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Greve foi só por 20 centavos e deixou herança maldita
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O acordo assinado pelo governo federal com os caminhoneiros grevistas está completando um mês e agora dá para fazer a conta da promessa não cumprida: o preço do diesel caiu só 20 centavos nas bombas. Essa é a média nacional calculada pela Agência Nacional do Petróleo (ANP), comparando-se o preço da semana anterior à greve com o preço da última semana.

Era para ser uma redução de 46 centavos nas contas fantasiosas do governo. Mas no mundo real subsídios não se distribuem da forma como o governo quer. Alguns centavos se perderam no caminho, como era de se esperar, apesar da ameaça de multas milionárias.

Se não ganharam o desconto que queriam, os caminhoneiros também não ganharam o tabelamento que, diga-se, deixou muita gente do governo quieta na hora de defendê-lo. A questão virou uma batata quente em Brasília após publicações e despublicações da tabela, que agora está em negociação no Supremo Tribunal Federal (STF). Como se os ministros não tivessem coisa melhor para fazer em vez de negociar preços que deveriam ser estabelecidos no mercado.

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Nesta sexta-feira (6), vamos ver o resultado final da greve sobre a inflação – a prévia do mês de junho foi a maior desde 2015. Por sorte, os índices de preço vinham baixos e a avaliação do Banco Central é de que não há risco de uma contaminação grave sobre a perspectiva de longo prazo.

Se a inflação é um problema contornável, o crescimento não é. O que deixou de ser produzido nas duas semanas de paralisação foi em grande medida perdido. Na última semana, até o Banco Central revisou sua previsão de crescimento para este ano: 1,6%, bem abaixo dos 2,6% que já se cogitou. Claro que a greve não é o único fator que influenciou a revisão, mas é um deles – juntamente com a incerteza eleitoral, o cenário internacional conturbado e uma piora na confiança (essa também influenciada pela greve).

Ficamos sem o crescimento e também sem alguns bilhões no bolso, já que o subsídio será pago de qualquer forma, chegando ou não aos postos. São R$ 13,5 bilhões do nosso dinheiro indo para o bolsa caminhonheiro (e transportadoras). Isso é quase meio Bolsa Família, cujo orçamento é de R$ 28 bilhões para este ano. E é um erro de perspectiva dizer que houve remanejamento de orçamento, fim de outros benefícios e uso de margem fiscal para custear a benesse. O dinheiro é todo nosso, não importa a conta que o governo fez.

A greve também trouxe a comprovação de que o governo Temer chegou ao fim. Não que vá fazer muita falta. Só que a impressão de que ainda havia governo ajudava a termos uma pequena ilusão de que alguma coisa ainda andaria em Brasília até outubro. Agora, esperamos para que as eleições permitam que o país tenha um governo de fato. E aí talvez esteja a maior herança maldita do caminhonaço: presidenciáveis e cidadãos defendendo uma greve desonesta e grevistas defendendo a intervenção militar nos mostraram como nossa democracia ainda tem o que amadurecer.

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