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Ônibus em Curitiba. Imagem ilustrativa.
Ônibus em Curitiba. Imagem ilustrativa.| Foto: Gerson Klaina/Gerson Klaina

– Opa, tudo bem?

– Tudo indo. E com você?

– Tudo indo também. Quer dizer: indo é bondade. Tudo meio parado.

– Aqui no ônibus pelo menos a gente anda.

– Isso é verdade. Você sobe sempre nesse ponto?

– Sim. Moro aqui.

– E vai saltar onde?

– Aqui mesmo.

– Como assim? Você mal entrou e já vai saltar?

– Não, agora não.

– Você não disse que saltaria aqui mesmo?

– Isso. Daqui a duas horas mais ou menos.

– Ah, tá. Mas antes de voltar ao seu ponto daqui a duas horas e ir pra casa você vai saltar onde?

– Lugar nenhum.

– Não entendi. Pra onde você tá indo agora?

– Pra casa.

– Mas você acabou de sair de casa e pegar esse ônibus!

– Eu sei. É que o lugar pra onde eu iria não posso ir.

– Que lugar?

– Praia. Eu vendo biscoito na praia.

– Certo. E hoje você não vai vender.

– Não.

– Por causa do vírus?

– É.

– Não tem gente na praia pra comprar.

– Tem.

– Então não entendi.

– Tá proibido vender biscoito.

– Ah... Descobriram que o biscoito é contagioso?

– Não sei. Só sei que não pode vender.

– Então você saiu de casa pra voltar pra casa?

– Acho que foi mais ou menos isso.

– Desculpe perguntar: se não pode trabalhar, por que você saiu de casa e se meteu num ônibus lotado?

– Porque lá em casa tá lotado também.

– Ah, é?

– É. Todo mundo é ambulante. O meu mais velho botou uma música e já veio um guarda perguntar se era festa. Que não pode festa.

– O que vocês responderam?

– Nada. Falei pro garoto desligar a música e foi todo mundo pegar ônibus.

– Ônibus não tem problema, né?

– Não. Ônibus é tranquilo.

– Pelo menos isso.

– É. Acho que esse vírus tá mais é certo.

– Por quê?

– Eu também prefiro biscoito que ônibus.

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