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Josef Stalin (dir.) e representante do Império Alemão, Joachim von Ribbentrop, na assinatura do pacto em 23 de agosto de 1939
Josef Stalin (dir.) e representante do Império Alemão, Joachim von Ribbentrop, na assinatura do pacto em 23 de agosto de 1939| Foto:

O ex-jogador Raí declarou sua rejeição aos “valores repugnantes” de Jair Bolsonaro e grande elenco. Eu concordaria sem pestanejar com o saudoso futebolista, mas continuei a ler a entrevista. Então ele cita, com ares de novidade, o bordão do assassino Che Guevara, repórter de campo do autoritarismo latino.

Agora um bem-comportado burguês, o executivo do SPFC esclarece que não defende o comunismo, muito bem, mas um “novo humanismo democrático”, que é mais ou menos o que sempre defenderam os comunistas. No fim, sabemos do que se trata: mata com dureza, justifica com ternura.

Adiante. Tenho por hábito defender a ideia de liberdade de expressão e pensamento. Mesmo quando se trata de revisionismo histórico ou discurso de ódio, acredito que o melhor remédio contra os fungos da ideologia é a razão (entendida num sentido amplo e não restrito ao cientificismo de certos momentos).

Por esse motivo, talvez fosse possível discutir a medida do Parlamento Europeu que equipara o comunismo ao nazismo – e proíbe símbolos e expressões de ambos. É bom, é ruim, é indiferente, é proibido proibir? Expressão é apenas expressão, ora essa, ainda que detestável.

Entretanto, sejamos honestos: se a interdição da propaganda nazista é aceita e considerada legítima, e não estou disposto a defender o contrário, impedir a expressão do comunismo é tão legítimo quanto. Isso vale, sinto dizer, também para a existência de partidos que representem – diretamente, sem atenuações ou profundas reformas conceituais – as ideologias respectivas.

Nazismo e comunismo têm suas diferenças, é verdade, mas são muito semelhantes no principal: mataram milhões e milhões de pessoas (para além de pobreza, guerras, torturas, estupros, experiências genéticas, exílio e outras amenidades). Cada um, a seu modo, quis conquistar o mundo; apenas um deles conquistou os corações.

Ao contrário do que reza a lenda, a máquina de propaganda nazista não funcionava a contento. Sofria de obsolescência programada. Joseph Goebbels era ruim de serviço, não pensou a longo prazo e tudo acabou sendo tão graficamente escandaloso que o nazismo virou sinônimo de maldade antes mesmo da derrota.

Já o comunismo, não. Nem mesmo o conhecimento do Pacto Molotov-Ribbentrop foi suficiente (salvo as poucas exceções) para impressionar intelectuais e militantes que tinham a ideologia de extrema-esquerda por alternativa ao nazismo e à democracia liberal. Por que será?

Será porque a mensagem comunista tem um maior e mais explícito apelo à universalidade, enquanto o fascismo germânico excluía os demais interessados não-germânicos? Ou haveria, em tese, alguma sofisticação teórica na superstição marxista que, somada à oportunidade de poder, seduz os intelectuais? Só Deus sabe.

O que o diabo certamente sabe é que o comunismo foi uma indústria de matar gente ainda mais eficaz e duradoura que o próprio fascismo alemão, um verdadeiro fordismo do genocídio, o que faz com que sua defesa seja incompreensível do ponto de vista intelectual e moralmente indefensável.

Depois das experiências na União Soviética, no Leste Europeu, na China, no Camboja, em Cuba e noutros tantos desgraçados pontos do planeta, o comunismo não deveria mais ser estudado nos departamentos de filosofia política, mas nos de história. São pilhas de fatos e cadáveres que dispensam explicações, embora exijam registro e memória. Entre um totalitarismo e outro, por que não escolher a liberdade?

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