Na ânsia de forçar a legitimação da eleição geral da Venezuela, cuja viabilidade continua incerta, Lula voltou a relativizar o regime ditatorial de seu amigo Nicolás Maduro. O presidente brasileiro quer um voto de confiança para um regime acusado pela comunidade internacional de não apenas fraudar resultados para permanecer no poder, mas também de perseguir sistematicamente os integrantes da oposição.
Figuras como Juan Guaidó, Leopoldo López, Henrique Caprilles e María Corina Machado são tratados como verdadeiros inimigos do Estado, tendo seus direitos políticos cassados por decisões arbitrárias de um sistema jurídico dominado desde a base pelo bolivarianismo. São líderes de um movimento exercido de forma quase clandestina, sempre sob a sombra da repressão brutal dos órgãos oficias e também das milícias, que agem de forma livre, mas com a anuência do Palácio de Miraflores.
Não há presunção de inocência possível para quem já é culpado na véspera.
Ao comentar a situação no país vizinho, Lula aproveitou para desdenhar dos opositores venezuelanos, inclusive fazendo uma observação inequivocamente misógina sobre Corina Machado. Comparou sua condição de inelegibilidade na eleição de 2018 com a dela em 2024. “Ao invés de ficar chorando, eu indiquei um outro candidato e disputou as eleições”. A fala é indecorosa tanto do ponto de vista moral quanto histórico.
O quão progressista é atacar uma mulher para defender um regime autoritário e essencialmente militar? Outros líderes latino-americanos insuspeitos de serem de esquerda já condenaram abertamente Maduro e o qualificaram como o que é: um ditador. É o caso de Gabriel Boric, presidente do Chile, e de Pepe Mujica, ex-presidente do Uruguai. Ambos têm uma visão mais arejada e ampla de democracia do que o colega brasileiro, que a deturpa em nome de seu viés ideológico.
Em sua conta no X, Corina Marchado deu uma contundente resposta a Lula. “O senhor está validando os atropelos de um autocrata que viola a Constituição e o Acordo de Barbados, que o senhor diz apoiar”. O petista tenta posar de ator isento na costura de um acordo para a realização da eleição na Venezuela, mas o teor de suas falas ressalta o laço político histórico que possui com Maduro, bem como a simpatia pessoal que nutre por ele. Uma posição que enfraquece o Brasil como líder regional.
A repressão política do regime bolivariano não para de ganhar força. Segundo a ONG humanitária Provea, 36 líderes oposicionistas conhecidos foram presos desde o início de 2024. Maduro também determinou a expulsão dos membros do Comissionado das Nações Unidas para Direitos Humanos sob a alegação de que representaria interesses “colonialistas”. Esse é o país que Lula diz que receberá observadores internacionais para monitorar as votações.
Se ocorrer, a eleição presidencial venezuelana deve ser em 28 de julho, data de aniversário de ninguém menos que Hugo Chávez. A corrupção do processo já nasce sob o auspício do personalismo místico, com a ditadura segregando todas as alternativas e contando com o petista como fiador internacional. Não há presunção de inocência possível para quem já é culpado na véspera.
Inteligência americana pode ter colaborado com governo brasileiro em casos de censura no Brasil
Lula encontra brecha na catástrofe gaúcha e mira nas eleições de 2026
Barroso adota “política do pensamento” e reclama de liberdade de expressão na internet
Paulo Pimenta: O Salvador Apolítico das Enchentes no RS
Deixe sua opinião