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O que a casca de banana que comi hoje tem a ver com o futuro dos meus netos?
| Foto: freepik.com

O mantra que a minha colega da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, a Prof. Drª. Fátima de Jesus Bassetti, sempre ensina para os nossos estudantes é: “Não deixe o seu resíduo virar lixo”! Este mantra deveria ser internalizado por cada um dos cidadãos desse planeta. Se pensarmos qual é a nossa compreensão sobre o resíduos, que não deveriam virar “lixo”... será que teríamos uma ação diferente na nossa forma de agir?

A cultura que temos é de olhar para a nossa “lata de lixo” como um passivo! Um passivo que colocamos na rua para que logo seja levado embora, sendo esta a nossa maior responsabilidade relacionada ao fato. Nosso ciclo tradicional e cultural se refere a ter a “lata de lixo” dentro de casa, e depois colocar o seu conteúdo no dia certo para fora de casa. Pronto: ciclo fechado! Nossa responsabilidade terminou e foi executada com eficiência, afinal sabemos o dia da coleta dos orgânicos e dos recicláveis, e assim, já faço a diferença e meu comprometimento com o ambiente está consolidado!!

Mas ainda temos uma série de questões muito mal resolvidas nesse pequeno ciclo e na cultura que determina o trajeto entre a “lata de lixo” da casa e o depósito do seu conteúdo na “rua” para que seja coletado de forma eficiente e correta nos dias dos recicláveis e orgânicos.

Vamos pensar juntos e olhar com uma lupa o que estamos realmente fazendo. Hoje vamos apenas olhar e analisar uma pequena fração do nosso “lixo”. Dos cerca 1Kg de “lixo” que são gerados por um habitante adulto na sua residência diariamente (realidade de Curitiba), temos uma fração de 250 gramas que são resíduos orgânicos não cozidos (faça uma conta rápida para ver o que isto resulta em 30 dias). Neste período de pandemia aumentamos este quantitativo de orgânicos, porque muitos estão cozinhando mais em casa e estão comendo mais frutas e verduras.

Estas 250 gramas inserem em si os valiosos nutrientes que foram retirados do solo e que deveriam retornar para o mesmo fechando o ciclo importante. Mas o que acontece é que eles são misturados aos orgânicos cozidos, que contém sal e gordura, ao papel higiênico que pode conter contaminações diversas e depois será depositado em um aterro sanitário onde ocorre uma grande mistura com restos de tintas, baterias vazadas e outros contaminantes. A enorme diferença que pode fazer com que as 250 gramas voltem a ser um ativo ambiental (nutrientes), ou se tornem um imenso passivo ambiental, reside unicamente na tomada de decisão do cidadão e de suas escolhas relacionadas aos seus hábitos.

O chorume contaminado é o resultado final, difícil de ser tratado (e custa muito dinheiro), considerado um risco constante para o ambiente e para a sociedade. Portanto, o chorume que se forma com a preciosa água que estava inserida nestas 250 gramas, geradas diariamente, que continham nutrientes importantes, agora pode afetar negativamente a qualidade das águas subterrâneas e superficiais, o solo e a atmosfera e contribuir para as mudanças climáticas (vide a Cúpula do Clima) com a produção de metano. No atual ciclo, as 250 gramas se tornam um custo gigantesco tanto econômico quanto social e ambiental, pelo qual pagamos diariamente. Portanto, o nosso pequeno ciclo da “lata de lixo” se transforma em algo muito complexo e caro para a sociedade e que gera constante risco.

Este descompasso simplesmente não enxergamos. O passivo se torna, em um primeiro momento, invisível, pois a nossa responsabilidade terminou quando colocamos o “lixo” para fora de casa. Agora repense: a casca de banana que jogo hoje no “lixo” vai de fato impactar o futuro do meu neto? Deixaremos o passivo e o resultado dos riscos embutidos para as gerações futuras? O que fazer então!?

Vamos pensar juntos novamente:  São 250 gramas, certo? E se dermos um destino nobre para esta fração. Pergunta:  O que é um destino nobre e como posso, como indivíduo, fazer diferença entre milhões de habitantes? É exatamente aí que reside a nossa força quando mudamos os hábitos individuais e nos conectamos em rede.

As soluções já existem e são muitas. Podemos resolver esta questão em casa, com compostagem em caixas e pensando fora da caixa, ou seja, mudando o hábito. São inúmeras as possibilidades que temos para fazer com que as 250 gramas se tornem um ativo ambiental, social e econômico. Para exemplificar: em Curitiba podemos obter informações com o grupo Lixo Zero e com a Fazenda Urbana que expõem vários modelos funcionais de compostagem em pequena e média escala e aplicação de mini hortas urbanas. Com uma busca rápida na internet é possível visitar vários grupos que atuam com o tema e que aplicam propostas inteligentes e solidárias de como aproveitar melhor nossos resíduos, nossos ativos, que hoje estão indo literalmente para o “lixo”.

A mudança de hábito está sendo o grande desafio desta pandemia que se instalou no nosso dia a dia. Esta é a virada da chave, mudar o hábito e olhar para o “lixo” e enxergar resíduo. Lembrar do mantra “Não deixe o seu resíduo virar lixo” e pensar que a casca de banana que joguei no “lixo” pode afetar negativamente as futuras gerações são estratégias importantes para buscar a mudança de hábitos.

Precisamos vislumbrar cidades mais sustentáveis, reduzir os nossos passivos ambientais, sociais e econômicos e planejar o nosso hoje e vislumbrar o amanhã. Se é possível fazer uma grande diferença com apenas 250 gramas, imagine então as oportunidades que temos com o restante das 750 gramas de resíduos que ainda estão na “Lata de lixo”.  Pense global agindo local!

*Artigo escrito por Tamara Simone van Kaick, Bióloga, Mestre em Inovação Tecnológica e Doutora em Meio Ambiente e Desenvolvimento e Professora da UTFPR.
A UTFPR é Conselheira do Conselho paranaense de Cidadania Empresarial  que é parceiro voluntário do Blog Giro Sustentável.

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