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O Dilema das Redes: novo documentário da Netflix discute a privacidade digital.

Bruno Dreher*

Redes sociais

“O dilema das redes”: documentário da Netflix expõe o pior das redes sociais

11/09/2020 11:52
“O Dilema das Redes” é um filme documental que estreou na Netflix na última quarta-feira (9). A obra dá voz a diversos executivos, programadores e ex-funcionários de algumas das gigantes de tecnologia do mundo, como Google, Facebook e Twitter, trazendo a público detalhes sobre seus modelos de negócios.
O documentário é um pouco alarmante e, a meu ver, um pouco exagerado. Porém, sempre há de se ouvir os exageros para fazer um exercício de imaginação sobre o que pode acontecer se não ficarmos vigilantes.
Deste filme, retirei uma frase que resume o mercado de tecnologia de hoje: se você não paga pelo produto, você é o produto.
Este é exatamente o modelo de negócios destas empresas. Na verdade, trata-se de uma releitura moderna de modelos antigos, como a TV aberta ou até mesmo o rádio: você não paga para consumir, as emissoras criam conteúdo para atrair sua atenção e vendem parte dela para um anunciante (falei sobre isso neste artigo sobre a Pluto TV e seu modelo "freemium").
Mas vamos voltar no tempo. Em 2007, criei minha conta no Facebook. Comparado a hoje, naquela época ainda havia poucos usuários na rede e eu possuía uma quantidade reduzida de conexões. Naquela época, eu poderia entrar uma vez por dia na rede e ver todos os posts de todos os meus contatos.
Com o tempo, o número de usuários da rede foi crescendo e o número de amigos que eu fazia, também. E aí tudo mudou de figura: era impossível entrar uma vez por dia e ver os posts de todos. Era preciso entrar duas, três, quatro vezes — até que isso ficou impossível. As pessoas começaram a perder parte dos conteúdos que lhes interessavam.
E aí entram os tão falados algoritmos. Como era impossível fazer você ver tudo, as empresas criaram uma inteligência artificial para identificar o que você quer ver, baseado em seus amigos, curtidas, páginas que você segue, etc.
Até aí, nada de errado! Isso foi feito para ajudar você a ver os conteúdos que lhe interessam. Com isso, você se mantém mais tempo conectado. E quanto mais eles lhe conhecerem, mais assertivos eles serão na escolha do conteúdo que você quer ver.
E isso serve também para os anunciantes: se você mora em Curitiba e nunca foi para Goiânia, não faz sentido aparecer um anúncio de imóvel em Goiânia para você.
Mas as redes sociais têm efeitos colaterais, os quais estamos percebendo agora. Uma delas é a criação de bolhas. Em 2014, já se falou muito em excluir pessoas do Facebook por diferenças políticas. Quem fez isso, se excluiu de pensamentos diferentes e sua rede só afirmou ainda mais suas convicções. O que, em 2018, tornou-se ainda mais evidente, com uma polarização ainda mais acentuada.
Outro efeito colateral é o vício. Cada curtida, novo amigo, seguidor ou notificação que você recebe é uma injeção de dopamina no seu cérebro. Isto acontece pois somos seres sociais e ao sermos “aceitos socialmente”, recebemos uma recompensa, que é este estímulo de dopamina. Este efeito também acontece com o uso de drogas ilícitas.
Inclusive, o próprio seriado compartilha outra frase interessante: “Os únicos mercados que chamam seus clientes de ‘usuários’ são os das redes sociais e das drogas ilícitas”.
Tudo há de se colocar em uma balança. É fato que as redes sociais trazem benefícios para os humanos. Caso contrário, não seríamos tão ativos e, por que não, dependentes delas. Porém, a percepção destes efeitos colaterais não muito positivos, pode fazer com que possamos nos tornar imunes a eles.
Eu não excluo ninguém por pensar diferente de mim. Pelo contrário, tento me manter longe de uma bolha, sempre explorando novos conteúdos, pessoas e pontos de vistas. Mas não pense que eu não fico indignado com o que não concordo, e penso muitas vezes em me afastar das pessoas. Mas isso permite que eu não me torne alienado, preso em um mundo em que todos pensam igual a mim.
A discordância leva o mundo adiante. Einstein discordou de Newton, Churchill discordou de Hitler, Nikola Tesla discordou de Thomas Edison, que discordou de John Rockefeller. Estes são apenas alguns exemplos de discordâncias que mudaram o mundo para melhor.
Saia da sua bolha! Aceite quem discorda de você! Crie novas soluções! Todos vamos sair ganhando.
*Bruno Dreher é consultor, palestrante, especialista em inovação pela Universidade Hebraica de Jerusalém, membro da World Futures Studies Federation (Paris, França) e World Future Society (Chicago, EUA).

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