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por Nicolau Olivieri

Em 21 de dezembro de 1978, Jay Prochnow decolou seu pequeno Cessna de Pago-Pago, no Oceano Pacífico, para pousar nas Ilhas Norfolk. Tudo ia bem até que uma pane no sistema de navegação o deixou completamente perdido no meio do grande oceano, sem qualquer indício de onde poderia estar.

Acabaria morrendo, caindo solitário, sem combustível, em algum lugar daquela imensidão; e se não morresse na queda, morreria afogado, devorado por tubarões, ou por águas vivas de aspecto lovecraftiano, não fosse pelo DC 10 da Air New Zealand, comandado por Gordon Vette, que ia de Fidji a Auckland, e recebeu a notícia, pelo rádio, da má sorte do Cessna de Jay Prochnow.

Gordon Vette conversou com a tripulação e com os muitos passageiros, desviou seu grande e lindo jato da rota original, e tratou de ajudar Jay, o que acabou de fato ocorrendo depois de quase 4 horas e inúmeras tentativas e fantásticas deduções matemáticas, geofísicas, aeronáuticas, euclidianas, e sei lá quais outras ciências estariam envolvidas nisso, cuja beleza só os aviadores e navegadores conseguem apreciar em sua plenitude.

Contudo, mesmo os não pilotos conseguem apreciar a beleza de você se esforçar para tentar salvar alguém cuja morte seria bastante provável, ainda que isso lhe custe bastante tempo; mesmo que você seja somente o passageiro da poltrona 31 A, louco para chegar em casa e assistir à semifinal de alguma violenta liga de rúgbi neozelandês (neozelandeses só jogam rúgbi, certo?); ou que a economia tenha sido bastante prejudicada, com todo aquele combustível e horas-voo do enorme e dispendioso trijato McDonnell Douglas DC 10. Ainda assim, com tudo isso, Gordon Vette, tripulação e passageiros fizeram o certo.

É tão imoral deixar Jay Prochnow perdido e aguardando sua morte, se você pode ajudar, quanto é imoral, e mesmo obsceno, discutir se o isolamento social e a quarentena valem à pena em razão do custo econômico e social.

Outro dia vi uma foto de um cartaz num prédio russo que dizia, obviamente em russo, algo mais ou menos assim: “Você tem a chance de salvar o mundo simplesmente ficando sentado no sofá de casa”.

Nicolau Olivieri é sócio na Leal Cotrim Jansen Advogados. Membro do Instituto de Advogados Brasileiros.

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