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Depois de anos e anos de PT enchendo manchetes com suas peripécias políticas e policiais, o sucessor Jair Bolsonaro parece ter plena convicção de que pode, a seu modo, deixar a sua marca. Nas últimas semanas, tentei contornar o incontornável presidente; em vão. Lá estava ele, dia após dia, hora após hora, invadindo o ecrã com a vontade de um Genghis Khan, desacreditando dados científicos, dissertando sobre cocô, índios e família, afrontando jornalistas, fazendo piada com a sexualidade alheia, ironizando assassinatos da ditadura, ironizando a própria ditadura, homenageando torturadores, colocando em xeque a credibilidade de ministros, dispensando dinheiro alemão.

Se tudo não passasse de bravata, até que não haveria com o quê se preocupar; todo país tem o alienista que merece. O detalhezinho é que o fenômeno ganha força entre militantes mais exaltados, que aos poucos naturalizam o que não é – não deveria ser – natural de maneira nenhuma. Num intervalo de poucas semanas, Miriam Leitão foi tida como persona non grata numa feira literária; Rachel Sheherazade foi congelada no SBT; Guilherme Boulos foi impedido de falar em universidade; torcedor corintiano foi detido num estádio por fazer o que estádios inteiros fizeram (e muito bem, pro meu gosto) com Dilma Rousseff.

Tanto faz o que eu penso, o que nós pensamos, sobre Miriam Leitão, Rachel Sheherazade, Guilherme Boulos, torcedores corintianos ou Dilma Rousseff. Tanto faz o que pensa (pensa?) o dono das lojas Havan, com aquela cara de vilão de história em quadrinhos que ele tem. O que importa é o inegável, e cada vez mais acintoso, tom de revanchismo do governo eleito. Como se a ascensão ao poder significasse o direito de se vingar de todos aqueles que desconfiam das suas (alegadas) boas intenções. Como se o crescimento econômico justificasse o déficit político, republicano e democrático que parece vir embutido e, a longo prazo, é tão ou mais importante que a variação dos números da taxa Selic.

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