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Saída de Moro fez mercado colocar no preço saída de Guedes e dificuldades da “ala técnica”
| Foto: IsaacAmorim/AG.MJ

Sergio Moro não era um ministro qualquer e a razão de sua saída não é um motivo qualquer. Isso pode ser medido pela repercussão política de seu pronunciamento de despedida do Ministério da Justiça e Segurança. E também em como o mercado reagiu.

É muito improvável que qualquer operador do mercado financeiro se lembre do nome dos últimos três ministros da Justiça. Mas certamente todos se lembram de quem comandava a economia. Por isso, chama a atenção o movimento de queda forte da bolsa (-5,8%) e alta do dólar (+2,5%), em parte justificado pela saída de Moro por analistas.

Primeiro, o ex-juiz federal que jugou as ações da Lava Jato era mais do que um ministro. Ele simbolizava um certo compromisso do governo com o combate à corrupção. Moro, quando convidado a assumir o ministério, era um outsider do mundo político com uma popularidade com a qual quase a totalidade dos políticos só pode sonhar.

Juntamente com Paulo Guedes, o símbolo da conversão do presidente Jair Bolsonaro ao liberalismo econômico, e outros ministros que fazem parte das "escolhas técnicas", entre eles Luiz Henrique Mandetta, na Saúde, e Tarcísio de Freitas, na Infraestrutura, Moro era parte de um tripé imaginário que para muitos servia como razão de crédito extraordinário ao novo presidente.

Esse tripé não existe mais. Moro saiu porque não teve como lidar com a pressão para mudar a direção da Polícia Federal. Guedes tem tido sua presença enfraquecida - o novo plano econômico para o pós-crise foi formulado contra a vontade da equipe econômica. E Mandetta caiu defendendo a ciência.

A saída de Moro não tem impacto econômico direto. Mas abre um quadro político novo por causa da razão de sua saída. Haverá pressão para que se investiguem os motivos para Bolsonaro querer acesso direto à cúpula da Polícia Federal. Parte expressiva do Congresso vai surfar a onda da popularidade de Moro, o que dificulta ainda mais a relação entre os poderes.

Também pode haver um efeito colateral sobre os outros dois pés imaginários do governo Bolsonaro. Nomes técnicos já perceberam que o limite da ciência é a vontade do presidente - e isso preocupa até mesmo a ala militar do governo, que saiu fortalecida na crise do coronavírus. O mesmo vale para a conversão liberal de Bolsonaro.

A política volta a colocar mais incerteza em um cenário que já era o pior possível na economia. O que o mercado fez nesta sexta-feira foi colocar um preço na queda de Guedes e no esmigalhamento da parte técnica do governo. Era tudo o que não precisávamos enquanto enfrentamos a maior recessão da história.

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