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Governador do Rio, Wilson Witzel
O governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel| Foto: Mauro Pimentel/AFP

O governador do Rio de Janeiro foi afastado do mandato pela Justiça. As investigações sobre os delitos de que é acusado transcorrerão e trarão as conclusões sobre o que de fato Wilson Witzel fez de errado. Mas outra interrogação se impõe, no momento em que seu governo nebuloso é interrompido: por que os “progressistas” assistiram calados aos desmandos de Witzel?

Foi tudo muito estranho. Witzel encomendou sete hospitais de campanha no auge do alarme da pandemia. Só dois foram montados, e com funcionamento parcial. Ao mesmo tempo, diversas compras emergenciais de respiradores e outros equipamentos de saúde foram assinaladas pelo Tribunal de Contas como superfaturadas. Os supostos progressistas – de quem se esperaria no mínimo críticas a um governador de direita – ficaram calados.

Witzel fez muito mais que isso – no hall das coisas que deveriam incomodar os humanistas e democratas de plantão: mandou descer o sarrafo no cidadão. Sob o pretexto do cumprimento de medidas sanitárias, o governador agora afastado do cargo ordenou às suas forças de segurança que partissem para cima da população em circulação no Rio de Janeiro. Copacabana, a mundialmente famosa Princesinha do Mar, assistiu calada duas mulheres e seus filhos sendo arrastados para dentro de um camburão porque os adolescentes mergulharam no mar.

A brutalidade fantasiada de salvação de vidas rendeu diversas cenas ditatoriais de banhistas cercados por homens armados, mulheres de biquíni arrastadas de forma animalesca por policiais, utilização de arma de choque para derrubar e prender um rapaz andando sozinho na areia. Essas cenas estão gravadas para sempre – e o silêncio dos supostos humanistas cariocas também.

Ao mesmo tempo o que se viu foram ônibus circulando cheios e até aglomerações para recebimento do auxílio emergencial. Nesses casos, a preocupação de Wilson Witzel com o contágio pelo coronavírus teve o mesmo destino do dinheiro dos hospitais de campanha: sumiu. E adivinha o que aconteceu com a patrulha histérica dos que ficaram no zoom acusando todo mundo de genocida? Acertou, seu danado: também sumiu. Ônibus lotado nunca preocupou os empáticos da laive.

Enquanto o paraquedista Witzel dava vazão aos seus instintos ditatoriais sob o manto protetor do lockdown, a famigerada militância que se diz de esquerda e preocupada com perigos autoritários se alinhou com ele. Na Fundação Oswaldo Cruz, referência nacional na área de saúde, todas as diretrizes de enfrentamento da pandemia convergiam com os desatinos do governador do estado. Não só não se ouviu ressalvas ao descalabro administrativo do covidão, como veio da Fiocruz uma proposta de lockdown total após dois meses de confinamento – um plano que o tiranete Witzel adorou, especialmente por não incluir sustentação científica alguma. O que um ditador mais gosta é de não dar explicações.

Esse plano foi recusado pelo poder legislativo – e a parceria Witzel-Fiocruz para o aprisionamento da população do Rio de Janeiro ficou apenas como uma página negra na história dos atentados autoritários.

Witzel sonhou com o poder de obrigar o cidadão a pedir sua autorização para ir à padaria. E teve cúmplices “progressistas” nos seus piores ensaios ditatoriais – todos fingindo combater o fascismo bolsonarista.

Wilson Witzel saiu do governo e os falsos democratas saíram do armário.

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