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Maurício Souza (com a camisa 13) durante partida da seleção brasileira de vôlei nos Jogos Olímpicos de Tóquio.
Maurício Souza (com a camisa 13) durante partida da seleção brasileira de vôlei nos Jogos Olímpicos de Tóquio.| Foto: Miriam Jeske/COB

“Alexandre Ivo, 13 anos de idade, torturado e asfixiado por uma gangue neonazista por ser confundido com gay. Leonardo Santos, travesti linchada e executada a tiros em 2017. Kelly da Silva, travesti negra, teve o coração arrancado; o assassino confesso falou que um dos motivos ‘foi que ele era um demônio’. São três mortes severinas, as três mortes matadas e tantas outras em vida que parecem não importar para o nosso Congresso Nacional.”

“Gostaria de falar sobre Dandara dos Santos, torturada por oito homens e levada por uma carrinho de mão. [Ela foi] torturada até a morte, e morta com diversos tiros. Filmada e exposta na internet, esse caso foi qualificado pelo Tribunal de Justiça, Tribunal do Júri do Ceará, como motivação homofóbica. Houve um erro no caso, porque deveria ter sido [qualificado] por motivação transfóbica. Mesmo assim o Tribunal do Júri entendeu a motivação por homofobia.”

“Jéssica Jimmy, morta aos 23, [teve] 50% do corpo queimado. Seu corpo foi incendiado; ela foi amarrada e espancada em um ataque um ataque transfóbico, em São Gonçalo. O menino Carlinhos, um homem trans, que foi espancado até a morte, também em São Gonçalo, no Rio de Janeiro. Gostaria de citar Laura Verbom, 19 anos, assassinada quando voltava para casa em São Paulo. Ela foi assassinada, segundo as investigações, por policiais. Uma travesti, recentemente em Colatina, teve sua cabeça decapitada e seus olhos arrancados. Então, assim, os crimes de ódio não são qualquer tipo de crime.”

Homofobia se tornou termo tão elástico que, por homofobia, você pode criminalizar tanto a fúria odiosa do psicopata que decapita alguém como, por homofobia, você também pode condenar o jogador de vôlei que comenta um gibi com beijo gay

Os casos acima foram relatados por duas sustentações, na qualidade de amicus curiae, quando, em 2019, o Supremo Tribunal Federal discutia a criminalização da homofobia. Para ser mais preciso, quando julgavam a Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão (ADO) 26 e o Mandado de Injunção (MI) 4733, por suposta omissão do Congresso Nacional em editar lei que efetive a criminalização para atos de homofobia e transfobia.

Na época, escrevi o seguinte: “as sustentações a favor da criminalização da homofobia apelam para casos de extremo requinte de crueldade, coisas que a gente só vê em séries como Mindhunter. Mas sabe quem acabará sendo criminalizado caso passe? Tia Lurdes, que vai à igreja aos domingos”. Não deu outra. Homofobia se tornou termo tão elástico que, por homofobia, você pode criminalizar tanto a fúria odiosa do psicopata que decapita alguém como, por homofobia, você também pode condenar o jogador de vôlei que fez o seguinte comentário a respeito de um gibi do Super-Homem com beijo gay: “Ah, é só um desenho, não é nada de mais. Vai nessa que vai ver onde vamos parar”.

Qual o parâmetro para decidir o que é homofobia? Se homofobia é crime, e Mauricio Souza foi homofóbico, então Mauricio deve ser condenado como criminoso por um tribunal de Justiça e não simplesmente perder o emprego por causa da pressão do tribunal de exceção instaurado pelos proponentes das políticas identitárias. Para ser condenado por um tribunal de Justiça, Mauricio precisa ser julgado. Para ser julgado, precisa ser processado... sim, a espada da justiça é lenta.

Porém, boa parte da imprensa e toda a comunidade LGBT se apressaram no justiçamento e já sentenciaram: “Mauricio fez comentários homofóbicos”. Mauricio é, portanto, homofóbico. Obviamente o clube em que ele jogava e os patrocinadores são livres para não querer em seu portfólio de atletas um representante condenado por homofóbico pelo tribunal de exceção. De fato, nenhuma marca é obrigada a estar associada com alguém que amanhã poderá figurar como personagem em uma série policial sobre psicopatas que trituram suas vítimas por ódio e dão opinião sobre gibis de super-heróis.

Encerro com a reflexão que um amigo cristão. Não sou capaz de escrever melhor. O pastor e escritor Yago Martins escreveu:

“Já que homossexualidade é pecado, o normal é ser heterossexual. A Bíblia é heteronormativa, e a sociedade se afasta da influência cristã quando trata como algo normal a imagem de dois homens se beijando. Nisso, não há nada errado na fala do jogador.

Dito isto, algo incomoda: Não gosto do tipo de seletividade que se incomoda com homossexualidade nas mídias como se fosse pior que adultério, divórcio, violência, orgulho, ganância, ira, exibicionismo etc. O que leva alguém a lamentar homossexualidade em revistinha, mas não o sexo antes do casamento? Essa ênfase na homossexualidade como marca do fim da civilização ocidental é boba, infantil e contraproducente.

Boa parte da imprensa e toda a comunidade LGBT se apressaram no justiçamento e já sentenciaram: “Mauricio fez comentários homofóbicos”

Esse é só mais um assunto, no meio de um mundo totalmente oposto à fé. Só mais um, no meio de tantos. Não vale o incômodo. No entanto, algo chama atenção nisso tudo: grupos LGBT se tornaram poderosos e mimados. Guiam decisões sociais e financeiras com base em pressão pública, e se ofendem com tudo, o mínimo que seja. Perdoa-se tudo, de roubo à assassinato. O pecado imperdoável é não os aprovar.

Agora que tudo é homofobia e até questionar beijo gay em quadrinho virou motivo para demissão, caminhamos para tornar insustentável a existência em sociedade. Não existe mais diálogo e opiniões, apenas poder. Hoje, o poder é deles. Será triste quando a roda girar.

Conservadores querem calar os gays e trans. Estes militam pela demissão e exclusão da vida social de quem acredita em família tradicional. Cristãos, por outro lado, deveriam estar fora deste cabo de guerra: lembrando que o mundo está podre, e que a solução está fora do mundo. Ainda assim, estamos aqui para defender as liberdades mais profundas. Que gays não percam seus empregos por isso, que conservadores não percam seus empregos por isso. E que todos possamos nos permitir em sociedade – pelo bem da civilização, contra o estabelecimento da barbárie. Quer criminalizar homofobia? Então que seja qualificado: homofobia é um discurso de incentivo à violência, e ponto. Questionar se homossexualidade é desviante ou não, se suas uniões são equivalentes à família nuclear, se deveria estar em material infanto-juvenil NÃO É HOMOFOBIA. Você pode discordar, pode achar retrógrado, pode não gostar do discurso. No entanto, criminalizar o que te ofende é tomar o mundo de arrasto pela força. É quase como um ministro do STF terrivelmente evangélico tentar criminalizar discursos contra a crença em Deus.”

Conteúdo editado por:Marcio Antonio Campos
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