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Juro zero no Brasil? Banco Central está sob pressão para agir com força
| Foto: Raphael Ribeiro/BCB

O Copom, Comitê de Política Monetária do Banco Central, se reúne nesta semana e deve reduzir a taxa básica de juros no fim da tarde de quarta-feira (18). No mercado, já há quem defenda que esse movimento seja antecipado para esta segunda (16) e ampliado em sua magnitude.

Até o início da semana passada, havia dúvidas entre analistas sobre o caminho para os juros. O argumento de que o espaço para redução nos juros é pequeno por causa da desvalorização recente do real, entre outros fatores, era dominante. Nesta semana, o cenário mudou. A ação coordenada dos bancos centrais das maiores economias do mundo anunciada no domingo fez com que o BC acordasse sob pressão para agir com mais força.

A comunicação do BC durante o início da crise do coronavírus foi cautelosa. Ele divulgou um comunicado que dava a entender que reduziria os juros e, na sequência, colocou este movimento em dúvida. Nesta segunda, o Conselho Monetário Nacional (CMN) divulgou novas medidas para conter a crise, focadas na renegociação de dívidas. No comunicado, o BC diz que "não hesitará em usar todo o seu arsenal para assegurar a estabilidade financeira e o bom funcionamento dos mercados".

Isso quer dizer que o BC reconhece a necessidade de pisar mais fundo em medidas para apoiar a economia. A questão agora é do momento de escolha. É bastante justificável uma redução de até um ponto percentual na Selic imediatamente, o que levaria a taxa para 3,25% ao ano. Teríamos juros reais zero, se levarmos em conta a projeção para a inflação nos próximos 12 meses. Não é ainda o terreno dos juros negativos, em prática em quase todos os países ricos, mas seria um estímulo bastante forte para lidar com a crise que está chegando.

Há três argumentos em favor de um corte dessa magnitude. O primeiro é que a crise será difundida por negócios de todos os portes que vão precisar de crédito para atravessar um ou dois meses de demanda contraída. Muitos não poderão nem abrir as portas, enquanto outros sofrerão com a falta de funcionários ou o cancelamento de pedidos.

O segundo é que a inflação está sob controle e o choque sobre a economia não deve mudar esse comportamento. A alta do dólar aumenta a pressão sobre o preço de importados, mas ao mesmo tempo as cotações das commodities em dólar estão em queda. O risco inflacionário não parece ser elevado a ponto de justificar a inação do BC.

Por último, o movimento coordenado de redução dos juros ao redor do mundo impede que o câmbio seja pressionado pelo "carry trade", a arbitragem de taxas de juros. Os investidores não têm muitas opções melhores para investimento e a retirada de recursos provavelmente continuaria ocorrendo mesmo que os juros de curto prazo no Brasil continuassem levemente positivos.

Na prática, uma redução forte na Selic terá de ser acompanhada de perto pelo Banco Central para que ela não se perca em um ataque especulativo contra o real. O BC, no comunicado desta segunda, destacou o tamanho das reservas cambiais, de US$ 300 bilhões, que podem ser usadas em um cenário adverso.

Além de reduzir os juros no curto prazo, o BC terá de agir para abaixar a curva dos juros de prazos mais longos. Um dos caminhos para isso é reduzir ainda mais os depósitos compulsórios - o que também apareceu como uma possibilidade no comunicado da autoridade monetária desta segunda. Dependendo da duração e extensão da crise, o BC teria também de estar disposto a intervir no mercado de juros de longo prazo, comprando títulos, a exemplo de bancos centrais em países desenvolvidos. Essa é uma possibilidade nova e que ainda não aparece no radar de analistas.

Embora haja justificativas para o juro real zero no Brasil, o BC pode optar por um caminho mais gradativo. Seria um corte de 0,25 ou 0,5 ponto, possivelmente com viés de baixa. Com isso, a autoridade monetária teria tempo para monitorar efeitos sobre o câmbio. O ponto negativo é que o mercado de crédito pode "secar" rapidamente e o debate sobre a Selic pode barrar outras medidas emergenciais.

A decisão de quarta-feria, se o Copom conseguir esperar até lá, pode ser a mais importante desde 1999, quando Armínio Fraga foi chamado em meio a um ataque especulativo contra o país e instituiu o sistema de metas de inflação. É provável que o BC tenha, como em 1999, que procurar novos caminhos.

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