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O que as empresas tradicionais de agronegócio têm a aprender com as agtechs

Celso Casale*

Agronegócio

Como as empresas tradicionais de agronegócio podem se desenvolver com as inovações trazidas pelas agtechs

31/03/2022 20:02
As transformações que os mais diversos negócios têm experimentado com a incorporação de recursos que envolvem tecnologia e inovação tornam visíveis demandas por novas soluções para velhos problemas. No segmento da agropecuária, atestamos o mesmo fenômeno: empresas tradicionais do agronegócio têm acompanhado de perto a revolução empreendida especialmente por startups do nicho da agropecuária, as chamadas agtechs, e aprendido com elas novas formas de enfrentar os desafios do campo. Em termos de tecnologia, nós já estamos vivendo o futuro.
É claro que o agronegócio brasileiro, já nas últimas décadas, já vinha desenvolvendo uma estreita relação com a tecnologia. Como um dos principais motores da economia (estamos falando de um setor que movimenta 1/4 do nosso PIB e de um dos únicos que não parou durante as fases mais agudas da pandemia), a produtividade da agropecuária brasileira está intimamente ligada às contínuas inovações em termos de maquinário e automação: 67% das nossas propriedades agrícolas já adotaram algum tipo de tecnologia, segundo a Comissão Brasileira de Agricultura de Precisão. Mas acredito que as novidades representadas pelas agtechs, startups que focam em resolver questões da produção no campo, ainda estão só no início do seu potencial de contribuição no agronegócio.
Para se ter uma noção, vimos nascer quase uma agtech por dia desde o início da pandemia no Brasil: o relatório Radar Agtech Brasil 2020/2021, elaborado pela Embrapa, SP Ventures e Homo Ludens Research and Consulting, com apoio do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, aponta que já contamos com 1.574 startups do setor atuando no agronegócio brasileiro. Estas jovens empresas já atendem a cerca de 70% do território brasileiro, de acordo com a Associação Brasileira de Startups (Abstartups), e as projeções para o futuro são animadoras.
Quando empresas tradicionais do agronegócio abraçam as ideias trazidas por estes jovens empreendimentos, o que temos como retorno é um mercado mais dinâmico, inventivo e capaz de se adaptar às demandas dos novos tempos. Refiro-me aqui a startups que produzem, por exemplo, processos que visam a otimização e a integração de fazendas produtoras por meio de softwares, tornando o campo mais inteligente, no sentido contemporâneo da palavra. As agtechs podem ajudar as empresas tradicionais do agronegócio a levar ao chamado “agro 4.0”, que contempla tecnologias que atuam em detalhes de cada animal, sementes e demais insumos. O relatório Smart Agriculture Market (2016 - 2025), produzido pela Zion Market Research, aponta que o mercado da produção inteligente nas fazendas produtoras ao redor do mundo vai gerar US$ 15,344 milhões daqui a três anos.
Além disso, tenho acompanhado agtechs que têm desenvolvido tecnologias que envolvem Internet das Coisas (IoT) a Inteligência Artificial (AI) para elaborar soluções que podem aumentar a previsibilidade de condições meteorológicas, produzir melhores análises do solo, da vegetação e mesmo calcular a nutrição mais adequada para cada tipo de planta ou tipo de animal para produção de carne ou leite. Estas iniciativas são grandes aliadas dos produtores rurais na hora de tomar melhores e mais assertivas decisões.
Mesmo sem o uso de recursos tão elaborados, estes jovens empreendimentos dispõem de inovações cuja inventividade e criatividade não podem ser ignoradas pelas grandes companhias do agronegócio brasileiro. Há iniciativas, por exemplo, que desenvolvem biofábricas que viabilizam a reprodução de insetos capazes de exterminar pragas que causam prejuízos nas fazendas produtoras, ao alimentar-se de larvas que destroem plantações inteiras. Trata-se de uma iniciativa incomum e, sobretudo, conectada com os anseios por uma produção com menor ou nenhum uso de insumos químicos e sobretudo, com foco na sustentabilidade ambiental atrelada a reponsabilidade social e governança.
Entendo que as agtechs apontam para o futuro que diz respeito a ESG e ajudam as empresas tradicionais do agronegócio a ganharem cada vez mais produtividade, cuidando melhor do meio ambiente. São demandas da sociedade práticas nesse sentido, reduzindo o desmatamento e gerando um balanço positivo quanto emissão/sequestro de carbono.
O mercado está bem movimentado em busca por opções para aporte de capital em agtechs com bons projetos de soluções inovadoras. Parte dos agentes interessados são a própria indústria de máquinas e equipamentos dedicada ao agro e também grandes empresas ligadas de alguma forma ao agronegócio.
São as agtechs que já estão determinando a velocidade de implantação de tecnologia e automação no setor. Entre as soluções tecnológicas destacam-se a oferta de softwares de gestão da produção agropecuária em geral, uso de internet das coisas e big data analytics para o setor. Entre as demais soluções para a agropecuária, já temos uma oferta equilibrada entre biotecnologias, automação e robotização, além de soluções de marketplace.
O futuro é hoje e é mandatório estar de olho para captar o que aqueles que estão pensando "fora da caixa" podem nos ensinar e, assim, trazer novidades para o negócio, atualizando e solidificando sua força no mercado. As agtechs têm muito a ensinar às empresas tradicionais do agronegócio, tanto em termos operacionais como com valores como mudança, velocidade, criatividade, inovação e, é claro, sustentabilidade.
*Celso Casale é o presidente do Conselho Consultivo da Casale Equipamentos, empresa líder no segmento de máquinas para alimentação de bovinos confinados e semiconfinados. Ele foi diretor presidente da companhia entre os anos de 1979 e 2020 e fundador, e presidente da Agropecuária Integração Ltda.

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