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Com um governo sem realizações efetivas e pressionado pela CPI da Covid, os bolsonaristas precisam alimentar seus fanáticos com subsídios ideológicos atrativos e motivacionais. No âmbito interno, a estratégia do conflito contínuo elegeu prefeitos, governadores e membros do STF como inimigos a serem combatidos. Já no campo exterior, o alvo é a China. E não poderia ser mais adequado, principalmente em tempos de pandemia. Afinal, ao que tudo indica, foi lá que surgiu o vírus que hoje se alastra pelo mundo e mata tantos brasileiros. Apontar para a responsabilidade dos comunistas orientais é muito fácil. Difícil é operar a logística necessária para não deixar Manaus por dias a fio sem oxigênio.

No início de maio, Jair Bolsonaro fez um discurso no Palácio do Planalto no qual falou de guerra “química, bacteriológica e radiológica”. A referência indireta a China levou seus militantes ao êxtase. E também a suspensão por aquele país da exportação do Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA), necessário tanto para fazer a Coronvac quanto a vacina da Astrazeneca.

A retórica anticomunista agrada o nicho que milita em favor do presidente, mas prejudica o país. O atraso na entrega do insumo desorganiza a fabricação e oferta de imunizantes, colocando vidas em risco. “O regime chinês não presta”, dirá o bolsonarista irritado. É verdade. E quem presta? Por isso cumpre não ser burro e evitar provocações gratuitas, ainda mais numa hora dessas.

Por certo, estamos diante de uma estratégia política eficiente. Ela serve exclusivamente para demonizar opositores e críticos. Quem condena esse tipo de postura irresponsável vinda do presidente é imediatamente taxado de agente chinês, de ser subserviente aos interesses de uma ditadura e de outras boçalidades que, levadas ao ambiente jurídico, podem resultar em processos por calúnia, injúria e difamação.

Bolsonaro vai atrás da China como aqueles cachorros guaipecas de rua que costumam perseguir carros. Rosna, late e corre, mas não sabe o que fazer quando objeto de sua perseguição resolve lhe dar atenção e parar. Seu silêncio ante a retaliação com o atraso na entrega do IFA é simbólico disso. Novamente, foram os governadores os responsáveis por resolver o impasse criado exclusivamente por ele. Todo o episódio não resultou no fim do comunismo, mas em menos matéria-prima para a produção de vacinas nos próximos meses.

Alegar que o Brasil é refém da China é, no mínimo, um engano. É refém, isso sim, de um discurso beligerante, antidiplomático e contraproducente aos interesses nacionais. Não há nada de corajoso ou destemido ali. Bolsonaro não é Ronald Reagan desafiando Gorbachev a derrubar o Muro de Berlim. É apenas um agitador com medo de ser responsabilizado por sua omissão no combate à pandemia.

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