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Vivemos tempos de incivilidade e barbárie. Tempos em que bons propósitos acabam instrumentalizados por criminosos mascarados e radicais interessados em promover tumultos e desordem contra o sistema econômico a quem atribuem todos os problemas humanos.

O exemplo mais recente desse modus operandi foi o caso de George Floyd, o homem negro que foi morto em uma abordagem policial nos EUA.

Por óbvio, tratou-se de um homicídio com motivação racial, e a reação popular seria proporcional à gravidade do caso não tivesse tudo descambado para uma onda de violência premeditada que se espalhou pelo mundo. Sim, premeditada.

Grupos políticos usaram o assassinato de Floyd para cometer uma série infindável de crimes, incluindo vandalismo, depredações e outras muitas mortes.

Já em 2016, Paulo Cruz, colega de Gazeta do Povo, apontava para o perigo da influência de movimentos como Black Lives Metter assinalando que a esquerda identitária “se apossou de causas legítimas – direitos civis, sufrágio feminino etc. – misturou às suas teses revolucionárias (...) e formou uma sociedade de revoltados cujas demandas não precisam ser solucionadas, pois a revolta constante é o que importa”.

Muitos dos que foram às ruas nos EUA e na Inglaterra para praticar depredação contra patrimônio público e privado não eram negros e nem tinham qualquer outro objetivo que não aproveitar o momento de enorme comoção com o assassinato de Floyd para por em prática o ódio anticapitalista que fora sedimentado em suas mentes. Idiotas úteis compelidos por uma retórica atrativa de igualitarismo.

Hoje, o antirracismo, uma das temáticas mais importantes e sensíveis em voga, virou, em boa medida, ferramenta de uma agenda que não tem como objetivo real combater a discriminação existente. Os movimentos negros radicalizados, alias, ajudam a impedir a solução do problema ao difundir parâmetros de conduta que são profundamente entrelaçados com determinadas visões de mundo.

Quando se trata de racismo, por exemplo, o negro só é visto como tal se assumir uma postura pré-definida. É preciso que ele acredite em racismo estrutural e defenda medidas de reparação históricas. E ai do negro que não se enquadrar nessa caixinha. Será atacado até por quem não é negro. O caso do vereador Fernando Holiday é emblemático. Negro, liberal e crítico de medidas afirmativas, já foi chamado de “capitão do mato” por Ciro Gomes.

Glória Maria e o racismo

Nessa semana foi a vez da jornalista Glória Maria se tornar alvo daqueles que acreditam que negros não podem ter diversidade de pensamento. Em entrevista para Joice Pascowitch, ela criticou o politicamente correto e suas consequências no cotidiano. “Eu acho tudo isso um saco. Hoje tudo é racismo, preconceito e assédio”, disse. Foi suficiente para ser condenada nas redes sociais. Levou um pito até mesmo de Sônia Abraão, apresentadora branca de um programa de fofocas.

A espetacularização do que respondeu Glória Maria é relativa ao clima de imposição de pensamento que tangencia o debate público sobre o tema. A jornalista não negou a existência do racismo, apenas apontou para generalizações tacanhas que enfraquecem a discussão séria. Não, nem tudo é racismo, nem tudo é preconceito e nem tudo é assedio, como alguns tentam fazer acreditar.

Se Gloria Maria tivesse negado a existência do racismo não teria dito no passado que foi vítima dele. Em participação no Globo Repórter, narrou a vez que foi barrada em um hotel: “Eu fui barrada em um hotel por um gerente que disse que negro não podia entrar, chamei a polícia, e levei esse gerente do hotel aos tribunais”.

Glória Maria ainda lembrou que foi a primeira pessoa a usar a Lei Afonso Arinos : "Racismo é uma coisa que eu conheço, que eu vivi, desde sempre. E a gente vai aprendendo a se defender da maneira que pode. Eu tenho orgulho de ter sido a primeira pessoa no Brasil a usar a Lei Afonso Arinos”.

Na certa, nem Sônia Abraão e nem os lacradores de menor estatura na internet se incomodaram em lembrar essas falas de Glória Maria. Preferiram coloca-la no pau de arara ideológico, repreendendo-a por ignorar os dramas de sua própria gente. Como se esse policiamento moral tivesse algum aspecto pedagógico. Pode haver coisa mais grotesca do que pretender ensinar um negro a ser negro ou a enxergar sua própria realidade?

O caso de Glória Maria é ilustrativo dessa verdadeira apropriação indébita das demandas sociais, que deixam de ser protagonizadas por indivíduos livres, umas vez que reimaginadas à luz de teorias das mais enviesadas. De maneira que o combate ao preconceito passa a ser exercido a partir da imposição de uma narrativa que se aplica até mesmo para aqueles que pertencem aos grupos que supostamente se busca proteger.

Conteúdo editado por:Rodrigo Fernandes
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