• Carregando...

Na última quarta-feira (13), Manaus registrou o seu maior número de enterros em 24 horas: 198. A média na cidade se elevou em 90% entre o fim de dezembro e o início de janeiro, sendo a maior parte deles causados pela covid-19. A situação é tão grave que serão instaladas de novo câmaras frigoríficas no cemitério Nossa Senhora Aparecida. De 1° a 12° de janeiro, foram registradas 2.221 internações pela doença. O sistema de saúde entrou em colapso e agora falta até o básico para os pacientes: oxigênio.

Um dia antes do recorde de velórios na capital amazonense, Jair Bolsonaro resolveu comentar o índice de eficácia da Coronavac. Falando com apoiadores na entrada do Palácio da Alvorada, questionou com um sorriso irônico no rosto: “Essa de 50% é uma boa?”.

Ao longo da semana, militantes bolsonaristas, inclusive alguns com cargos importantes, se dedicaram a desacreditar os resultados da vacina do Instituto Butantan. Ao invés do governante e seus apoiadores combaterem o vírus, atacam a imunização. É uma situação sem paralelo no mundo, incluindo países governados por tiranias e teocracias.

A Coronavac vem sendo alvo de uma verdadeira campanha difamatória que tem no presidente o seu maior agente. Ele chegou a dizer que não a compraria, contrariando seu ministro da Saúde. Bolsonaro também atribuiu a ela a morte de um voluntário durante o período de testagem. Agora faz coro com quem tenta a desmoralizar, atribuindo os 50,4% de eficácia como insuficientes, mesmo a vacina estando dentro de todos os parâmetros de uso nacionais e internacionais.

Os negacionistas e conspiracionistas instados pelo Palácio do Planalto foram beneficiados pelas trapalhadas promovidas pelo governador João Doria, que fez da comunicação dos resultados um enorme conflito de números. Primeiro divulgou dados secundários para depois divulgar o número principal de eficácia. No conjunto de coletivas as dúvidas se multiplicaram, e não poderia ser diferente.

Como se trata de um tema delicado e de alta complexidade, o fato de a percepção popular ter ficado turva em relação ao que estava sendo exposto transformou-se em um flanco para ação dos obscurantistas, ávidos em promover o medo. Houve até quem comparasse o índice de eficácia com um jogo de cara ou coroa, como se a vacinação coletiva funcionasse assim. O próprio noticiário se encarrou de facilitar a vida da súcia, deixando em segundo plano o fato de a Coronavac ser uma vacina segura e que tem capacidade de diminuir significativamente infecções e internações, além de salvar vidas.

A vacina do Butantan reduz em 50% a chance de você pegar covid, e 78% a chance de seu caso requerer assistência médica. É, portanto, fundamental para enfrentar o problema que vivenciamos nesse exato momento: aumento vertiginoso de casos, internações e óbitos. Só a irracionalidade dominante e a maledicência premeditada podem tratar com menoscabo um resultado tão positivo quanto esse.

Todo o esforço do governo federal deveria ser no sentido de viabilizar de uma vez a imunização. Ela, afinal, é o único remédio para a economia e para a saúde. Mas o que vemos é a incapacidade até na compra de seringas. Em ofício encaminhado ao Supremo Tribunal Federal, o Ministério da Saúde admite não ter estoque disponível de seringas e agulhas para iniciar a campanha. Oito estados não teriam nem paras doses iniciais. O que fez Bolsonaro nesse sentido? Mandou suspender a compra desses insumos alegando preço alto. Com isso se tem a exata medida de como ele precifica as vidas humanas.

Enquanto mais de 50 países iniciaram a imunização, brasileiros morrem asfixiados nos corredores de hospitais. Bolsonaro despachou o General Pazuello com o objetivo de resolver a situação no Norte pressionando prefeitos para que distribuam cloroquina e outros remédios inúteis do tal kit covid. O governo do presidente que debocha de vacina tem como única política de combate à pandemia o curandeirismo charlatão.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]