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Sócia da Agência 110, Priscila Kempner faz uma reflexão sobre reinvenção de carreiras, como a de motorista, que podem ser afetadas pela tecnologia.| Foto: Unsplash

O fato desta profissão aparecer na lista como uma função que teve crescimento médio anual de 68% me chamou bastante a atenção - e não só porque eu me considero uma boa motorista e sei que tenho um cargo garantido se quiser mudar de carreira (risos) - mas porque recentemente, eu havia lido uma matéria elencando que nos EUA o setor estava sofrendo muito para encontrar profissionais nesta área.

Algumas empresas estavam oferecendo para motoristas cerca de US$ 70 mil dólares ao ano, quando a média de salário do país gira em torno dos U$$ 44 mil dólares/ano. Embora a proposta financeira fosse bastante tentadora, ainda assim, existia uma escassez de 51 mil trabalhadores no setor.

Outro dado que me chamou a atenção, é que há três anos, em uma pesquisa realizada pelo site CareerCast -- que avaliava projeções para algumas profissões que teoricamente iriam morrer no futuro-- o cargo de motorista estava com a sentença de morte declarada, pois aparecia em terceiro lugar com 97% de chances de não existir mais em 2025. E olha que isso é só daqui a 5 anos. Estranho, não?

Na verdade, existe uma combinação de fatores que pode estar influenciando direta ou indiretamente esses dados, entre eles a questão demográfica, quando falamos em “pirâmide etária” e o fato de muitas pessoas estarem se aposentando na profissão, enquanto jovens não aspiram por este cargo. Podemos citar também a questão econômica, o crescimento na busca por comodidade, a confiança na compra online, aplicativos de delivery e por aí vai.

E será que podemos assumir também que o fato da tecnologia ter entrado em um crescimento exponencial nos últimos anos, fez com que fosse propagado a notícia de que, muito em breve, a inteligência artificial iria substituir grande parte do trabalho humano? A viralização desses fatos teria feito com que profissionais de diferentes segmentos se sentissem inseguros e muitos, ao invés de buscar evoluir em suas áreas de atuação, acabaram colocando o foco de atenção em profissões ditas do futuro?

Definitivamente, não sabemos a resposta.

No entanto, quando resolvi olhar de forma mais atenta para o estudo do LinkedIn para 2020, notei que os três segmentos que mais buscam a profissão de motorista atualmente são: internet; serviços e facilidades ao cliente e por fim, transportes terrestres e ferroviários.

Também pude observar que os aplicativos brasileiros para transporte privado de passageiros e os de entrega em domicílio, tiveram impacto direto para o aumento de 68% na demanda anual por essa função.

E por fim, outra informação que vale ressaltar, é que as habilidades requisitadas para o motorista atual, segundo o estudo, são: técnicas de negociações, atendimento ao cliente, liderança, além de conhecimento em ferramentas básicas como o Pacote Office.

Achei engraçado, pois na época em que eu trabalhei com logística, eles não precisavam ter nenhum estudo específico, a única coisa obrigatória era a carteira de motorista. Já hoje, quando penso nos “motoras” que dirigiam os caminhões da empresa naquela época e mal sabiam ler e escrever, vejo tamanha evolução que essa profissão sofreu ao longo dos anos. Quantos foram os profissionais da área que evoluíram junto com ela?

Por que se profissionalizar?

Veja, com os níveis de serviço dos e-commerces cada vez mais altos, o motorista precisa utilizar aplicativos de geolocalização, gerenciamento de risco e muitas outras ferramentas, mesmo que em uma interface mais simplificada. Além do mais, o próprio feedback do motorista, ao se expressar bem, pode ajudar as empresas a entender como otimizar a rota e sugerir outras melhorias possíveis para continuarem evoluindo o mercado de logística no Brasil, que ainda está engatinhando.

Mas espera! Não seria justamente o avanço tecnológico o grande responsável por acabar com diversas profissões nos próximos anos, incluindo a de motorista, segundo o estudo da CareerCast?

Primeiro, entendo que existe uma diferença gritante entre o mercado americano e o brasileiro, portanto, os estudos mencionados acima não servem para fins comparativos, tanto é que a profissão de motorista não aparece nas 15 profissões 2020, no mesmo estudo do LinkedIn referente ao mercado americano.

Segundo, percebo que nos últimos anos o Brasil tem passado por momentos delicados em termos de economia. Atualmente são aproximadamente 12 milhões de desempregados e isso fez com que muitos brasileiros buscassem alternativas para a geração de renda. Ensaia-se um reaquecimento econômico para os próximos anos. Se isso acontecer e houver uma diminuição ainda maior na oferta de motorista, seria um indicativo de que o movimento na verdade, era a necessidade de um trabalho rápido com entrada facilitada para geração de renda a curto prazo?

Em terceiro lugar, eu acredito que algumas profissões terão de ser reinventadas enquanto outras, inevitavelmente, serão extintas com o avanço da tecnologia e os serviços de automação. Mas isso já não aconteceu na história outras vezes? Onde estão os datilógrafos, os telefonistas e os caçadores de ratos (não se preocupe, eu também não fazia ideia que essa profissão já havia existido um dia).

E por fim, a reflexão que eu gostaria de deixar é a seguinte:

Será que a disseminação de notícias alarmantes de que a “a sua profissão vai acabar em 5 anos” não tem provocado a inquietação e impactado diretamente na escassez de alguns profissionais que só precisavam se reinventar dentro de suas próprias áreas?

E se pensássemos mais em reinvenção, adaptação e inovação dentro do próprio segmento ao invés de querer que todo mundo seja programador ou trabalhe com marketing digital, só porque são segmentos que estão em alta?

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O carteiro está em segundo lugar como uma profissão “fadada ao fracasso” para os próximos 5 anos, mas se porventura, tomado pela nostalgia que está tão em voga, alguém resolve reinventar as cartas escritas à mão e isso vira um serviço super requisitado. Já pensou?

Quem vai dizer que é impossível já que hoje estamos usando tênis das Spice Girls dos anos 90 ornando com as calças que a nossa mãe usava na adolescência dela? É meus caros, o mundo parece ser cíclico.

O fato, é que eu não sei se existem pessoas que querem trabalhar o resto da vida fazendo sempre a mesma coisa. Eu, por exemplo, posso dizer que não me encaixo nesse perfil.

No entanto, ainda assim, precisamos de algumas profissões “ditas antigas” para viabilizar as soluções do futuro. Esse é o motivo pelo qual o motorista é uma das profissões emergentes no Brasil para 2020 e que saibamos reconhecer a necessidade de novos velhos profissionais para suprir a inovação que tanto buscamos. Acredite e inove dentro da sua área, caso contrário, mude.

*Priscila Kempner é comunicadora por paixão e profissão. Especializada em Inbound Marketing com 7 anos de experiência atuando na implementação da estratégia para diferentes segmentos dentro e fora do país. Em 2019, foi reconhecida pela Resultados Digitais uma das 17 profissionais de marketing do país, desde então, carrego o título de RD Expert. Atualmente é sócia e diretora de Inbound Marketing na Agência 110.

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