados são bem expressivos: 43% da população adulta gostaria de deixar o Brasil, caso tivesse essa possibilidade. O porcentual é ainda maior quando considerada somente a faixa etária de 16 a 24 anos, chegando a 62% dos pesquisados. Os números dessa pesquisa não me espantam. Faz muito tempo que o Brasil não oferece uma perspectiva positiva de futuro aos seus cidadãos. Em relação aos jovens, sua maior disposição à aventura e menor tendência a considerar possíveis desfechos negativos em planos de vida explicam facilmente o porquê de seu porcentual ser maior.

Suponhamos que a todas essas pessoas fossem dadas as condições básicas para que pudessem se mudar, ou seja, um visto de trabalho e os recursos para a mudança em si. Será que, nesse caso, os brasileiros deixariam sua pátria e realizariam o sonho de triunfar em terras estrangeiras? Minhas respostas, com base em toda a experiência que tive nos últimos anos: alguns deixariam, pouquíssimos triunfariam.

A região de Orlando tem muitos brasileiros, e você acaba conhecendo diversos conterrâneos que por aqui habitam. Como todo grupo étnico, a gente se junta para reviver nossa cultura e para fazer negócios. As mulheres preferem as manicures brazucas, pois as americanas não tiram a cutícula (estou apenas reproduzindo as queixas de minha esposa, pois não entendo a necessidade de que esse troço seja removido); a gente acaba fazendo amizade com brasileiros, porque os americanos demoram demais para se abrir; os lugares que vendem feijoada, coxinha, esfiha aberta, pizza com catupiry, brigadeiro e pão de queijo são todos de brasileiros; e assim por diante. Tanta gente trabalhando e fazendo negócios só pode ser um sinal de que os imigrantes brasileiros estão bem integrados à sociedade local, certo?

Errado, por dois motivos: 1. A maioria dos brasileiros chega sem saber falar o idioma, e continua sem saber falar por muitos anos, limitando sua integração à comunidade brasileira e a alguns grupos hispanos; 2. Há um contingente enorme de brasileiros que trabalham ilegalmente. Uma parte deles veio com visto de turista e nunca mais voltou – ou seja, estão ilegais inclusive como imigrantes – e uma outra parte trabalha sem ter permissão, a maioria dos casos compreendendo gente que vem com visto de estudante e trabalha fora do horário de aula.

Quando leio algo como “62% dos jovens brasileiros querem sair do país”, entendo ser algo semelhante a “95% das pessoas gostariam de ganhar na loteria”. O brasileiro olha para a possibilidade da mudança, mas poucos são os que a encaram de fato, e pouquíssimos os que o fazem de forma correta e preparada. O domínio do idioma estrangeiro (ou a falta dele, melhor dizendo) é um fator bastante esclarecedor para esse ponto. É bem corriqueiro interagir com gente de diversas etnias aqui na região de Orlando. São chineses, indianos, árabes, venezuelanos, iranianos, mexicanos, brasileiros, italianos, haitianos e tantos outros imigrantes que ocupam espaços diversos no mercado de trabalho. Eles dirigem Ubers e Lyfts, atendem em cafés, prestam serviços, constroem casas, trabalham em hospitais, vendem carros, programam computadores etc. De todos eles, são os brasileiros e os haitianos os que têm o pior domínio do inglês. É muito comum ser atendido por um médico indiano, iraniano ou mesmo chinês, mas até hoje só conheci dois doutores brasileiros em quatro anos morando aqui. Um cliente de minha empresa me ligou um tempo atrás perguntando se eu conhecia alguém que falasse português e inglês com fluência, e que tivesse autorização para trabalhar. Quatro meses se passaram e ele me ligou novamente, com a mesma pergunta. Disse que não consegue achar ninguém que preencha os três requisitos, pois a grande maioria não fala inglês suficiente para atender a um telefonema, e as poucas candidatas que falavam não tinham autorização para trabalhar legalmente nos Estados Unidos. A vaga segue aberta em sua clínica, com um salário bom e possibilidades de crescimento.

Se os jovens brasileiros quiserem realmente se mudar do país, ou mesmo se quiserem ter algum sucesso dentro do Brasil, precisam abandonar a tendência nociva de fazer as coisas sem a devida preparação e treino, tão comum em nosso meio. O Brasil é um país de charlatães, de palestrantes de rodapé, de fazedores de gambiarra; é o país do “lá eu aprendo”, do “depois a gente vê”, do “deve ter um jeito, sim”. Embora essas características nos deem capacidade de improviso e grande adaptabilidade, acabam sendo a nossa ruína por excesso de uso. Quem quer ganhar na loteria precisa, antes de mais nada, jogar.

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