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Montagem
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Ora, vejam só: o Ministério Público Federal recomenda que Lula progrida do regime fechado ao semiaberto. Ele se comportou muito bem, obrigado, recebeu amigos, cumpriu 1/6 da pena e merece o benefício. Lei é lei, requisito é requisito. A defesa, ansiosa com a possibilidade de anulação da sentença, pondera sobre a melhor estratégia. Resumindo, quem é do “Lula livre!” não o quer livre, quem é do “Lula preso!” não o quer preso.

Consideradas todas as coisas, a ironia é que a situação carcerária mais branda de Lula, ou mesmo sua eventual soltura, podem até fazer bem ao capital político do presidente Jair Bolsonaro. Aqui entramos no terreno movediço da especulação e da futurologia, mas convenhamos: que risco o ex-presidente representa? Deixo de lado o merecimento das penas (e lembro que há outros processos em curso); penso nos efeitos práticos.

O petista tem a imagem desgastada e, à parte os 20% de mártires e mais uma porção de simpatizantes, sua militância parece ter minguado e perdido força de mobilização. O PT já não tem o mesmo appeal entre os da esquerda caviar, atraídos pela sombra da mangabeira de Ciro Gomes. O populismo de esquerda se moveu à direita, que sussurrou segredos de liquidificador ao eleitorado. Ainda que a rejeição ao Messias tenha crescido, nem por isso o desastre econômico dos governos petistas, somado à corrupção alastrante ao longo dos 14 anos, convida a um revival. Nunca dá muito certo voltar com o ex, como se sabe.

Lula livre, leve e solto por aí, tagarelando aos seus, bêbado de si mesmo, paternalista como um Thanos canhoto, pode servir ao recrudescimento do nós-contra-eles, que começou com o seu partido e atingiu o estado de arte no atual governo. Além disso, dividiria novamente a esquerda, atraindo para si as atenções hoje disputadas por coadjuvantes que sonham com protagonismo. Por essas e outras, ele seria o sparring ideológico de que Bolsonaro precisa, às voltas com as obscuras trapalhadas do 01, a crise de identidade do lavajatismo, a lenta recuperação econômica e a anemia de Sérgio Moro. Se é bom ter os amigos por perto, melhor é ter os inimigos ainda mais perto, dizia Lao Tsé.

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