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Vacina? Que vacina?
| Foto: BigStock

Uma decisão da Justiça do Trabalho no Rio de Janeiro proibiu a volta às aulas em escolas particulares. A ação movida pelo Sindicato dos Professores da capital determinou que as salas só poderão voltar a ser ocupadas pelos alunos quando houver certeza de segurança sanitária – o que quer dizer que o juiz mandou as escolas esperarem pela vacina. Que vacina?

O governo do estado havia autorizado a reabertura das escolas. Ou seja: a autoridade que seguiu os planos de confinamento mais restritivos – o chamado lockdown – e estava cumprindo o processo de retomada gradual das atividades sociais foi desautorizada pela Justiça (do Trabalho). Vamos traduzir: trata-se de um lockdown embargado por outro lockdown. Quais sãos os critérios? Simples: ganha quem trancar mais.

Como se trata de uma pandemia, pode-se fazer comparações entre várias regiões do planeta. E uma das comparações proibidas para um juiz como esse do Rio de Janeiro é entre a situação do Reino Unido e a da Suécia. O país que não trancou nada – nem as escolas – tem menos mortes por milhão que o país que trancou tudo. E a incidência de óbitos é mínima entre pessoas em idade escolar. Explica isso, seu juiz.

Ninguém explica nada. Uma das mágicas do lockdown foi a abolição da lógica. Ciência hoje é uma questão de desinibição. Quanto maior for a sua cara de pau ao afirmar que está salvando vidas com medidas irracionais e sem lastro em literatura alguma, maiores serão suas chances de ser levado a sério, respeitado e até temido. A combinação de ignorância, hipocrisia e medo sempre foi explosiva.

Vários países da Europa reabriram as escolas, com diversas regras de segurança e monitoramento. O percurso da epidemia no Brasil é igualmente declinante e o vírus é o mesmo. Mas em Paris não tem um juiz trabalhista como o do Rio de Janeiro. Aprendam, franceses: o doutor determina que as aulas continuarão proibidas “até a vacinação de professores e alunos ou até que se demonstre, por meio de estudo técnico ou de outro modo, que não há risco para os alunos, os professores e a sociedade”.

A base científica dessa decisão se concentra na expressão “de outro modo”. Significa o seguinte, à luz do direito trabalhista moderno: dá um jeito aí de garantir que ninguém vai ficar doente nunca mais, senão eu acabo para sempre com esse negócio de aprender e ensinar. Pedagogia segura, só no tik tok.

É claro que esse luminar não disse em qual “estudo técnico” se baseou para afrontar a decisão do governo e decretar que as escolas não podem funcionar. A técnica, às vezes, é um estado de espírito. A única referência legível nessa canetada, portanto, é à vacinação. E quais são as perspectivas para a chegada de uma vacina segura e eficaz contra a Covid-19? O juiz não sabe – pela singela razão de que ninguém sabe, apesar do festival de prognósticos voadores e chutes que dominam hoje o tema.

Essa perspectiva de vacinação em massa no início de 2021 está mais para especulação que para previsão, se comparada com os ciclos normais de desenvolvimento de uma boa vacina. E em quem a população vai confiar para se certificar de que a vacina é boa, se ela chegar em tempo recorde?

Vai confiar na OMS, que fez política com remédio e contrariou a si mesma diversas vezes sobre as diretrizes da epidemia? No Instituto Butantã, cuja direção fala o que o governador de São Paulo quer ouvir? Na Fiocruz, cuja direção também mergulhou em proposições místicas de lockdown em parceria com um governador já afastado por corrupção? Na Anvisa, que se não der o ok em 72 horas a vacina será considerada automaticamente aprovada?!

É para confiar na China, na Rússia ou nos institutos que soltaram projeções tão tenebrosas quanto fajutas? Caro leitor: em termos de ciência, a única verdade insofismável é de que você está a pé. A decisão de renunciar ou não à vida em sociedade é sua.

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