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Foi o político e diplomata Charles Maurice de Talleyrand quem melhor descreveu a conduta da família Bourbon: “Não aprenderam nada, nem esqueceram nada”. Se referia aos erros e escolhas que os monarcas franceses cometeram no passado, antes de sua deposição, e que voltaram a praticar imediatamente após serem reinvestidos no poder. Amplamente utilizada ao longo da história para outros personagens e ocasiões, serve como uma luva também para Lula e o PT. A postura do ex-presidente e de seu partido em relação a Cuba e as recentes manifestações ocorridas no país é reveladora de uma tara pelo arbítrio de esquerda que jamais foi perdida, apesar da tentativa de se aproveitarem da delinquência política do bolsonarismo para se reapresentarem como defensores da liberdade e da democracia.

Em entrevista para a Rádio Bandeirantes, Lula fez questão de diminuir a importância do ato público com participação massiva da sociedade cubana. Reduziu tudo a uma mera “passeata” que teria contado inclusive com a participação do “presidente”. Tentou comparar o contexto desse protesto com outros que são comuns em países livres. “Eu cansei de ver faixa aqui: fora Lula, xinga a Dilma, xinga o PT. Eu cansei de ver faixa. Eu cansei de ver faixa: fora Bolsonaro, fora Collor, fora FHC. Isso tem em todo o mundo”. Trata-se de uma mentira. Não tem em todo o mundo. Em Cuba não tinha até poucos dias atrás. Esse movimento é inédito em décadas. E não está a se tratar de uma democracia, onde as pessoas se sentem seguras para expressar seu descontentamento, e sim de um regime de exceção, no qual as forças oficiais do regime prendem de forma arbitrária ao menor sinal de crítica.

Lula chegou ao ponto de tentar relativizar a violência da ditadura cubana. “Agora, você não viu nenhum soldado ajoelhado no pescoço de um negro matando ele”, disse, fazendo referência ao caso George Floyd, nos EUA. Mas, ao contrário do que diz, as imagens que circulam das manifestações mostram meganhas infiltrados entre os civis agindo de forma truculenta, para dizer o mínimo.

Com seus erros e acertos, a democracia e o sistema jurídico americano, e também de outros países, atuam para mitigar as idiossincrasias, as injustiças e os crimes, inclusive aqueles perpetrados por agentes de Estado. O policial que matou Floyd foi preso. E em Cuba, com suas prisões políticas? Há integrantes das forças militares presos por excesso de violência? Pode alguém preso recorrer a advogado, como fez Lula quando investido pela Lava Jato? Há uma Suprema Corte que conceda Habeas Corpus, como teve Lula quando preso pela Lava Jato? Que direito possuem aqueles mantidos em calabouços, aqueles enterrados anonimamente após fuzilamento sumário ou os que precisaram fugir para buscar melhores condições de vida? As comparações despropositadas feitas pelo líder do PT dizem menos sobre Cuba e mais sobre sua própria moral. Estamos diante de alguém que, ao contrário do que diz e propala, não gosta e não compreende o que é o Estado Democrático e de Direito.

A pobreza em Cuba é resultante de um conjunto de fatores, todos eles intimamente ligados ao modelo econômico e político imposto pelos comunistas que estão no poder desde a metade do século passado. Por certo, o embargo americano (mais uma sinalização do que qualquer coisa), é anacrônico e contraproducente. Dá, inclusive, argumentos de verossimilhança para que o regime possa se vitimizar ante a comunidade global. Mas atribuir a ele a razão da decadência social do país é má-fé pautada pela propaganda do governo de Havana.

Tentando contornar a crise interna, o ditador Miguel Díaz Canel, tratado irresponsavelmente por parte da imprensa como “presidente”, deu a letra: os atos seriam contra o “bloqueio americano”, não contra o comunismo. Lula, o PT e outros grupos e líderes de extrema-esquerda trataram de dar curso a essa narrativa, reforçando o coro antiamericano. Nenhuma palavra de censura à natureza do governo, nenhuma palavra sobre censura, nenhuma palavra sobre violações de direitos humanos.

Os simpatizantes brasileiros da ditadura cubana tentam se apresentar como ferrenhos legalistas, militantes diligentes da liberdade de expressão e da alternância de poder. É um carapaça política que será utilizada eleitoralmente em 2022. A situação em Cuba e a grita em favor do Estado de Exceção companheiro escancaram o que são de verdade: gado do Fidel Castro

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