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Deltan anuncia saída da Lava Jato em vídeo divulgado nas redes sociais.
Deltan anuncia saída da Lava Jato em vídeo divulgado nas redes sociais.| Foto:

Se havia alguma dúvida do enfraquecimento da Lava Jato, com o anúncio da saída de Deltan Dallagnol isso fica explícito. Até porque, mais do que seu coordenador, ele também tinha se tornado uma figura pública da operação. No vídeo postado em suas redes sociais, o procurador alega motivações de ordem familiar para se afastar. Mesmo assim, é impossível desconsiderar o contexto negativo em que se encontra a força-tarefa, que tem no horizonte a possibilidade se ser encerrada.

No próximo dia 10, o procurador-geral da República, Augusto Aras, decidirá pela continuidade ou não da Lava Jato. Ao contrário de seu antecessor, Rodrigo Janot, que estava alinhado com a operação, Aras deu declarações que motivaram o descontentamento de inúmeros integrantes do Ministério Público Federal.

Em uma live feita no último dia 28 de julho, afirmou que era “hora de corrigir os rumos para que o lavajatismo não perdure”. No Twitter, Roberson Pozzobon, também integrante da força-tarefa, reagiu questionando o processo de indicação de Aras, que foi escolhido por Bolsonaro fora da lista tríplice do MPF.

Além do clima de conflagração com o atual ocupante da PGR, Dallagnol foi alvo de ações movidas contra ele, inclusive no âmbito do Conselho Nacional do Ministério Público. A senadora Kátia Abreu é autora de um pedido de afastamento baseado em supostas irregularidades na conduta do procurador, incluindo acusações sobre palestras remuneradas, ações disciplinares e um acordo homologado pela operação envolvendo uma Fundação de natureza privada. Por sua vez, o ex-presidente Lula também acionou Dallagnol, dessa vez pelo famoso episódio do “powerpoint”.

Em ambos os casos, o então coordenador da Lava Jato obteve vitórias tímidas. A ação de autoria de Kátia Abreu foi tirada da pauta do CNMP por decisão do Ministro Celso de Mello, e a de Lula acabou arquivada por prescrição (o que soa como ironia cruel, ainda mais em se tratando de alguém que militou pelo fim da prescrição penal). Foi preservado no posto, mas com enorme desgaste. De acusador, Dallagnol passou a frequentar o banco dos réus. Posição que, não faz muito, seria impensável para ele.

Mas a situação não se tornou ruim apenas para Dallagnol. A Lava Jato como um todo tem sofrido reveses. A suspeição dos julgamentos de Sérgio Moro também foi suscitada, tornando-se mais forte a partir do vazamento de suas conversas com procuradores da força-tarefa. Na última semana, o STF decidiu anular uma sentença do ex-juiz no escândalo do Banestado. E, apesar de cada caso ser um caso, o fato é que isso representou um revés para sua imagem de magistrado imparcial da Lava Jato, tanto pelo critério jurídico quanto político.

Seja como for, sem Sérgio Moro como juiz responsável e sem Dallagnol como coordenador, a Lava Jato perde suas duas principais forças simbólicas. E num momento em que é amplamente contestada, inclusive sobre a validade e correção dos procedimentos que seus integrantes adotaram em muitas ocasiões.

Se arrastando para sobreviver e se fiando menos no direito e cada vez mais num hipotético apoio popular que conservaria, a operação caminha para seu ocaso. Pode até ser que acabe renovada por Aras, mas tudo indica que apenas para um epílogo apagado.

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