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Usina de Itaipu no Rio Paraná.
Usina de Itaipu no Rio Paraná.| Foto: Caio Coronel/Itaipu

O relatório do Operador Nacional do Sistema (ONS) divulgado nesta semana e que revisa o cenário dos próximos três meses para o setor elétrico é assustador. O país tem que cobrir um déficit de geração de pouco mais de 5,5 GW (ou 7% da demanda) para chegar ao fim de novembro sem incidentes de falta de energia. O cenário de gestão da crise apenas com o acionamento padrão de usinas térmicas foi descartado.

O ONS já tomou várias medidas para evitar um racionamento ou apagões. Reduziu a vazão de água nas bacias onde a seca é mais severa, acionou todas as térmicas disponíveis, pediu para que as usinas não fizessem manutenção e reduziu a redundância na transmissão de energia - essa medida, bastante técnica, significa um padrão de segurança menor, aumentando a potência que pode ser transmitida entre a Região Norte e o Sudeste.

E mesmo com tudo isso, há um buraco de geração. Para preenchê-lo será preciso montar um quebra-cabeça com muito pouca margem para erros. O ONS sugere a contratação de energia de termelétricas sem contratos (chamadas de merchant), liberação de termelétricas paradas por questões judiciais, garantia de fornecimento de combustível, nova rodada de flexibilização na gestão das bacias mais secas, importação de energia e redução no consumo, tanto de grandes consumidores quanto de residências.

A redução do consumo, em especial no horário de pico, diminui o risco de apagões no sistema e ajuda a economizar água dos reservatórios. E ela é necessária porque, mesmo com a incorporação de novas fontes de geração, o sistema elétrico vai chegar em novembro no limite. Praticamente não haverá sobra de segurança caso alguma grande usina tenha de parar para manutenção, por exemplo.

Não é por acaso que o tom do governo mudou nesta semana. O ministro da Economia, Paulo Guedes, que chegou a questionar qual seria o problema de a energia ficar um pouco mais cara, reforçou na quinta-feira (27) que a crise é grave e que "temos riscos". O presidente Jair Bolsonaro editou um decreto ordenando a redução de 10% a 20% no consumo de órgãos públicos e declarou que o país está "no limite do limite", pedindo para que as pessoas economizem.

Influenciar a demanda de energia é um pouco mais complexo, porém, do que desligar uma lâmpada em casa, como sugeriu o presidente. O governo andou de maneira lenta com o programa de redução de demanda no horário de pico por parte das empresas. Os detalhes saíram agora e existe um trâmite para as empresas se candidatarem ao crédito pelo deslocamento da carga.

Para a demanda residencial, ainda não foram divulgados detalhes de como vai funcionar o estímulo. Aqui, é preciso levar em conta que a comunicação é muito mais lenta do que para grandes consumidores, acostumados a avaliar o custo da energia no dia a dia. Pode ser tarde para uma campanha de engajamento do consumidor para fazer alguma diferença em setembro e outubro.

O recado do ONS é o de que ainda existe oferta de energia, mas que ela agora está calcada em premissas mais arriscadas. É preciso garantir o funcionamento contínuo e sem falhas de praticamente todo o parque termelétrico do país e importar energia de países vizinhos. E não haverá sobra de segurança, a não ser que o consumo caia ou, com sorte, se chover mais do que o previsto.

O programa de deslocamento de consumo das empresas parece bem estruturado, apesar de chegar em cima da hora. É preciso correr para aprovar os pedidos de quem se dispuser a mudar o horário de produção. E também será necessário colocar rapidamente no ar uma campanha para os consumidores residenciais.

Na ponta do preço, é muito provável que a bandeira tarifária seja reajustada, já que o custo das térmicas e do programa de deslocamento de consumo ficará com os consumidores. Analistas já dizem que ela pode ter de dobrar. Quanto antes for feito o ajuste, maior a probabilidade de o preço mais alto estimular uma redução no consumo - embora o ciclo de cobrança da conta de luz já jogue qualquer efeito mais palpável 30 dias para a frente.

As autoridades precisam ser muito claras sobre o tamanho do risco energético. Não é recomendável contar com a chuva para evitar apagões provocados por um descasamento entre oferta e demanda nos horários de pico.

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