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Foto: Marcelo Andrade/Gazeta do Povo
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Tenho de interromper minha sequência de opiniões sobre os candidatos para abordar um assunto que pede atenção imediata. Semana que vem voltarei com as análises dos presidenciáveis, prezado leitor.

A esquerda, aquela mesma que passou 50 anos dominando o cenário cultural brasileiro, fez um estrago maior que muitos de nós imaginávamos. E por que digo isso nesse momento em que o foco do Brasil está nas eleições? Porque a manifestação desse enorme estrago está sendo vista justamente no processo de militância política para as eleições em questão.

Cinco décadas atrás, no Brasil ou em qualquer outra nação ocidental, não existiam “jovens” de 25 ou 30 anos de idade. A grande maioria dos homens e mulheres, quando chegava aos 25, já estava casada e com filhos; ou seja, já tinha deixado a casa dos pais e formado um novo núcleo familiar, acontecimento que costuma marcar o fim da transição da juventude para a idade adulta plena. Sob a forte influência de diversas agendas da esquerda, foi posto em prática um processo de engenharia social. Uma quantidade cada vez maior de mulheres entrou no mercado de trabalho, gerando um adiamento gradual nos planos de casamento e filhos. Acertar-se na carreira profissional tornou-se a prioridade de todo jovem – casar-se antes disso virou sinônimo de burrice; ter filhos, então, uma loucura impensável. Assim, aos poucos, uma multidão de Peter Pans foi se formando: homens e mulheres em plena idade adulta, vivendo ou com os pais ou em repúblicas de solteiros, alguns tentando vencer na vida profissional a todo custo, muitos outros usando esse mote como desculpa para uma vida acomodada e medíocre.

É fato que a quase totalidade das pessoas não atinge o topo hierárquico na vida profissional. Em uma sociedade centrada na família, a realização pessoal que se consegue em casa, no amor do cônjuge e dos filhos, é mais que suficiente para balancear as frustrações que vêm do fracasso profissional (ou, numa situação menos dramática, do sucesso abaixo do esperado). Em uma sociedade centrada no dinheiro e nas aparências, como a nossa atual – especialmente com o advento das redes sociais e da facilidade com que se propagam imagens falsificadas de felicidade e realização –, essas frustrações ficam latentes até o ponto em que surge uma válvula de escape.

O assunto todo é extenso a ponto de render uma dúzia de teses e estudos, mas o brevíssimo resumo acima é suficiente para embasar meu ponto: a militância política de nossos tempos, em especial a militância de redes sociais, é majoritariamente executada por jovens e “jovens” que encontraram em seu candidato a figura ideal para pôr em prática sua pequena revolução juvenil (agradeço ao amigo Daniel Souza pelo termo), esta sim a válvula de escape para toda a frustração acumulada. No caso desta eleição, destacam-se os militantes da candidatura de Jair Bolsonaro, que têm imposto um tom crescente de confronto, intolerância e conspiracionismo para com todas as outras candidaturas. Tacitamente endossado pelo próprio candidato – além de Jair não combatê-lo, seu núcleo duro de campanha faz uso constante do expediente –, esse movimento em direção à radicalização pode causar um belo estrago político no segundo turno. O caso que me levou a escrever este texto foi justamente o relacionado a João Amoêdo. Bastou que o candidato do Partido Novo aparecesse com 4% das intenções de voto na pesquisa do BTG Pactual para que a militância virtual de Bolsonaro se engajasse em atacá-lo de diversas formas, incluindo a disseminação de memes de mau gosto, teorias conspiratórias sobre a formação do Novo, assassinato de reputação do próprio Amoêdo, trogloditismo e capslockismo contra qualquer militante do partido, e assim por diante. O resultado prático desse modo de agir será o afastamento dos eleitores do Novo em um eventual segundo turno com a presença de Bolsonaro, ou seja, menos ajuda para conseguir os 50% mais um dos votos válidos.

Um bom tempo atrás, Olavo de Carvalho disse que formar uma elite intelectual e consertar a cultura do país era muito mais importante que ganhar a Presidência da República. O filósofo estava certíssimo, e as eleições de 2018 serão, provavelmente, a prova material de sua afirmação. O combate primeiro deveria ter sido voltado à falta de maturidade intelectual, à falta de um aparato cultural balanceado e ao baixíssimo nível de educação dessa geração que milita na base dos xingamentos sexuais e da ridicularização de oponentes e de eventuais aliados. Afinal, como organizar uma campanha e uma militância que sejam alinhadas com os melhores princípios e ideias judaico-cristãos sem que se tenha reformado a estrutura mesma que lhes provê a base de seu pensamento? Impossível.

Com o acirramento das campanhas, a entrada das inserções televisivas e a aproximação do primeiro turno, esse comportamento tende a piorar. A meu ver, Jair Bolsonaro precisa falar com sua militância, pedir que sejam um pouco mais humildes e, o mais importante de tudo, que abandonem a certeza de uma vitória no primeiro turno. É essa “certeza” que os faz queimar pontes com possíveis e necessários aliados em um segundo turno que deve, muito provavelmente, acontecer. E, mesmo que trabalhem e militem com o objetivo de levar a fatura já de primeira, não é com esse tipo de abordagem que conquistarão os indecisos e os moderados.

Enfim, voltando ao início deste artigo, a esquerda realmente destruiu nossa nação. O trabalho foi tão bem feito que qualquer tentativa de elevar o nível horrivelmente baixo de nossa política acaba soterrada sob a militância burra de todos os espectros políticos. Que Deus nos livre do pior, ter o PT de volta ao poder, e nos dê força para continuar lutando a boa luta. Apesar de tudo, ainda há muitas cabeças boas tentando colocar sensatez nessa bagunça que virou a campanha eleitoral de 2018. Que suas vozes consigam ecoar além dos gritos de truculência e intimidação.

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