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Meninos e meninas
| Foto: Pixabay

Meninos brincam de carros, espadas e guerras; meninas de bonecas, vestidos e castelos. Meninos desenham heróis que lutam contra vilões; meninas preferem desenhar flores e paisagens. Meninos e meninas são diferentes por razões muito mais profundas do que a vã ideologia sugere. Às vezes ocorre o contrário, meninos podem querer brincar de bonecas, enquanto meninas podem querer brincar de carros. Meninas querem desenhar dragões e heróis; meninos preferem vestidos e flores. E isso tudo não deveria ser um problema para quem preza pela realidade efetiva das diferenças entre os gêneros. Gênero importa mais do que imaginamos.

Qual o problema de ensinar meninos a serem cavaleiros e meninas a serem damas? Não, não se trata de um bordão político-conservador — também não gosto de gente retrograda: “meninos vestem azul e meninas vestem rosas”. É preciso superar estereótipos. Ser homem de verdade não significa ser o “machão” que abusa de mulheres, que não troca a fralda dos filhos e que não faz trabalho doméstico. Ser homem de verdade não tem nada a ver com “ser jogador de futebol”. Assim como ser mulher de verdade não significa ser donzela cuidando da casa, dos filhos e submissa ao marido.

Estereótipos não são a realidade. Estereótipos são preconceitos culturais. Sim, isso também existe e atrapalha a compreensão dos fatos. Pelo menos assim pensa o médico Leonard Sax, autor do livro Por que gênero importa?

Meninos e meninas são diferentes por razões muito mais profundas do que a vã ideologia sugere

Aqui no Brasil, o livro de Sax acabou de ser lançado pela Editora LVM. Nos Estados Unidos, já é best-seller. Sax convence: menino é menino; menina é menina. São diferenças fundamentais. Começam nas capacidades de ver, ouvir e cheirar. A visão, a audição e o olfato dos meninos são diferentes dos de meninas. Além disso, meninos e meninas são diferentes na disposição de correr riscos. São diferentes quanto ao modo de perceber o movimento. São diferentes quando desenham. São diferentes no modo como criam laços de amizade. São diferentes, por fim, na hora de aprender matemática, física, história e poesia.

Todas essas diferenças não querem dizer que meninos são superiores e meninas inferiores. Pensar assim é ser um idiota. As diferenças constatadas significam apenas que meninos e meninas são diferentes e isso importa na hora de educar e se desenvolver maturidade para encarar a vida adulta. Essas diferenças são importantes para que pais e professores não percam a oportunidade de educar seus filhos da melhor maneira possível, para serem pessoas melhores, mais responsáveis e virtuosas.

Leonardo Sax pode não convencer ideólogos presos em seus esquemas mentais e dogmas. Agora, se você está interessado em dados e ciência, não irá se decepcionar em percorrer as páginas desse livro escrito com clareza e objetividade. Sax coloca as coisas nos seus devidos lugares, principalmente numa cultura que trata qualquer menino que gosta de balé e de se vestir de menina na infância como transgênero. Ele recomenda prudência. Nada mais justo. Pois a partir dessa confusão, oferecem atalhos para transformar essas crianças — que precisam de atenção e cuidado — em cobaias de movimentos que desprezam os fatos.

E que fatos seriam esses? Como diz Sax com sua escrita cristalina: “O gênero é uma realidade. O gênero importa. Você não pode ignorar a realidade, se quiser; e ignorá-la não vai fazê-la desaparecer”. Assim mesmo, sem meias palavras. E ele argumento que “ignorar o gênero ou fingir que o gênero não importa tem gerado uma cultura utópica de cidadãos virtuosos (só utópica). Tais atitudes têm gerado uma cultura na qual meninos e meninas estão tentando descobrir sozinhos, sem a orientação de um adulto, o que significa ser um homem e uma mulher de verdade. Uma consequência disso são meninos disputando jogos violentos e meninas trocando fotos sensuais pelo Snapchat”. Não vai dar certo, porque a realidade cobra um preço alto. São muitos os relatos que Sax apresenta do livro.

O fato é que gênero não é virtude; coragem é virtude; senso de justiça, honestidade, generosidade, gentileza, veracidade, agilidade, amizade, modéstia, justa indignação, temperança, prudência e autonomia são virtudes. Machismo e feminismo não são virtudes; machismo é vício; feminismo, ideologia. Assim como são vícios covardia, preguiça, pedantismo, malevolência, insensibilidade, indiferença, grosseria, insolência, indecência, atrevimento, volúpia, licenciosidade, libidinagem, devassidão, orgulho, vaidade e arrogância. Ideólogos são vaidosos e arrogantes. Uma cultura que despreza as diferenças de gênero promove confusão entre virtudes e vícios, simplesmente porque perde a medida das coisas – é uma cultura que perdeu meninos e meninas para ideólogos.

Crianças brincam para simular, com o poder da imaginação, as possibilidades efetivas da realidade, as exigências tangíveis do mundo. Não precisam ser espartanas, mas devem antecipar as ameaças, os perigos, as conquistas, as decisões e as responsabilidades que a vida adulta exigirá. A imaginação treina o intelecto, a autonomia, a liberdade e o senso de dever. Brincar é exercício de imaginação, que diferenciará o certo e errado, o justo e o injusto, o virtuoso e o vício. Para entender o tipo de brincadeira das crianças, é preciso entender as diferenças fundamentais entre meninos e meninas. São diferenças na constituição biológica, na experiência do corpo, na configuração neurológica, e não mero dado cultural.

Quando dizem que “a ideia de que há brinquedos de menina e de menino está atrelada a um preconceito que a gente vai encucando nas crianças” o que ela faz não é nada além de atribuir ao mundo imaginário da brincadeira de menino e de menina — pelo qual, cada um a seu modo, distinguirá virtudes de vícios — o mundo ideológico e homogeneizado dela, onde tudo será permitido. Mas nem tudo é permitido, e a primeira constatação desses limites esta na diferença entre meninos e meninas.

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