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Detalhe de "Cristo Carregando a Cruz", de Hieronymus Bosch.
Detalhe de “Cristo Carregando a Cruz”, de Hieronymus Bosch.| Foto: Wikimedia Commons/Domínio público

O grupo Porta dos Fundos voltou a debochar da fé cristã neste fim de ano de 2021. Às vésperas do Natal, o grupo escarneceu da fé cristã mais uma vez, agora retratando Jesus como um adolescente, tendo de se adaptar à vida na escola, consumindo pornografia, sofrendo bullying dos colegas e encontrando Deus, seu pai, em um prostíbulo.

O vilipêndio como método

Não é a primeira vez que o Porta dos Fundos resolve afrontar a fé cristã de forma direta. Em 2013, um programa de Natal do grupo causou controvérsia e protesto, pois na interpretação do grupo teria havido relações sexuais entre Deus e Maria, o que teria levado à sua gestação e ao nascimento de Jesus, que tentou fazer “negociações” com os soldados que o pregaram na cruz. Em 2014, decidiram que o alvo da zombaria seria o patriarca Abraão, com piadas também sobre Deus. Como um dos integrantes do grupo afirmou, as Escrituras Sagradas seriam uma “fábula [...] um bom mote para o humor. [...] Ótimas para subverter e brincar”. Em 2016, voltaram a ridicularizar os relatos bíblicos sobre Jesus Cristo, retratando-o como “um humano seletivo no seu amor”, e alguém que acha a missa chata, falsa e entediante. E, em 2019, retrataram Jesus Cristo como homossexual, e Maria como adúltera e usuária de drogas.

Como entender o ódio e o desprezo aberto pela fé cristã por parte desse grupo, sobretudo na data em que se celebra tradicionalmente o nascimento do único Salvador, o Messias Jesus, adorado por 81% dos brasileiros como o Deus que assumiu a natureza humana?

O ódio dos esquerdistas à fé cristã

A explicação mais simples é que esquerdistas tem aversão à fé cristã, por mais que afirmem o contrário. Dennis Prager resumiu algumas das razões do ódio que os adeptos desta ideologia têm do cristianismo, sobretudo da celebração do Natal. De acordo com Prager, em primeiro lugar, “a esquerda vê no cristianismo seu principal inimigo ideológico e político. E está certa nisso. A única oposição organizada e de larga escala contra a esquerda vem da comunidade cristã tradicional – protestantes evangélicos, católicos tradicionais [...] – e de judeus ortodoxos.  O esquerdismo é uma religião secular e considera todas as outras religiões imorais e falsas”. Prager destaca corretamente: “A esquerda entende que quanto mais as pessoas acreditam no cristianismo (e no judaísmo), menor a chance de a esquerda ganhar o poder. A esquerda não se preocupa com o Islã, porque o percebe como um aliado em sua guerra contra a civilização ocidental e porque os esquerdistas não têm coragem de enfrentá-lo. Eles sabem que o confronto com os religiosos muçulmanos pode ser fatal, enquanto o confronto com cristão não implica riscos”.

Como entender o ódio e o desprezo aberto pela fé cristã por parte do Porta dos Fundos, sobretudo na data em que se celebra tradicionalmente o nascimento do único Salvador?

Em segundo lugar, adaptando os argumentos à nossa realidade, “a esquerda considera o cristianismo como parte intrínseca da identidade nacional” brasileira, “uma identidade que desejam erodir em favor de uma identidade de ‘cidadão mundial’”.

E uma terceira razão é que, de acordo com Prager, “a esquerda é triste. Qualquer coisa e quem quer que a esquerda influencie tem menos alegria na vida. Conheci liberais felizes e infelizes e conservadores felizes e infelizes, mas nunca encontrei um esquerdista feliz. E quanto mais à esquerda você for, mais irritadas e infelizes serão as pessoas que encontrará. [...] O Natal é feliz demais para a esquerda. Noite Feliz não é uma canção para ela”.

Voltando ao Porta dos Fundos, o desprezo que o grupo demonstra pela fé cristã é parte da campanha aberta implementada pelas esquerdas contra a fé cristã. Como Jones Rossi comentou, tratando do líder do grupo: “Talvez Gregório Duvivier não planeje os ataques [à fé cristã] de forma tão premeditada – até para isso seria necessário ter uma sólida formação intelectual. Mas, ao fazê-lo, segue à risca o roteiro pré-determinado de parte da esquerda que deseja impor sua agenda [anticristã] sem resistência”.

O que os ideólogos esquerdistas almejam é o Estado laicista, marcado por intolerância religiosa, que almeja eliminar Deus e a fé cristã, atacando fortemente a liberdade religiosa e banindo do meio público qualquer expressão ou símbolo de religioso. E, como afirmou o papa Bento XVI, o Estado laicista intenta implantar a “ditatura do relativismo”, eliminando a verdade e o direito natural. Assim, uma das formas de criar embaraços à prática da fé cristã no Brasil é que numa das frentes são realizados ataques contra o direito à liberdade religiosa por meio da tentativa de aprovação de projetos de lei, ações civis públicas, recomendações administrativas, decretos, decisões judiciais e ataques midiáticos, intentando suprimir a fé do espaço público. Em outra frente, esquerdistas insuflam o deboche vulgar contra a fé cristã, por meio de programas como o Porta dos Fundos ou em paródias sobre o Senhor Jesus em blocos carnavalescos.

O testemunho das Escrituras sobre Jesus

O apóstolo João registrou uma fala de Jesus aos judeus, diante do Templo em Jerusalém: “Quem crer em mim, como diz a Escritura, do seu interior fluirão rios de água viva. Isso ele disse a respeito do Espírito que os que nele cressem haviam de receber” (João 7,38-39). O que o único Messias e Senhor ensinou, em outras palavras, é que somente podemos falar do Salvador a partir do que as Escrituras Sagradas revelam sobre ele. Pois as Escrituras Sagradas são a única fonte confiável que temos sobre a vida, feitos e obra do Salvador. Décadas depois, o apóstolo João, exilado por causa da fé na ilha de Patmos, afirmou após receber revelação divina que o Messias Jesus é “a Fiel Testemunha, o Primogênito dos mortos e o Soberano dos reis da terra. [...] Que nos ama e, pelo seu sangue, nos libertou dos nossos pecados, e nos constituiu reino, sacerdotes para o seu Deus e Pai”, digno de receber toda “a glória e o domínio para todo o sempre”. E que também “ele vem com as nuvens, e todo olho o verá, até mesmo aqueles que o traspassaram. E todas as tribos da terra se lamentarão por causa dele” (Apocalipse 1,5-7). Portanto, como Martinho Lutero escreveu, “da mesma forma como vamos até o berço tão somente para encontrar um bebê, também recorremos às Escrituras apenas para encontrar Cristo”. Somente as Escrituras Sagradas nos revelam quem, de fato, é nosso Salvador.

Assim sendo, recebendo como verdadeiro o testemunho de Jesus revelado na Escritura Sagrada, lembremos do que C. S. Lewis escreveu tempos atrás: “Estou tentando impedir que alguém repita a rematada tolice dita por muitos a respeito de Jesus Cristo: ‘Estou disposto a aceitar Jesus como um grande mestre da moral, mas não aceito a sua afirmação de ser Deus’. Essa é a única coisa que não devemos dizer. Um homem que fosse somente um homem e dissesse as coisas que Jesus disse não seria um grande mestre da moral. Seria um lunático – no mesmo grau de alguém que pretendesse ser um ovo cozido – ou então o diabo em pessoa. Faça a sua escolha. Ou esse homem era, e é, o Filho de Deus, ou não passa de um louco ou coisa pior. Você pode querer calá-lo por ser um louco, pode cuspir nele e matá-lo como a um demônio; ou pode prostrar-se a seus pés e chamá-lo de Senhor e Deus. Mas que ninguém venha, com paternal condescendência, dizer que ele não passava de um grande mestre humano. Ele não nos deixou essa opção, e não quis deixá-la”. Portanto, aqueles que recebem como verdadeiro o testemunho das Escrituras Sagradas só têm como opção reconhecer que Jesus é o Senhor, o único Messias, o eterno Filho de Deus, o Deus-homem, o único mediador entre Deus e a humanidade pecadora.

Quanto aos que debocham de Deus, aqueles que são da fé não devem se abalar. As Escrituras Sagradas ensinam que diante dos ataques contra Deus e seu Messias, é o próprio Senhor que ri diante dessa situação

Como celebrado no famoso hino Oh, vinde, fiéis (Adeste Fideles), de 1751, atribuído ao músico católico John Francis Wade, e cantado por todos os cristãos no Natal:

Deus de Deus, Luz de Luz
Carregado no ventre de uma virgem
Deus verdadeiro, gerado, não criado

Oh, vinde, adoremos!
Oh, vinde, adoremos!
Oh, vinde, adoremos a nosso Senhor!

Diante do “Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade”, e que revelou “a sua glória, glória como do unigênito do Pai” (João 1,14), lembramos da máxima de Inácio de Loyola: “Para aqueles que creem, nenhuma explicação é necessária; para aqueles que não creem, nenhuma explicação é possível”.

Quanto aos que debocham de Deus, do Messias e do que é sagrado aos cristãos, aqueles que são da fé não devem se abalar. As Escrituras Sagradas ensinam que diante dos ataques contra Deus e seu Messias, é o próprio Senhor que ri diante dessa situação. Como aprendemos no antigo livro de orações do povo de Israel: o Deus todo poderoso “que habita nos céus dá risada; o Senhor zomba deles. Na sua ira, a seu tempo, lhes falará e no seu furor os deixará apavorados”. E Deus diz ao seu eterno Filho, destinado a dominar todo o universo, da oposição que reinos tentam fazer contra ele: “Com uma vara de ferro você as quebrará e as despedaçará como um vaso de oleiro” (Salmos 2,4-5.9). Haverá um tempo de prestação de contas diante do Deus que não se deixa escarnecer!

A serviço de partidos esquerdistas

As limitações à liberdade religiosa vêm crescendo em todo o mundo nos últimos anos. E os cristãos também são os mais perseguidos, sobretudo em países dominados pelo islamismo ou pelo comunismo. Na China, crescem progressivamente as restrições e perseguições à manifestação da fé cristã. Agora, o governo autoriza apenas pregações nas redes sociais de doutrinas religiosas “que conduzam à harmonia social” e que guiem os fiéis chineses “ao patriotismo e ao respeito à lei”. Agora, os esquerdistas no Ocidente não escondem mais seu ódio e desprezo contra o cristianismo.

O grupo Porta dos Fundos é apenas uma pequena parte desse movimento esquerdista que tenta vilipendiar e ridicularizar a fé dos cristãos. O que a esquerda almeja é, como escrevem Thiago Vieira e Jean Regina, a imposição do “Estado Secular, o resultado final do laicismo. Nele o fenômeno religioso praticamente inexiste (pelo menos não de forma pública), e os elementos religiosos permanecem apenas como símbolo cultural. De certa forma, na secularização [...] existe um aculturamento total do fenômeno religioso a ponto de seu elemento transcendental deixar de existir”. E, para fins de boa compreensão, os dois fazem o contraste: “Por outro lado, laicidade implica na preservação dos poderes religioso e político, cada um com total autonomia e independência dentro de sua ordem. E essa autonomia do poder religioso existe exatamente por ter em seu objeto a transcendência, em outras palavras, por ter em si mesmo exatamente o oposto do que a secularização significa e propõe”.

Aliás, o já citado Duvivier é fervoroso apoiador do deputado federal Marcelo Freixo, agora no PSB – inclusive pedindo dinheiro nas redes sociais em 2014 para financiar suas campanhas. Freixo, que era do PSol, começou recentemente a visitar igrejas evangélicas, para tentar angariar apoio à sua campanha ao governo do estado do Rio de Janeiro. Duvivier, que já declarou voto no ex-presidente Lula nas eleições do ano que vem, também é firme apoiador do PT. Ele tem destaque no site oficial do partido que legou, na percepção popular, o governo mais corrupto da história do Brasil – não custa lembrar que as duas condenações de Lula e outras ações no âmbito da Operação Lava Jato foram anuladas devido a decisões do STF relativas a questões processuais. E Lula foi solto depois de 580 dias preso porque o STF mudou de entendimento quanto à prisão em segunda instância. Mas em 2012 o STF condenou dirigentes do PT sob o argumento de que eles lideraram esquema que desviou dinheiro público para compra de apoio político no Congresso.

Que, nas eleições que ocorrerão em 2022, os cristãos católicos e protestantes se lembrem dessas associações, diante do esforço intencional e deliberado por parte do Porta dos Fundos de ridicularizar a fé cristã. E fica a pergunta: será que ainda há cristãos que conseguem votar no PT, PCdoB e PSol? Acólitos destes partidos abertamente atacam a fé cristã e vilipendiam seus símbolos. Haverá mesmo cristãos que ainda votarão nesses partidos?

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O colunista deseja boas festas e ótimo ano novo a todos os seus leitores! Os textos dessa coluna retornarão em 1.º de fevereiro de 2022.

Conteúdo editado por:Marcio Antonio Campos
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