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Enquanto governantes procuram mocinhos e bandidos, vilões e heróis, justificativas e desculpas, a pandemia do coronavírus se alastra, atinge mais países, adoece mais pessoas, mata mais gente.

Além dos efeitos diretos, os colaterais: paralisação da atividade econômica e da cadeia produtiva, o que resultará em sofrimento a longo prazo. Não temos saída fácil.

Depois de chegar ao mundo ocidental, o estupor aos poucos vai se transformando numa espécie de cinismo agitado e utilitarista: sabemos que o vírus prefere velhos e doentes, mas poupa, em sua grande maioria, os mais jovens e saudáveis. Os produtivos.

Logo, é hora de voltar ao mercado e, se preciso, enterrar pais, tios e avós no abstrato caixão de uma curva estatística. A vida é assim: as doenças aparecem, os fracos perecem, enxuguemos as presumidas lágrimas, voltemos ao trabalho.

É evidente que compreendo o impasse. O mundo não pode se dar ao luxo de cessar fogo, baixar armas, fechar portas e suspender, por tempo indeterminado, suas atividades. Temos pela frente um cenário de empobrecimento, desemprego, falência e outras dores.

Entretanto, me assusta a pressa, a praticidade, a falta de rubor nas faces com que muitos têm atacado o problema.

Depois do impacto inicial, os mais jovens se beliscam e percebem que são fortes e quase imunes ao vírus. Em consequência, os idosos se convertem em variáveis numa equação que, custe o que custar, precisa nos favorecer.

Não temos paciência nenhuma para o sofrimento.

Muitos de nossos pais, certamente nossos avós, enfrentaram guerras mundiais, crises financeiras, ditaduras. Perderam filhos, dentes, bens. Conheceram a fome, a doença, o exílio. Tiveram pela frente o cenário de empobrecimento, desemprego, falência e dores que tanto nos apavora. Viveram uma vida toda sem grandes esperanças e, sobretudo, resistiram.

Resistiram para que não tivéssemos que resistir, pudéssemos estudar em Chicago e soubéssemos contabilizar, com a urgência do nosso pragmatismo, com a indiferença do nosso cálculo, com a volatilidade do nosso afeto, o número esperado e razoável de baixas num pelotão de “velhinhos” que, digamos logo a verdade, já estão nos acréscimos do 2º tempo.

Viraram bucha de canhão, porque nós temos de voltar ao clube de tênis o mais rápido possível.

Nada pessoal, just business.

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