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Ok, não teremos guerra.

Pelo menos por enquanto. Dizem os especialistas – e acredito nos especialistas – que o Irã não tem esse poderio todo. Late mais do que enriquece urânio. Somente China e Rússia (será? Acho que sim) encarariam os americanos.

Que bom para o restante do mundo, que assiste a tudo sem ter muito o que fazer a respeito. Só rezar. Rezar baixinho, de preferência, que ninguém precisa chamar a atenção dos mais fortes da rua. Ou, no caso brasileiro, resta fazer memes. O meme é a Capela Sistina do brasileiro.

Mas, com guerra ou sem guerra, tenho minhas dúvidas sobre a conveniência dessa investida. Não parece fazer muito sentido, no contexto estratégico, já que a promessa de Trump era to make America great again e dar banana, minto, McDonald’s para o mundo. Em português: retirar o time de campo e acentuar o isolacionismo.

De repente, com um ataque desses, mexeu num vespeiro donde não saberá sair como pretendia. As vespas com certeza sairão.

Até segunda ordem, boa parte dos comentaristas e estudiosos de relações internacionais concordam no seguinte: Qasem Soleimani não era flor que se cheirasse, e seu desaparecimento não deveria ser morte que se chorasse; porém, e a política internacional é feita dum rosário de poréns, ele era oficial iraniano. Não exatamente um terrorista, no sentido forte que damos ao termo. Não era um pária, um apátrida, um mercenário, um suicida. Era membro do governo (a seu modo) legítimo dos persas. A população foi às ruas. O presidente foi ao Twitter.

Donald Trump foi ao Twitter e anunciou, em alto em bom som, ou melhor, em caixa alta, que se houvesse revide, o revide ao revide seria “desproporcional”, e os EUA bombardeariam tudo e mais um pouco, incluindo no tudo as instalações militares e no mais um pouco o patrimônio cultural do Irã. Aqui, sinto muito, Trump baixa o nível (que não é lá muito alto, convenhamos) e age como um irresponsável qualquer.

O que se espera da América é que seja, de fato e não apenas de direito, um país – uma ideia de país, embora inalcançável plenamente – em que a liberdade e os direitos humanos (e culturais) sejam levados a sério. Mais do que o ataque em si mesmo, as ameaças de Trump, com a típica arrogância do caneludo que é o dono da bola do mundo, fazem sombra aos ideais dos Fundadores.

É também sempre importante lembrar que em meio aos tiranos, burocratas e drones, deste ou daquele país, há gente de verdade que não têm nada que ver com a geopolítica de mentira. Numa guerra, declarada ou subentendida, os que sofrem não são os que a iniciam.

Não acredito, por óbvio, no pacifismo ingênuo de John Lennon e derivados. Tampouco defendo que tudo o que há de errado se resume à geopolítica ocidental a bagunçar o idílico coreto do mundo.

Guerras acontecem, conflitos surgem, terroristas existem, bombas explodem, ameaças são feitas e, portanto, organizar um pouquinho a violência, torná-la proporcional, circunscrevê-la e dar-lhe algum sentido são atitudes inescapáveis. Gostemos ou não.

Entretanto, torcer pelo conflito, provocá-lo, tratá-lo como inevitável, comemorá-lo como vitória ideológica, brincar de “meu país é melhor do que o seu”, atirar primeiro para justificar depois, ora, faça-me o favor, já deveríamos estar grandinhos pra isso.

2020 começou daquele jeito.

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