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Nelson Almeida/AFP
Nelson Almeida/AFP| Foto:

Estamos a menos de um mês do primeiro turno das eleições, ou seja, preciso terminar esta série de artigos o quanto antes. Em outros países civilizados, a série não passaria de três ou quatro artigos; no Brasil, com seu sistema político extra-super-multipartidário, a quantidade de candidatos é simplesmente ridícula. Enfim, só faltam dois.

Dividirei minha opinião sobre Geraldo Alckmin em três partes: capacidade de gestão, ideologia e partido.

 

Capacidade de gestão

Alckmin é, de longe, o candidato mais bem preparado nesse quesito. Como paulista que sou, posso dizer que votei nele em todas as oportunidades que tive, em parte porque sempre gostei de sua administração, em parte para evitar a catástrofe que seria o PT comandando o estado mais rico da federação.

Economicamente, sempre fez um bom trabalho, administrando São Paulo sob uma gestão fiscalmente responsável e mantendo um ambiente mais favorável ao empreendedorismo e aos negócios em geral, dentro das possibilidades que nossas leis federais permitem. Outro ponto de destaque, embora fortemente negado pela imprensa e combatido por seus oponentes, foi a melhoria dos índices de criminalidade no estado. Nos idos da virada do século, uma onda de sequestros e assassinatos varreu capital e interior de São Paulo, até mesmo em pequenas cidades onde até então se podia entrar e sair tranquilamente de casa. Naquela época, a taxa de homicídios era superior a 22 mortes para cada 100 mil habitantes. Uma década depois, a média do estado caiu para 12, maior redução entre todos os estados da federação. Além disso, diversas cidades, incluindo a capital, alcançaram índices inferiores a 10, marca considerada limítrofe para que um lugar seja classificado como seguro.

As maiores críticas a Geraldo Alckmin são direcionadas às suas políticas educacionais, com razão. Os estados brasileiros têm grande poder de influência nesse importante aspecto da vida dos brasileiros, já que as escolas públicas estão, em sua grande maioria, sob controle do governo estadual. E Alckmin fez um trabalho muito ruim nessa área, permitindo que a ideologização do ensino se aprofundasse, escolhendo pessoas erradas para gerir o sistema e criando regulações bizarras. Eu já tenho os dois pés atrás quando o assunto é o Estado se metendo na educação das crianças. Uma eventual presidência de Alckmin, se tratasse o setor com a mesma incompetência aplicada em São Paulo, seria terrível.

 

Ideologia

Alckmin nunca fez parte da ala mais à esquerda do PSDB, comandada desde os primórdios do partido por Fernando Henrique Cardoso e José Serra. Sua orientação ideológica – a do candidato, não a do partido – pode ser caracterizada como centro tendendo à direita. Em um sistema político equilibrado e em um país onde a grande imprensa não tratasse a direita como a reencarnação do fascismo, Alckmin seria certamente um representante das alas mais moderadas do espectro político. No entanto, em nosso sistema, o pragmatismo político é seu pior inimigo junto ao eleitorado conservador, já que seu partido se posiciona com a esquerda em importantes temas como aborto, desarmamento e educação. Arrisco dizer que, se tivesse realmente saído do PSDB, como quase saiu, Geraldo Alckmin teria mais chances de ir ao segundo turno. Poucos partidos, como veremos no próximo parágrafo, estão tão queimados com a população como o PSDB.

 

Partido

De longe, o PSDB é a pior parte de Alckmin. Não fossem a arrogância e o profundo esquerdismo de FHC, Lula não teria sido reeleito em 2006 e o Brasil teria evitado 9 anos de governo petista. Além de ser, por si mesmo, um fator ceifador de votos para Geraldo Alckmin, o PSDB tem uma das piores estratégias de campanha dentre todos os outros partidos – desde o início, apostaram que o PT estava garantido no segundo turno e que a briga pela segunda vaga seria com Bolsonaro; quando, na verdade, a primeira vaga sempre foi de Bolsonaro, e era justamente contra o PT que deveriam estar atirando. Por fim, esta eleição presidencial é a primeira em muitos anos em que o eleitor não é obrigado a votar no PSDB para se ver livre do PT, ou seja, o partido perdeu uma vantagem enorme que tinha logo de saída, e parece não ter percebido isso.

Resumindo, considero Alckmin o melhor candidato no tocante à gestão pública, não acho que ele seja um demônio esquerdista tentando transformar o Brasil em uma Venezuela (longe disso), e creio que a filiação ao PSDB seja o maior entrave à sua candidatura. Gostaria muito que ele fosse ao segundo turno com Bolsonaro, porque seria a melhor opção para o Brasil. Outros dois cenários possíveis de segundo turno são terríveis – Bolsonaro x Ciro, Bolsonaro x Haddad – e um terceiro, com Marina, é bem ruim. Infelizmente, se sua campanha continuar apostando as fichas no número errado dia após dia, Alckmin poderá sair com a pior derrota eleitoral de sua vida.

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