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Juliana Paes em vídeo desabafo no Instagram
Juliana Paes em vídeo desabafo no Instagram| Foto: Reprodução

Parideira do “nós contra eles”, a esquerda progressista colocou as barbas de molho desde o início do governo Bolsonaro, apostando que a delinquência política do atual presidente obnubilasse o passado de raiva e segregação ideológica que caracterizou sua postura no debate público ao longo dos anos e que resultou na polarização do Brasil. De repente viraram democratas civilizados, defensores da liberdade de expressão e ciosos para com as instituições que ajudaram a depredar passando pano para a farra corruptiva do lulopetismo. Nada mais falso e fingido. E é aí que entra a polêmica envolvendo as manifestações de Jualiana Paes.

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Chamada de “bolsominion” por criticar o tratamento dispensado a Nise Yamagushi na CPI da Covid, a atriz divulgou um vídeo em que afirmava não concordar nem com as “ideias arrogantes da extrema-direita” e nem com os “delírios comunistas da extrema-esquerda”. “Eu estou num ambiente em que não me sinto representada por ninguém”, completou, apontando que “milhões de brasileiros” teriam a mesma posição que ela.

Foi o que bastou para que parte de seus colegas (a pseudointelectualidade artística bem-comportada e politicamente correta) movesse contra ela uma cruzada persecutória. Recebeu mensagens ora com adjetivações, ora com lições de moral. Letícia Sabatella, famosa por seu ativismo de esquerda, chegou ao ponto de querer ensinar a colega, apostando naquele tom de superioridade moral típica dos boçais incorrigíveis. “Um dia a gente pode conversar com calma, te mostraria que, através de muitas fakenews disseminadas para acreditarmos que o Brasil corre o risco de virar uma ditadura comunista”, escreveu com a erudição peculiar de quem vive no claustro estudando literatura marxista. Juliana Paes pode entender patavinas de comunismo, mas e Letícia Sabatella? O que ela sabe?

O policiamento do pensamento alheio discordante é típico da “intolerância dos tolerantes”, expressão cunhada pelo teólogo Donald Arthur Carson para caracterizar aqueles que ignoram as deficiências de suas ideias, mas que se acham detentores do monopólio da superioridade moral. Carson aponta como a definição de tolerância foi sendo paulatinamente modificada ao longo do tempo, tornando-se expressão do seu inverso. É sob o prisma dessa ressignificação que se dá a tentativa de assédio intelectual contra a atriz, e, em amplitude maior, contra a própria sociedade.

E por acaso Juliana Paes está errada? Apesar das pesquisas de intenção de voto indicarem Lula e Bolsonaro na frente, também mostram um contingente enorme de eleitores que não sabem em quem votar. Segundo a última pesquisa Exame/Idea, 46% dos entrevistados estariam nessa situação além de outros 7% que declararam voto branco ou nulo. Outro indicativo desse sentimento é o próprio post da atriz, que teve quase um milhão de curtidas até aqui.

Tanto o bolsonarismo quanto o lulopetismo estão arreganhando os dentes para quem ousar não se conformar com a imposição de suas visões de mundo como únicas alternativas para o país. Ao mesmo tempo em que se apresentam como opostos absolutos, convenientemente se abraçam de forma insana com o objetivo de estabelecer suas hegemonias políticas. Ao asfixiar qualquer traço de plularismo, buscam a consolidação de seus respectivos imperativos categóricos.

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