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O amor nos tempos do corona
| Foto: Bigstock

Talvez você já tenho lido o romance do Gabriel García Márquez chamado “O Amor nos Tempos do Cólera”. Se já leu, sabe da história de amor de Florentino e Firmina, que ficaram 53 anos quase sem nenhum contato. É uma linda história de perseverança e de esperança. Mesmo em tempos de cólera, Florentino esperou por Firmina.

Na nossa história, já passamos por muitas epidemias, guerras e desastres naturais e, historicamente, enquanto sociedade, sempre saímos mais fortes, mesmo com tantas perdas.

O momento que estamos vivendo agora é único na história e realmente merece uma atenção redobrada dos governantes e de todas as decisões que serão tomadas, pois elas afetam diretamente a vida de milhões de pessoas. Continuo acreditando na força que nós temos para transpor desafios e vencer obstáculos tão desafiadores, e confesso que ainda me entristeço quando vejo o tamanho do descaso que líderes e parte da população têm em relação à gravidade do que estamos passando. Acho sinceramente difícil digerir piadas feitas neste momento, como também acho um absurdo enorme ver pessoas com o discurso “estou bem e vou continuar com a minha vida”.

Talvez o que podemos perceber é que tipo de humanidade temos construído nesse novo capítulo do nosso planeta. A maneira como nos posicionamos agora irá falar muito sobre quem somos nos livros de história daqui 30 anos.

Comecei este texto lembrando a obra de Gabriel García Márquez por duas razões. A primeira é porque tenho falado muito sobre o resgate da humanidade e de que chegou o momento de trazermos o humano de volta.

Esse é o tema central da minha palestra “Em terra de robô, quem tem coração é rei”. Quando digo “humano”, isso pressupõe, na essência, o amor. A base da nossa vida é e sempre será o amor. Teremos que aprender a ser como Florentino e saber expressar o amor pelo outro sem tocar, sem estar presente. Teremos que saber, como ele soube, a deixar de fazer o que gostaríamos de fazer por amor ao outro. Assim como ele aprendeu a expressar seu amor ao longo do tempo, preservando sua amada, temos que aprender a fazer o mesmo pelas pessoas mais próximas a nós.

Mais do que nunca, é muito importante entender aquele versículo que o mundo inteiro conhece, mas poucos vivem: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo”. A melhor maneira de viver isso é entender que temos que nos isolar o máximo possível. Acho lindo as iniciativas que estão surgindo, como jovens se colocando à disposição de idosos para fazer suas compras. Acho uma expressão genuína de amor os filhos estarem preocupados em cuidar dos seus avós, os deixando o mais protegidos possível.

A segunda razão é sobre perseverança e esperança. Não é o fim do mundo. Tudo vai passar e logo tudo vai se normalizar, e então não vamos ser os que reclamam e murmuram o tempo todo, mas os que veem esperança e perseveram na certeza de que algo novo vai brotar em meio ao caos. De que iremos nascer de novo como sociedade e humanidade e faremos nossos filhos mais fortes e preparados. Que saberemos usar a tragédia como escada para alcançar uma nova visão sobre o mundo, sobre as pessoas e sobre nosso papel na construção do amanhã que sonhamos.

Sim, o coronavírus é um mal sem precedentes no mundo. Sim, vivemos uma conturbada crise econômica sobre a qual vai demorar para sabermos os efeitos. Mas também esse vírus irá nos fazer mais fortes e mais preparados. É a nossa oportunidade de darmos um exemplo maior ao nossos filhos, de mostrar que está tudo bem, que o importante é que estamos juntos e que iremos construir um lindo capítulo de solidariedade, amor ao próximo e união. Pois este será o maior legado que produziremos para a história.

Florentino somos eu e você. Firmina são todas as pessoas que queremos bem, é aquela convicção dentro de nós de que podemos ir muito além do que só olhar o que nos cerca. Vamos cuidar de nós para cuidar de todos.

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