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Se analisados de forma individual e, ainda mais, comparados às manifestações do dia 7 de setembro, é fácil dizer que os atos do dia 12, contra Jair Bolsonaro, foram menores e reuniram bem menos gente. Basta colar fotos dos mesmos espaços públicos nas duas datas para constatar isso. Foi o que os aliados do presidente fizeram.

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O objetivo foi desmoralizar, rebaixar e sentenciar como fracassada a mobilização oposicionista. Na mesma linha também atuou a esquerda petista e seus esbirros no jornalismo. Para os dois grupos, o melhor é não haver cenário para uma terceira via, ainda que, considerando o teor e a mensagem, o que se tenha visto nas ruas no final de semana foi a defesa do processo de impeachment, muito mais que um discurso eleitoral a beneficiar especificamente qualquer nome ali presente que pleiteie a presidência em 2022.

Uma vez considerado o contexto, entretanto, as coisas mudam de figura. Apesar do conjunto considerável de pessoas que reuniram em Brasília, Rio de Janeiro e, principalmente, São Paulo, os bolsonaristas sabem que fracassaram de forma rotunda.

O 7 de setembro que eles armaram foi a culminância de um movimento de meses que propunha uma ação de Bolsonaro contra seus supostos inimigos. Muitos ali, e o presidente fazia questão de prestigia-los com a retórica furibunda e insubordinada, queriam pura e simplesmente uma quartelada. Uma tomada da Bastilha com base na leitura desvirtuada do Artigo 142 da Constituição.

Quando o dia seguinte chegou e nada aconteceu, até porque jamais haveria ou haverá espaço institucional para tanto, a frustração caiu sobre os revolucionários do zap profundo. Houve até um muxoxo de indignação contra a falta de atitude do presidente, devidamente contornado quando a narrativa reencontrou seu fio.

O que se constatou, apesar de todo o som e de toda a fúria, é que os mercados não reagiram bem, que o STF não se vergou, que a expectativa de amotinamento de forças de segurança não se cumpriu, e que poderia se perder o controle sobre os mais fanáticos entre os fanáticos, prontos para iniciar um locaute nas estradas do país ao arrepio das pretensões do Planalto.

Restou a Bolsonaro conceder ante a realidade, apelando a um ex-presidente com enorme trânsito político. Sua carta à nação foi também o obituário de qualquer pretensão disruptiva. 48 horas depois, a apoteose do dia 7 desvaneceu melancolicamente num texto soprado pela boca de Michel Temer, figura que, como nenhuma outra, personifica o establishment que o bolsonarismo diz combater.

Eis que chegamos ao dia 12. A manifestação puxada pelo MBL e outros grupos liberais e de centro-direita mudou sua configuração, que era contra Bolsonaro e também Lula, para albergar parte da esquerda. O objetivo passava ser a destituição do presidente. Concertação essa que envolvia uma mecânica política entre atores que jamais dialogaram. Foram para o mesmo palco figuras diversas como João Amoedo e Ciro Gomes, Kim Kataguiri e Orlando Silva.

A bandeira do partido Novo tremulando ao lado da bandeira da Força Sindical. Antagônicos reunidos de última hora num esforço para unificação de pautas e criação de uma frente ampla e, de fundo, uma candidatura alternativa.

Era improvável, e isso ficou evidente, que se reunisse nessa manifestação contra Bolsonaro um público suficiente de modo a fazer frente ante o que compareceu no dia 7. A diferença substancial aqui é que se tem não o fim, mas o início de um processo.

De modo que é possível dizer, e isso poderá irritar a muitos, que mesmo com um número aparentemente irrisório, o movimento que surge do 12 ainda poderá alcançar o êxito que a exultação bolsonarista não conseguiu no seu apogeu. Mas isso dependerá exclusivamente de como os seus protagonistas se portarão nos próximos meses.

Resta a quem busca o impeachment de Bolsonaro azeitar o discurso e, por óbvio, voltar às ruas. A mobilização pela queda de Dilma Rousseff, afinal, começou com um grupelho de algumas dezenas de pessoas reunidas no MASP ainda em 2014.

Na época, como agora, também foram alvo do menoscabo e do desprezo de quem se julgava inexorável do poder. O caminho é árduo. Não se sabe se haverá impeachment. Se sabe, entretanto, que não haverá golpe.

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