Thumbnail

Bruno Dreher*

Reflexão

Preocupação nem sempre é ruim e te colocará mais perto dos seus objetivos

14/08/2020 17:25
Acredito que quase todas as pessoas se preocupam com o futuro. Seja no próprio, de seus próximos ou até mesmo de quem sequer conhecem. Aliás, o verbo preocupar necessariamente está relacionada ao futuro. Se você separar a palavra, você verá a união de “Pré” com “Ocupar”. Ou seja, ocupar a sua mente com algo que pode acontecer em breve.
Você se preocupa com a sua saúde quando faz esporte, com a sua carreira quando o mercado passa por uma crise, com a saúde e segurança dos seus filhos, quando eles saem de casa. Veja, nada disso aconteceu: você não está doente, desempregado ou seus filhos estão passando por uma dificuldade. Você somente está projetando algo que pode acontecer em um futuro próximo ou não.
Fazer previsões (aqui também há o prefixo “pré”, seguido de “visão”. Ou seja, ver algo antes de acontecer) não é exclusividade de profetas, videntes ou cientistas. Todos nós a fazemos em muitos momentos.
Imagine-se tendo que atravessar uma rua movimentada. Carros estão passando e há um sinal que autoriza o pedestre a atravessar. Você entende que caso você simplesmente tente atravessar antes do sinal fechar, você correrá riscos. Assim como entende que caso você espere o sinal fechar para os carros e abrir para você, você fará uma travessia muito mais segura.
Mas a parte mais maravilhosa do futuro é que ele muitas vezes é mutável e a preocupação é parte importante deste processo. Portanto, ao prever o futuro, você o faz com base no cenário atual. Mas o fato de prever o futuro abre precedentes para que atitudes sejam tomadas e o resultado futuro seja alterado.
Imagine que você vá em um médico e ele diga que você possui uma infecção e caso você não tome a medicação, existem grandes chances dela se agravar e você ter mais problemas. Porém, ele oferece uma alternativa: se você tomar um antibiótico, você reverte esta tendência e melhora.
A partir do momento que você aceitar a sugestão do médico e tomar a medicação, você está alterando o curso do futuro.
Um dos projetos mais assertivos que fiz foi para a minha cidade natal, Bento Gonçalves (RS). Em 2016, juntei uma série de dados, estudei centenas de outras cidades e até fiz um curso da Universidade de Harvard sobre a dinâmica da vida urbana. Minha conclusão foi que a matriz econômica da cidade estava defasada, com características que poderiam levar a cidade ao aumento de desemprego, violência e piora da qualidade de vida. Tudo isso foi compartilhado com a comunidade, poder público e até ganhou um capítulo no livro que lancei em meados 2017.
Assim como um médico, eu avisei o paciente que caso as coisas fossem deixadas como estão, a tendência era de piora. Mas claro que poderiam ser tomadas atitudes para mudar a dinâmica das coisas. Infelizmente, o paciente não quis tomar o antibiótico e infelizmente eu estava certo. Hoje, a cidade possui índices de homicídios maiores que a média nacional, desemprego crescente e a meu ver, o cenário só tende a piorar.
Quando a crise do COVID-19 chegou ao Brasil, o biólogo Átila Iamarino previu que morreriam milhões de brasileiros graças à pandemia. Isso não se confirmou. Portanto, a conclusão lógica é de que ele errou. Será?
A divulgação do estudo, chamado por muitos de ‘“alarmista”, juntamente com os boletins da Organização Mundial da Saúde e medidas tomadas por outros países gerou uma preocupação generalizada com a transmissão do vírus. Com isso, passamos a usar álcool gel, máscaras, lavar as mãos com mais frequência e tomamos medidas de isolamento social. Cada uma destas medidas influenciou na dinâmica da proliferação da doença, diminuindo a contaminação das pessoas. Portanto, a preocupação com nosso futuro e o acesso à informação fez com que pudéssemos mudar o curso dos acontecimentos de uma forma positiva.
Agora, a pergunta que fica é: caso estas medidas não tivessem sido tomadas, a previsão se confirmaria? Infelizmente, esta é uma resposta que jamais teremos com 100% de certeza.
Então, meu caro leitor, o objetivo principal deste artigo é dizer que está tudo bem em você se preocupar. Somente assim, você pode tomar atitudes para que o futuro seja o mais próximo possível do que você deseja. Mas cuidado! Para tudo há um limite. Lembre-se que a diferença entre o remédio e o veneno pode ser o tamanho da dose.
*Bruno Dreher é Head de Inovação e Novos Negócios da Auto Park, consultor, palestrante, especialista em inovação pela Universidade Hebraica de Jerusalém, membro da World Futures Studies Federation (Paris, França) e World Future Society (Chicago, USA)

Enquete

Estes são os temas mais procurados em relação a cursos sobre inteligência artificial no momento. Se você tivesse que escolher um deles, qual seria sua opção?

Newsletter

Receba todas as melhores matérias em primeira mão