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O presidente Jair Bolsonaro.
O presidente Jair Bolsonaro.| Foto: Sérgio Lima/AFP

Quem tiver um parente ou amigo próximo que enfrentou a covid entenderá o que vou falar: por mais que se possa questionar as decisões tomadas pelos mais diversos governantes do mundo neste fatídico ano, não me parece lógico questionar a gravidade da doença em si, muito menos da pandemia. É fácil criar teorias da conspiração olhando tudo em retrospecto; difícil é tomar medidas que afetam milhões e milhões de pessoas com uma quantidade limitada de informações sobre algo que acabou de surgir.

Em 2020, vimos presidentes e primeiros-ministros passando um sufoco sem precedentes nas últimas décadas. Cada qual a seu modo, optaram por níveis maiores ou menores de isolamento social, de suporte estatal à economia, de fechamento ou não de fronteiras etc. Uma das decisões mais importantes para conter a pandemia e trazer países de volta à normalidade tinha a ver com a vacinação. Afinal, essa é a grande esperança de combate a um vírus extremamente contagioso.

É provável que Jair Bolsonaro, dentre todos os governantes, tenha sido o pior no enfrentamento da pandemia. Sua coleção de frases completamente desprovidas de bom senso é única e imbatível:

  • “O poder destruidor do vírus está sendo superdimensionado.”
  • “A Europa vai ser mais atingida que nós.”
  • “Para 90% da população, é gripezinha ou nada.”
  • “Todos nós vamos morrer um dia.”
  • “Vírus está indo embora.” (em 10 de abril)
  • “Eu não sou coveiro.”
  • “E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê? Eu sou Messias, mas não faço milagre.”
  • “Tem medo do quê? Enfrenta!”
  • “País de maricas.”
  • “Não estou nem aí."

Tivesse dito uma ou duas dessas, mas ainda assim tivesse tido uma atuação exemplar no combate à doença, vá lá. Infelizmente, para todos os brasileiros, ele escolheu o pior caminho. Juntou, no pior momento possível, sua visível incapacidade de ser respeitoso para com as vítimas, sua incompetência como gestor, sua gentileza digna de um jumento descontrolado, sua inabilidade política, sua fixação infantil na hidroxicloroquina, sua rixa com João Dória e sua vagabundice inata.

Obviamente, a soma de tanta coisa ruim só poderia resultar em algo muito ruim. Os brasileiros, graças a Jair Bolsonaro, não têm ideia de quando começarão a ser vacinados. Da mesma forma, não sabem como enfrentarão o ano que em breve começará, e que trará a reboque o maior baque econômico que a geração atual já viu.

Quem quer que, despido de paixões políticas, olhe para o presidente, enxergará alguém incapaz de conduzir o país pelos tempos difíceis à frente. E não adianta buscar alento nos ministérios do governo. Paulo Guedes já deixou claro que é um homem de promessas vazias e mentirosas. Sérgio Moro já se foi faz tempo. A pasta da Saúde trocou mais de comando que time de futebol em crise. Há poucas exceções e elas não são suficientes para reverter uma percepção cada vez mais clara de que esse governo está perdido, tateando no escuro, tomando decisões sem nexo e sem planejamento.

A “disposição" do presidente de pescar com apresentadores de TV e jogar futebol em partida filantrópica diz muito sobre o que esse homem considera como prioridade em sua posição, em seu cargo. O tempo em que já passou governando o Brasil foi suficiente para desmentir suas declarações de amor pelo país e suas manifestações de patriotismo.

Bolsonaro parece viver com objetivos bem menos nobres, sempre focado em mostrar que estava certo (mesmo sendo esse “certo" apenas em sua cabeça) e que seus críticos estavam errados. É uma criança velha e enrugada, vivendo de birra em birra, de briga em briga, sem nenhuma vontade de crescer e aprender. Sua outra motivação é defender sua família a qualquer custo, mas não de forma honrosa.

No final das contas, saímos de um partido bandido, que governava para encher seus bolsos de dinheiro público e se perpetuar no poder, e chegamos a um sujeito que governa para manter seus filhos fora do alcance de qualquer investigação criminal e perpetuar sua família na política brasileira. Ao trocar o 13 pelo 17, o povo brasileiro acabou trocando seis por meia dúzia. E continuou na lama. Pelo jeito, na lama e doente, por um bom tempo.

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