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O lulopetismo perdeu força nas ruas. Não é de hoje. As jornadas de junho de 2013 tiveram seu ápice quando o alcance daquelas manifestações desbordou dos movimentos sociais esquerdistas. Muita gente sem vínculos partidários saiu para protestar, ainda que sem saber exatamente a razão. A partir de 2014 o foco da insatisfação, até então genérica, se voltou para o governo Dilma Rousseff, responsável pela maior debacle econômica do país até o advento da pandemia. Em 2016 o PT foi apeado do poder com a sustentação de milhões de pessoas defendendo o impeachment. Em todo esse tempo, a capacidade de mobilização do partido e de seus satélites foi refreando paulatinamente. E, ao que tudo indica, jamais voltará a ser o que foi um dia.

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Mesmo considerando esse contexto, havia, ainda assim, expectativa em relação aos atos convocados pelas esquerdas para o último dia 2 de outubro. Eles serviriam, afinal, para dar uma resposta consistente a Jair Bolsonaro e seus apoiadores. O objetivo era reunir um público maior do que aquele registrado no 7 de setembro. Mas, mesmo com toda a força das Centrais Sindicais, passou longe. Sim, o protesto realizado na Avenida Paulista juntou bastante gente, mas bem menos do que o arregimentado pelos governistas, e talvez menos do que projetavam os petistas.

Apesar do teor antibolsonarista, é importante ressaltar que se tratou de uma manifestação essencialmente eleitoral em favor do projeto político liderado por Lula. Não havia ali qualquer intenção de viabilizar uma frente ampla contra Bolsonaro ou em prol de seu afastamento do cargo. Não é esse o cálculo que faz o líder petista, que precisa do atual presidente no poder para continuar capitalizando como alternativa. Não por acaso, Ciro Gomes, que também tem pretensão presidencial, foi recebido com vaias, urros e pedaços de pau (literalmente). O que faz pensar qual tratamento seria dispensado a tucanos, novistas ou integrantes de movimentos de centro-direita que se fizessem presentes ali.

Nas semanas anteriores, o lulopetismo havia se empenhado em boicotar a manifestação do dia 12 de setembro, convocada pelo MBL e pelo Vem Pra Rua. Não apenas a esnobando, mesmo depois da mudança de foco proposta pelos organizadores, mas também atuando em conjunto com os bolsonaristas para desmoralizar seus líderes. Esbirros do PT em setores da imprensa e no submundo dos blogs foram ativados inclusive para fazer circular denúncias criminosas contra Renan Santos, coordenador do MBL.

O lulopetismo tem natureza hegemônica. Foi assim quando era governo, é assim fora dele. E é por tentar impor sua agenda que inviabiliza o surgimento de uma aliança pluripartidária e pluri-ideológica contra quem está no poder. Não basta apenas ser contra o governo, é preciso beijar a mão de Lula. Ocorre que o PT já não tem o substrato social de outrora para tanto, e isso ficou nítido.

Talvez antecipando o resultado insatisfatório da mobilização, Lula preferiu se ausentar. Assim não precisou dar justificativas sobre o público aquém do esperado. O lulpetismo queria descredenciar outros atores do jogo político de forma a monopolizar a oposição a Bolsonaro. O resultado de sua manifestação, nesse particular, foi um completo fracasso.

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