• Carregando...
Jerry Stiller como Frank Costanza no seriado Seinfeld.
Jerry Stiller como Frank Costanza no seriado Seinfeld.| Foto: Divulgação

Envelhecer é não atualizar mais as referências? Talvez seja. Quem aí automaticamente sabe do que estou falando com este título pedindo serenidade agora? Há 20 anos atrás não haveria quem não soubesse; hoje, saber é ter um memento mori. E precisar dar explicações. Serenity now!

Trata-se de uma fala que serve de título ao terceiro episódio da nona temporada do seriado Seinfeld, famoso nos anos 90, e que se tornou icônica. Faça o teste, procure no teclado do seu celular pelo gif “serenity now” e confira o que aparece.

O personagem Frank Costanza, sempre irritadiço, ganhou do seu médico uma fita cassete para relaxamento. Na fita, o sujeito pede ao ouvinte que, quando ficar nervoso, diga para si: “Serenity now!” (Serenidade agora!). O filho de Frank, George, perguntou, então, se era preciso dizer isso aos berros, como Frank fez, ao que este respondeu: “a fita não especificou”. Se preferir, assista à cena.

Estamos progredindo na cultura do cancelamento na velocidade de um corpo caindo num abismo

Depois, a expressão foi usada por praticamente todos os personagens da série, neste e em outros episódios, nas mais variadas circunstâncias em que a paciência está no limite. Aliás, Jerry Stiller, o ator que interpretou Frank Costanza, faleceu neste 2020. Não, não foi de Covid. Serenity now! Ao menos até onde foi informado, com a morte sendo por causa natural, talvez em decorrência de um derrame sofrido no ano anterior. E sim, ele é pai de Ben Stiller. Serenity now!

Pois tenho a certeza de que 2020 terá esta epígrafe no Livro da Vida. Porque olha, haja paciência. E também preguiça, muita preguiça de ter de dar atenção ao que nenhuma mereceria. Como esse tal de “sleeping giants”, que em tradução livre fica “sorrelfas adormecidos”. A esta altura o leitor sabe bem do que falo, não sabe? Serenity now!

O tal “coletivo de cidadãos contra o financiamento do discurso de ódio e das fake news!”, segundo sua descrição no Twitter, vem promovendo fake news de que o colega colunista Rodrigo Constantino teria feito apologia ao estupro – Serenity now! –, com isso produzindo um discurso de ódio achacando anunciantes desta Gazeta do Povo para que parem de anunciar no jornal. Para mais detalhes, leia a reportagem do jornal, o editorial desta sexta-feira, sua carta aberta aos leitores e também os textos que outra colega colunista, Madeleine Lacsko, vem publicando a respeito, bastante reveladores do tal coletivo anônimo.

Esta deve ser a centelhésima amostra da insanidade totalitária que nos acossa há anos e que em 2020 se tornou pandêmica e vai se exacerbando. Exemplo deste recrudescimento tivemos também nos últimos dias, com a inédita censura ao vivo por emissoras de televisão de um pronunciamento oficial do presidente dos Estados Unidos. Seja lá o que ele tinha e tem a dizer, é o presidente do país. Tudo o que ele fala, seja quem for que ocupe o cargo, importa. E, ainda que não fosse assim, jornalismo reporta, depois checa e analisa o que foi dito, mas jamais, jamais censura o fato em si, enquanto acontece. Serenity now!

Estamos progredindo na cultura do cancelamento na velocidade de um corpo caindo num abismo. De “xingar muito no Twitter” (e tudo ser esquecido em três dias) à proibição dos cancelados de terem perfis em redes sociais, receber pagamentos por seus serviços, manter empregos ou empreendimentos. Quanto tempo até fazermos como a China e criarmos “campos de reeducação” com instrutores como Felipe Neto? Serenity now!

Conteúdo editado por:Marcio Antonio Campos
0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]