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Afroempreendedorismo e o Black Money

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Protagonismo

Afroempreendedorismo e o Black Money

03/12/2021 20:16
O afroempreendedorismo é considerado por muitos como uma das formas de atuar além da inclusão, proporcionando protagonismo de fato a profissionais que devem estar presentes em todos os setores da economia.
Nina Silva, sócia fundadora do Movimento Black Money e D’Black Bank e Adriana Barbosa, fundadora da Feira Preta e da aceleradora de startups Preta Hub, fizeram um panorama das questões ligadas ao afroempreendedorismo durante um webinar que aconteceu durante o ciclo de aceleração do InovAtiva de Impacto Socioambiental, programa especializado em fomentar startups deste gênero.
Nina Silva afirma de início que o Black Money é um conceito que não tem um "dono", é uma prática da comunidade negra em manter o dinheiro por mais tempo para gerar melhor empregabilidade, oportunidades de negócios e autonomia.
Adriana ilustra um pouco melhor qual a importância deste esforço. A profissional começou sua carreira observando as atividades culturais produzidas para e por pessoas pretas na Vila Madalena, bairro boêmio da zona oeste da capital paulista. "Eu vi o potencial e a cadeia produtiva naqueles eventos. As bandas, técnicos, a mão-de-obra e o consumo é preto, mas quem ganhava o dinheiro no fim da noite eram os donos das casas noturnas, ainda os homens brancos. Ou seja, a gente produz e consome, mas não somos nós que nos beneficiamos disto", diz.
No Movimento Black Money, Nina se esforça para difundir uma ideia central: o valor de empoderar pessoas pretas para que elas sejam investidoras de suas próprias potências. Segundo o Mapeamento do Ecossistema Brasileiro de Startups, da Associação Brasileira de Startups (Abstartups), divulgado em 18 de novembro de 2021, somente 4,5% dos fundadores das empresas é preto. O estudo ainda demonstra que 31% das startups, não tem nenhum colaborador preto.
O pesquisa Blackout: Mapa das Startups Negras 2021, da BlackRocks, foi publicada no dia 19 de novembro e obteve 2.571 respondentes, dentre esses 1.820 (70,8%) se autodeclaram brancos, amarelos ou indígenas, grupo denominado na análise como não-negros. Já os que se autodeclaram pretos ou pardos somam 646 (25,1%) respondentes.
Nina define três deficiências básicas na educação da população brasileira em geral: gestão de negócios, educação financeira e política. Quanto à última, ela se refere à arquitetura da manutenção do poder em poucas mãos, questão que continuamente reforça problemas estruturais como o racismo e machismo. "Falar de finanças, proporcionar acesso a estes temas em espaços como o InovAtiva é discutir a marginalização desses empreendimentos. A gente fala de afroempreendedorismo, mas não consegue falar de escala para essas empresas. Por que?", questiona.
"É normal eu ser convidada para discursar em grandes eventos, levar meu currículo, e ser chamada de 'empreendedora social'. Não há nada de errado com este título, mas na minha biografia estou como empresária. Existe um estigma em sempre nos colocar em uma posição de início, em pé de subsistência”, afirma a profissional. 
Segundo Nina, a comunidade preta já tem um entendimento financeiro ancestral, dos tempos em que escravos alforriados se reuniam para comprar a alforria de outras pessoas. "Temos um conhecimento financeiro coletivo de colaboração já faz muito tempo, mas não existe fomento para que ele se sinta mínimo. Não temos incentivo para entender quais ferramentas nos auxiliam a ter visibilidade de marca, modelar o negócio e conseguir escalá-los, de fato."
A empresária explica que isso acontece porque as pessoas que decidem o que é escalar, um unicórnio, que investem entre si – não abrem o leque para diversificar o ecossistema. Mundialmente, segundo Nina, temos somente 2% de aportes financeiros sendo feitos em empresas fundadas por mulheres. Quando é considerada a interseccionalidade entre grupo étnicos diversos, esta taxa cai para 1%.
"Este é o quadro mundial, e o que faz ainda menos sentido é que são justamente estes os grupos que trazem mais lucratividade para os acionistas." Nina afirma que startups lideradas por homens brancos trazem cerca de US$ 0,33 de lucratividade, enquanto as lideradas por mulheres, até US$ 0,78, segundo o Boston Consulting Group.
"Movimentos culturais coletivos ajudaram a construir o fortalecimento da questão identitária e, na medida em que começamos a nos autodeclarar, também reivindicamos produtos que atendam nossas especificidades", acrescenta Adriana.
Foi muito recentemente que grandes marcas de cosméticos começaram a incluir tonalidades para peles negras em suas paletas, Adriana coloca como exemplo. Ela também fala sobre o processo de transição capilar de mulheres negras.
"Há pelo menos dez anos, só era possível encontrar produtos nas prateleiras com nomes como 'dome seus cachos', 'xampus para cachos rebeldes' – era uma comunicação extremamente agressiva. Hoje é muito difícil ainda existir esse tipo de rótulo", diz. A profissional afirma que esses processos de transformação no campo do consumo foram feitos de uma dinâmica de ativismo social, o que chama de "consumo político".
"Minha escolha por consumir um produto de um empreendedor negro é mais uma questão de posicionamento político do que qualquer outra coisa. Eu sei que, à medida em que mais pessoas consumam a marca dele, isso o potencializa e ele consegue fazer seu negócio crescer", explica Adriana. 
A profissional ainda exemplifica seu ponto falando sobre marcas que usam o poder de consumo da comunidade preta, mas não a beneficia. "A Salon Line, por exemplo, é uma marca campeã em produtos para cabelos pretos. Eles são bons e a comunicação é boa. Mas ela não desenvolve impacto social. Uma empresa, para conseguir alcançar seu patamar, precisa de muito investimento."
"Esta situação precisa de uma mudança sistêmica, que parte de políticas públicas e de pressão do próprio mercado. É necessário mudar a forma como consumimos, e isso envolve muitos contextos diferentes, para que consigamos chegar a pé de igualdade nessa relação entre produção e consumo", finaliza Adriana. 

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