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Essa semana foi pródiga em demonstrar como o assaque ao Estado Democrático e de Direito é altamente prejudicial para o capitalismo brasileiro. No dia seguinte ao 7 de setembro bolsonarista, a bolsa de valores caiu e o dólar subiu. Consequência direta da instabilidade criada pelo presidente, que, participando de atos em Brasília e São Paulo, chantageou o STF com ameaças, anunciou a convocação do Conselho da República e se declarou insubordinado a decisões da Justiça. Uma postura que é inédita para um chefe de Executivo. Nenhum investidor está interessado em colocar seu dinheiro em país que seja liderado por um arruaceiro institucional disposto a esgarçar o tecido social e político.

Bolsonaro e seus próceres criaram um clima de levante junto a sua militância. A retórica usada por eles desenhava um cenário de batalha final, a ser travada nas ruas do país na data da independência. Foram meses de estímulo retórico de maneira a juntar massa crítica e dar uma demonstração de força capaz de emparedar os supostos inimigos. A presença considerável de pessoas, entretanto, ficou muito abaixo do que se imaginava. Afinal, não era um ato qualquer, e sim a revolta definitiva do povo contra o “sistema”, seja lá o que isso signifique. O que se viu, entretanto, foi uma franja da sociedade, e apenas isso. Ao invés de ganhar musculatura, Bolsonaro ficou ainda mais isolado e frágil ante um processo de impeachment. E isso restou evidente quando nada aconteceu. E nem poderia ser diferente.

Ocorre que muitos dos que se fizeram presentes nas manifestações acreditavam piamente que viabilizavam uma revolução a ser conduzida pela invocação do Artigo 142 da Constituição. Queriam que Bolsonaro sacasse o dispositivo do coldre e o usasse para colocar o STF nos eixos, fazendo com que os militares destituíssem os magistrados. É por isso que, na véspera do dia 7, grupos de militantes em Brasília forçavam o acesso à área em que fica a sede da Corte. Circularam vídeos de meganhas perfilados com boinas vermelhas a prometer “sangue, suor e lágrimas” até a "vitória" final.

Na esteira da inação do líder, vieram atos protagonizados por bolsonaristas dispostos a agir por ele. Da capital federal começou um movimento de paralisação dos caminhoneiros. Eram incitados por Zé Trovão, agitador procurado pela Justiça. “Temos que agir agora. Cadê o povo brasileiro? Vamos invadir Brasília. Precisamos de todo o povo em Brasília. Ao mesmo tempo, precisamos de todo o povo das cidades nas rodovias. Vamos trancar as rodovias”, disse em um dos muitos vídeos que fez circular. Em pouco tempo, várias vias do país foram bloqueadas, inclusive na esplanada dos ministérios, onde um grupo se recusava a deixar o local mesmo com a presença da polícia.

Diante do descontrole de parte importante de sua militância, o governo buscou agir. O prejuízo político e econômico de uma paralisação generalizada liquidaria o esforço de retomada da produção, lançando os índices de inflação a patamares ainda mais elevados. A conta seria debitada na já esquálida popularidade de Bolsonaro. Em tom pidão, o presidente tentou desmobilizar os fechamentos. Não foi imediatamente atendido. Teve de apelar ao ex-presidente Michel Temer, que foi até a capital federal para aconselhar o atual mandatário perdido em meio ao radicalismo que semeou desde que chegou ao Planalto.

A prometida revolução bolsonarista iniciada no 7 de setembro se esfacelou em menos de 48 horas na forma de uma carta à nação em que o presidente recuou de sua beligerância desdizendo tudo o que havia vociferado anteriormente, inclusive com direito a rapapés humilhantes para Alexandre de Moraes. Tudo para ganhar algum fôlego e se manter no cargo. Devidamente usados, Zé Trovão e o pessoal que dormiu com a cara no asfalto acreditando numa intervenção militar foram esquecidos na boleia do caminhão.

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