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Foto: Miguel Schincariol/AFP
Foto: Miguel Schincariol/AFP| Foto:

O primeiro turno se aproxima e essa sequência de artigos não termina. Reservei o último, na semana que vem, para o candidato mais perigoso, com mais potencial destrutivo para o Brasil. Fiz assim porque, quanto mais próximo da eleição, mais confiáveis serão as medições da transferência de intenção de votos de Lula para Haddad, fenômeno que vem crescendo desde que o PT oficializou a troca.

Hoje, portanto, falarei dos outros dois candidatos cujos perfis ainda não tinham sido discutidos, Henrique Meirelles e Alvaro Dias, que estão entre os meus preferidos nesta eleição. Digamos que, se eu participasse daquele exercício de elaboração de utopias que é o tal “Brasil que eu quero” do Jornal Nacional, diria que é o Brasil em que um desses dois candidatos disputa com João Amoêdo o segundo turno das eleições.

Henrique Meirelles

O candidato do MDB é o que se espera de um candidato do MDB: um verdadeiro representante do centro, conciliador e com diálogo aberto com praticamente todas as bancadas e partidos. O próprio discurso de sua campanha enfatiza essa característica, mostrando que Meirelles não somente atuou como ministro da Fazenda de Temer e presidente do Banco Central durante o governo Lula, mas também foi alvo de elogios de todos os outros candidatos principais em algum momento de sua vida pública.

Engenheiro formado pela Escola Politécnica da USP e detentor de um MBA pelo Coppead – uma combinação de ensino muito comum entre grandes nomes do mercado financeiro brasileiro –, Henrique Meirelles fez carreira no BankBoston, chegando a ocupar a presidência mundial do banco. Depois que se aposentou, resolveu seguir carreira política, sendo eleito deputado federal pelo PSDB nas eleições de 2002. Sua grande votação e seu prestígio profissional o tornaram um dos candidatos mais bem cotados para assumir a presidência do Banco Central no governo Lula. Em 2003, após convite formal do presidente petista, renunciou ao mandato de deputado, desfiliou-se do PSDB e passou a comandar o BC. Sua gestão, a mais longa da história, terminou em 2011 e é tida como um dos fatores que permitiram ao Brasil passar pela crise internacional de 2009 sem uma grande desestabilização da economia. A nomeação de Meirelles foi, por assim dizer, uma das poucas decisões acertadas que Lula fez durante seu governo, além de ter sido um caso raro de escolha por competência em um governo que ficou famoso por aparelhar todas as instituições públicas com militantes e apadrinhados.

Dentre os candidatos nesta eleição, é dono da segunda maior fortuna, com mais de R$ 377 milhões em bens declarados. Meirelles só perde nesse quesito para João Amoêdo. Aliás, a título de curiosidade, os dois candidatos e mais os nanicos Eymael e João Goulart Filho compõem o time de milionários que disputam a Presidência da República.

Por inúmeras razões, dentre elas a falta de carisma, a idade, uma campanha sem energia e quase sem militância, o desconhecimento de sua pessoa por grande parte do eleitorado, e suas realizações excelentes porém técnicas demais para a população simples entender, Henrique Meirelles nunca teve chances reais de passar ao segundo turno. As pesquisas o colocam sempre nas últimas posições, à frente somente de nanicos como Cabo Daciolo, Guilherme Boulos e Vera Lúcia, e dos colegas milionários Eymael e Goulart Filho – seu companheiro de fim de fila tem sido Alvaro Dias, pesquisa após pesquisa. É uma pena, pois Meirelles seria certamente um candidato em quem eu consideraria votar no primeiro turno e em quem eu certamente votaria em muitos dos possíveis cenários de segundo turno. Suas propostas não são nada revolucionárias, mas são todas boas e dentro do esperado para alguém que sempre conduziu sua carreira pública pautado pelo liberalismo econômico. Ademais, Meirelles representa a parte boa da continuidade do governo Temer, que tirou o Brasil de uma situação caótica e o colocou de volta aos trilhos da normalidade econômica.

Alvaro Dias

Detentor de uma longa carreira política, Alvaro Dias concorre pela primeira vez à Presidência da República. Começou cedo a disputar eleições, e ganhou a primeira em 1968, quando foi eleito vereador de Londrina pelo MDB. Depois, disso, pelo mesmo partido, vieram um mandato como deputado estadual e dois mandatos como deputado federal. Com a reformulação partidária de 1979, passou a integrar o PMDB, partido pelo qual foi eleito senador em 1982. Quatro anos depois, elegeu-se governador do Paraná, tendo altos índices de aprovação em sua gestão, por conta de um ótimo trabalho que incluiu cortes substanciais nos gastos do estado, decorrentes do enxugamento da máquina pública – ele fez o que sempre desejei para o Brasil, diminuir o Estado. Depois de deixar o cargo, ficou oito anos sem mandato, trocou de partido três vezes, até finalmente se estabelecer no PSDB, tendo sido eleito novamente senador em 1998. Ficou de fora da legislatura entre 2002 e 2006, ano em que foi eleito mais uma vez para o Senado, tendo sido reeleito em 2014. Desta vez, concorre pelo Podemos, o partido com o nome mais ridículo de todos.

Em termos de experiência e vivência, Alvaro Dias é um dos melhores quadros da política brasileira e certamente um dos candidatos mais qualificados para ocupar a Presidência da República. Suas propostas incluem pontos valorizados pelo eleitorado conservador – mais privatizações, flexibilização do Estatuto do Desarmamento, reforma da Previdência, redução de impostos etc. – e estão formuladas de maneiras “suaves”, tornando-se factíveis e implementáveis. Outros pontos positivos de sua biografia são a ausência de processos e condenações judiciais, um histórico de luta ativa no Senado contra o PT e sua quadrilha, e seu sucesso quando detentor de mandato executivo. Infelizmente, sua campanha sofre dos mesmos problemas da campanha de Henrique Meirelles, com a agravante de um tempo substancialmente menor de televisão. Ainda assim, Alvaro Dias tem ficado empatado ou à frente do colega na maioria das pesquisas, e deve terminar essa eleição na sexta ou sétima colocação. Caso sua votação seja menor que a do novato João Amoêdo, poderá considerar sua candidatura um grande fracasso; caso consiga chegar à frente dele, em sexto, apenas um fracasso.

Resumindo, temos aqui dois ótimos candidatos sem nenhuma chance de sucesso. Fosse a eleição um processo meritório, estariam certamente no topo das intenções de voto. Como a realidade é praticamente o contrário disso – vide os dois mandatos de Dilma –, vão amargar votações ridículas, quase na “zona de rebaixamento”. Dentro do espectro político brasileiro, Meirelles e Dias compõem a nossa centro-direita. Vê-los à frente de Marina e Ciro, por exemplo, já seria uma grande notícia. Ver um deles disputando o segundo turno, como disse no início do artigo, seria meu cenário ideal. O Brasil, como já sabemos, passa muito longe do ideal, e essa é a sina desses dois homens.

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