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A tentativa de vincular a Lava Jato ao PSDB não é nova. Surge com o debacle do lulopetismo em 2015, quando as denúncias mais pesadas envolvendo os próceres do governo Lula e Dilma Rousseff começaram a aparecer. A operação atuaria como esbirro do partido, protegendo e fazendo corpo mole com as denúncias envolvendo seus integrantes.

No último dia 3 de julho, a deputada Gleisi Hoffmann escreveu em seu Twitter que “o dano que a Lava Jato fez ao Brasil e à democracia não se corrige com operações tardias contra tucanos que sempre foram seus parceiros”. Ainda em junho, em mensagem publicada na coluna da jornalista Mônica Bergamo, a parlamentar acusou Fernando Henrique Cardoso de defender e divulgar “entusiasticamente a Lava Jato, que tinha por objetivo destruir o PT e suas lideranças, em especial Lula”

Em 2017, o deputado Paulo Pimenta questionou a suposta falta de “pressa e de rigor nos processos que envolvem o PSDB”. Antes disso, em 2015, ele havia questionado o motivo de Aécio Neves não ser investigado.

Agora, o falatório de que força-tarefa seria tucana vêm curiosamente da boca dos bolsonaristas, ávidos em atacar Sérgio Moro, a quem consideram um traidor e potencial concorrente na eleição de 2022. O objetivo é bastante claro: vincular o ex-juiz e ex-ministro da Justiça a um suposto projeto de poder oposicionista capitaneado pelo PSDB.

A mais entusiasmada apoiadora de Bolsonaro a aderir a essa estratégia é a deputada Carla Zambelli, que antes disso tudo era tão fanática pela Lava Jato que convenceu Sérgio Moro a ser seu padrinho de casamento.

Em entrevista na Rádio Gaúcha, Carla Zambelli afirmou que Sérgio Moro tinha “predileção em investigar e condenar o PT”, e que “os colegas da Polícia Federal que chegavam ao meu conhecimento falavam sobre o fato de que a Lava Jato era muito em cima do PT", Segundo Zambelli "era uma percepção interna de que não se falava no PSDB”.

A declaração da parlamentar motivou a reação de Henrique Fontana, da tropa de choque do PT: “Carla Zambelli acaba de confirmar o óbvio: Sérgio Moro usou de seu cargo pra perseguir o PT, ao passo que protegia o PSDB. O ex-juiz sempre usou a toga para fazer política!”.

Mas Zambelli não parou por aí. Ainda essa semana saiu em defesa do Procurador-Geral da República Augusto Aras, afirmando que o objetivo dele não é acabar ou enfraquecer a Lava Jato, mas “destucaná-la” de modo a que a Lava Jato não seja “um instrumento de poder exposta no currículo para defender outras legendas”.

Para saber como a Lava Jato atingiu o PSDB é preciso compreender a dinâmica investigatória e as esferas de jurisdição. A maioria dos nomes do partido que foram implicados tinham prerrogativa de foro, incluindo José Serra, Aécio Neves e Geraldo Alckmin. Nenhum deles estava na alçada de Sérgio Moro e nem dos procuradores de Curitiba. Os inquéritos contra eles e outros tucanos foram abertos pelo então Procurador-Geral da República Rodrigo Janot, que encaminhou as investigações ao STF. Já Sérgio Guerra, que presidiu o partido, foi citado pelo delator Paulo Roberto Costa, mas acabou morrendo poucos dias depois da operação ser deflagrada. Em 2019, o ex-governador do Paraná Beto Richa, chegou a ser preso na Operação Integração, deflagrada como desdobramento da Lava Jato. Como fica muito claro, ao contrário do falatório, o PSDB não foi protegido. Alias, está entre os quatro partidos com maior número de investigados pela operação.

A Lava Jato não se resume ao grupo que trabalha no Paraná. Ela tem núcleos em outros estados, como o Rio de Janeiro e São Paulo, além da própria Procuradoria-Geral da República atuando em nível federal. Por fim, é bom lembrar que não é o juiz que escolhe os réus. O trabalho de Moro não era dizer quem ia ser investigado ou não, mas de julgar.

A Lava Jato não poupou partido nenhum. Muito pelo contrário. Se há uma crítica cabível à operação é que ela contribuiu de forma fundamental para a demonização da política, exatamente porque alvejou a tudo e a todos, inclusive ultrapassando vários limites legais em diversas oportunidades.

As declarações de tipos como Gleisi Hoffmann, Paulo Pimenta, Henrique Fontana e Carla Zambelli constituem um lodaçal retórico que objetiva manipular a realidade. Em sua fraude narrativa produziram o bolsolulismo, uma simbiose hedionda do modus operandi sindical com o efeito de uma overdose de cloroquina.

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