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O presidente da Câmara, Rodrigo Maia e o ministro da economia, Paulo Guedes
Mãos ao alto: O presidente da Câmara, Rodrigo Maia e o ministro da economia, Paulo Guedes| Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

A lendária reforma da Previdência enfim foi à votação e teve seu texto-base aprovado na Câmara dos Deputados. Cerca de 9,5 entre 10 analistas políticos sagazes e visionários já tinham explicado por A mais B que não tinha como a reforma passar – portanto o que se deu foi um milagre. O novo milagre brasileiro. Mas a verdadeira história desse milagre você só vai saber agora e aqui, com exclusividade.

Economista consagrado por sua história de sucesso no mercado financeiro, Paulo Guedes reuniu uma equipe de técnicos de renome internacional para elaborar a reforma da Previdência. Além da excelência acadêmica, o grupo tinha o trunfo de mais de 57 milhões de votos — já que o candidato e depois presidente eleito dissera aos quatro ventos que quem sabia de tudo era o “Posto Ipiranga” — Paulo Guedes.

Não vá pensando que esse cenário favorável prenunciava uma história tranquila. Nada disso. Com todo aquele poder político e técnico, a equipe do Posto Ipiranga vivia uma angústia dilacerante sempre que se debruçava sobre o grandioso projeto da Previdência: será que o Rodrigo Maia vai gostar?

Superando com bravura a paralisia provocada por essa dúvida atroz, o timaço de economistas mergulhou nos estudos mais modernos e sofisticados sobre sistemas de previdência, experimentando vários modelos aplicados à conjuntura socioeconômica brasileira. Com subsídios dos maiores especialistas na matéria no mundo, a equipe de Paulo Guedes chegou ao tão sonhado projeto de reforma.

Mas nenhum deles sequer celebrou o trabalho monumental realizado. Continuava a atravessar-lhes a alma a terrível angústia: será que o Rodrigo Maia vai gostar?

Mais uma vez os técnicos de ponta do chamado Posto Ipiranga domaram a angústia e foram em frente. Rodaram o país e o exterior apresentando o projeto tão esperado para reabrir a porta do futuro para o Brasil, um gigante emergente que faz diferença na comunidade internacional se passa a crescer com vigor. Foi a perspectiva que Paulo Guedes e equipe levaram aos principais interlocutores mundiais: eles tinham o plano para desatolar o Brasil.

Não só foram convincentes e triunfaram no seu road show, como conseguiram mostrar ao eleitorado brasileiro que esse era um ponto crucial na plataforma do novo governo – e era essa agenda que o voto por mudança deveria priorizar, apesar da antipatia que a reforma gerava em diversos setores vulneráveis a ela. Tratava-se, no final das contas, de uma soma de corte de privilégios corporativos com sacrifícios de todos para evitar o colapso da economia. E para garantir que a conta fechasse para todos – evitando a bomba relógio que indicava simplesmente um calote geral nas aposentadorias.

O povo entendeu que a reforma era amarga, mas que, já no curto prazo, começaria a destravar as finanças nacionais – ou seja, era para melhorar a vida de todos.

Com analistas visionários e plantonistas da crise espalhando os prognósticos mais azedos da história para a ação governamental – indicando que todos os caminhos levavam à sombra fascista – a população identificou o script que faria a reforma da Previdência subir no telhado e foi às ruas defendê-la.

Mas sempre que o povo saía na rua, aos milhares em todo o território nacional, notava-se que também estava angustiado. No semblante de cada brasileiro era possível ler a mesma e perturbadora pergunta que acossava a equipe econômica: será que o Rodrigo Maia vai gostar?

Paulo Guedes foi ao Senado, foi à Câmara, falou por horas a fio sobre cada detalhe da sua plataforma econômica – e do projeto da Previdência em particular. Suportou as provocações de todos os parasitas do PT, PSOL e genéricos, ouviu impropérios e grosserias, devolvendo sempre a mesma e única resposta: uma aula de como destravar o Brasil. Acabou tendo seu nome gritado pelo povo nas ruas – de forma inédita para um ministro da Economia – tal a força e a clareza demonstradas por ele em uma autêntica cruzada pela modernização do país.

Mas tudo isso era pouco. Ou pior: era nada, se no final o Rodrigo Maia não gostasse da ideia.

E o risco era grande, porque Maia vivia mal-humorado, fazendo cara de nojo para tudo que viesse do governo, dizendo que o tal Posto Ipiranga era na verdade um núcleo de trapalhadas funcionando dentro de uma usina de crises. “Não deem bola pro Paulo Guedes”, disse Rodrigo, informando à sua poderosa rede de jornalistas amigos que o ministro era um desagregador. O Brasil tremeu. Com aquele humor deteriorado, na hora decisiva poderia acontecer o pior.

Mas aí se deu um dos momentos mais belos da história política brasileira, como você deve ter visto na TV: Rodrigo Maia subitamente surgiu de bom humor, não economizou sua iluminação prodigiosa – que faz dele hoje praticamente um Rui Barbosa do Centrão – e ungiu a reforma da Previdência. Que brasileiro!

Segura essa, Pelé. Ficou ruim pra ti.

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